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Parlamento Europeu

Globo: ganhamos… ou não

Jornal da Família Marinho fica tão atordoado com vitória avassaladora da extrema direita que se contradiz

Entre os cacoetes mais conhecidos do compositor Caetano Veloso, está o de terminar as frases com um “ou não”, que serve para negar tudo o que dissera até então. A expressão caetanense, perfeita para os lero-leros, bem que poderia ser utilizada para resumir o artigo Centro resiste a avanço da ultradireita na eleição europeia, publicado pelo jornal O Globo. Melhor faria a Família Marinho se dissesse: “vencemos… ou não”.

O tema é as eleições no Parlamento Europeu. Mas o artigo, que se propõe a ser um editorial, gênero marcado pela argumentação e persuasão, caba sendo um amontoado de informações que mais confundem do que esclarece qualquer coisa. O texto diz que:

“Apesar do avanço da direita mais radical em vários países, como França, Itália e Alemanha, o novo Parlamento Europeu, que tomará posse em 16 de julho, manterá a maioria de deputados alinhados ao centro democrático.”

Isto é, a extrema direita (“direita mais radical”) venceu… ou não. Ou, a direita tradicional (“centro democrático”) venceu… ou não. É impossível tirar qualquer conclusão política desse tipo de afirmação. O texto, então, segue dizendo que “dados preliminares da eleição nos 27 países do bloco mostraram que a coalizão centrista que tem comandado o Legislativo da União Europeia (UE) permanecerá no controle no próximo mandato”, que “o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, não apenas manteve o posto de maior legenda, mas ganhou dez cadeiras, somando 186” e que “os principais derrotados das eleições deste ano foram os Verdes”. No entanto, quando finalmente o editorial parece ter se definido e considerado o “centro democrático” como vitorioso, ele diz que “é verdade, contudo, que partidos da ultradireita conquistaram terreno e chegaram perto de um quarto dos assentos, ante um quinto no pleito de 2019”.

A indecisão da Família Marinho pode ser facilmente compreendida. O jornal não consegue fazer uma avaliação das eleições europeias porque é parte interessada em um processo que foi profundamente negativo para ele. O tal “centro democrático” é o principal sustentáculo da dominação imperialista mundial. São os partidos que apoiam de maneira mais servil a política elaborada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), pela Organização das Nações Unidas (ONU), pela Casa Branca e por todo o “núcleo duro” do imperialismo. São os partidos que, neste momento, defendem a continuidade da guerra da Ucrânia, defendem os aumentos dos gastos militares, defendem a destruição de economias inteiras como forma de se contrapor à crise capitalista. Não há apenas um bloco que consista nesse “centro democrático”, mas, pelo menos, quatro: o PPE, a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), o Renovar Europa (RE) e os Verdes. Somando a votação de todo esse bloco, a perda foi muito considerável: foram 32 cadeiras perdidas, o que representa 4,4% do total de cadeiras.

Ao ignorar esse dado, O Globo já está sendo desonesto em seu malabarismo para tentar apresentar a situação como minimamente favorável. O jornal também ignora que o único bloco, entre o grande bloco imperialista, que ganhou cadeiras foi o bloco considerado de “centro direita”. Isto é, o bloco de partidos profundamente ligados ao imperialismo, mas que, ao mesmo tempo, abriga elementos de extrema direita. É o caso do Partido Popular, da Espanha, uma agremiação bastante direitista, da qual, inclusive, saíram os fundadores do principal partido de extrema direita no país, o Vox. É o caso do Partido Popular Austríaco, cujo líder, Sebastian Kurz, chamou o partido de extrema direita para formar uma coalizão em 2017.

O problema, no entanto, vai muito além de a extrema direita ter conquistado incríveis 25% das cadeiras do parlamento. Diz O Globo:

“Embora não tenham força para impor sua agenda, certamente influirão na pauta da discussão. […] O espaço conquistado pela ultradireita deve resultar em políticas mais restritivas à imigração na UE, antiga demanda do eleitorado. Mas é cedo para saber qual será o nível de coesão do bloco mais radical.”

O que o editorial ignora é que, ainda que a extrema direita, enquanto bloco, ainda seja apenas a quinta maior força do parlamento europeu, ela se tornou a força dominante em países centrais da dominação europeia. Na França, o Reagrupamento Nacional teve mais que o dobro do partido oficial do imperialismo. Na Itália, a extrema direita também foi a maior vencedora. Na Alemanha, a extrema direita ficou na frente do partido do atual primeiro-ministro. Some-se a isso o fato de que o Reino Unido já deixou a União Europeia e ficará claro que a coesão da dominação imperialista se espatifou. Os países que são responsáveis pela dominação dos demais estão todos sob uma rebelião contra a política oficial do imperialismo.

Nesse sentido, o problema é muito maior que “influenciar na pauta da discussão”. A extrema direita ameaça de fato chegar ao governo nos principais países da União Europeia. E, portanto, subverter a ordem estabelecida. Tanto é assim que, na França, Emmanuel Macron dissolveu o parlamento, diante do seu retumbante fracasso.

Também é ridículo dizer que o papel da extrema direita será influenciar nas políticas de imigração. A vitória de partidos como o Reagrupamento Nacional é, acima de tudo, uma derrota do conjunto de políticas criadas pelo “núcleo duro” do imperialismo no último período. Qualquer analista sério dirá, por exemplo, que a vitória da extrema direita deverá dificultar ainda mais a vida de Vladimir Zelenski, o presidente sem mandato da Ucrânia.

A maior distância do Brasil para a União Europeia dá à Família Marinho o conforto de poder esconder melhor a realidade no berço do capitalismo. No entanto, esconder a realidade não resolverá nenhum dos problemas que estão colocados. A derrota do “centro democrático” é a derrota da Rede Globo e de todas as instituições que respondem diretamente aos interesses do Departamento de Estado norte-americano. É preciso, no Brasil, aproveitar esse momento de fragilidade do imperialismo para seguir o exemplo do Hamas, do Irã e da Rússia, enfrentando os seus opressores.

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