Brasil

O conto de fadas dos ‘generais democráticos’

Uma das mais altas cúpulas do golpismo contra o povo brasileiro estaria dividida. Democráticos ou bolsonaristas, os generais garantiriam a lei e a legitimidade dos votos no País

Na última segunda-feira, 4 de março, o portal Brasil 247 publicou uma coluna do jornalista Alex Solnik, intitulada “Quem com general fere, com general será ferido”. Ainda sobre o caso de Bolsonaro, o autor apresenta uma tese curiosa sobre o funcionamento das Forças Armadas e a posição dos generais.

“Bolsonaro sempre gostou de brincar de comandante-em-chefe das Forças Armadas desde que assumiu o Palácio do Planalto. Mandar era com ele mesmo. Principalmente em colegas de patentes superiores à de capitão, com a qual saiu do Exército.”

Em primeiro lugar, um fato curioso. O jornalista, de posição que seria democrática, faz troça sobre a posição do presidente estar acima dos generais, visto que o presidente do Brasil é, oficialmente, o Comandante Supremo das Forças Armadas do País. Na sequência, dá a entender que o alto escalão do Exército, os generais, seriam simultaneamente castrados de poder, ocupando uma posição de submissão total à presidência, e bolsonaristas convictos:

“Colocou generais na sua copa e cozinha, – Braga Netto, Augusto Heleno, Luiz Eduardo Ramos – muito bem remunerados, como a dar um recado aos políticos: não mexam comigo, não venham querer me derrubar, que eu derrubo vocês antes.”

“Nem todos os generais foram submissos. Fernando Azevedo não aceitou sua interferência nas Forças Armadas. Caiu do ministério da Defesa, mas não se dobrou. Santos Cruz caiu da Secretaria de Governo por não ser tão radical quanto Carlos Bolsonaro e Olavo de Carvalho queriam.”

Estariam, ainda, os generais, divididos entre uma ala democrática e outra bolsonarista, e o problema do golpe militar estaria ligado ao caráter bolsonarista ou não dos próprios generais, uma submissão aos anseios do capitão ou uma independência:

“A maior ‘insubordinação’ ao seu comando deu-se na reunião de 5 de julho de 2022, na qual o comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, recusou aderir à virada de mesa proposta pelo suposto chefe. Motivo pelo qual foi xingado de ‘cagão’ pelo general Braga Netto. Mas ele não cedeu e o golpe subiu no telhado.”

“Agora, Freire Gomes se transformou na principal testemunha de acusação contra Bolsonaro, ao revelar, durante dez horas, à Polícia Federal, todos os detalhes sobre o que ocorreu entre a derrota de Bolsonaro nas urnas e sua viagem aos Estados Unidos na véspera da posse de Lula.”

Chegamos a um ponto sem precedentes no período após a ditadura militar de 1964, em que a esquerda reivindica uma ala democrática nas Forças Armadas, uma completa desorientação. O general Marco Antônio seria um democrata ao não se dobrar a Jair Bolsonaro. O golpismo no Brasil, finalmente, seria um aspecto do bolsonarismo apenas, não um fato estabelecido pelo imperialismo.

Assim, a participação dos generais no golpe de 2016, no achaque ao STF e na prisão de Lula para continuar a destruição nacional do governo Temer com a farsa eleitoral de 2018, que colocou Bolsonaro na presidência — antes que o capitão fosse presidente, e antes da disseminação total do bolsonarismo —, seria um fato estranho, fora de rota na história nacional. Conclui Solnik:

“Quem com general fere, com general será ferido.”

Antes de cairmos na tirada do articulista, e comemorarmos mais esta vitória da democracia no Brasil, seria importante colocar outra possibilidade para o desenvolvimento atual da situação política brasileira: as condições para um golpe estavam dadas? Após seis anos de destruição nacional com Temer e Bolsonaro, frente ao retorno da figura mais popular do País, Lula, à presidência, existia a possibilidade de um golpe sem que o mesmo gerasse uma convulsão social de escala imprevisível em todo o território nacional? E isso após um segundo turno em que o atual presidente mobilizou suas bases por todo o País, em destaque nos locais mais pobres?

Que uma parte do bolsonarismo seja descompensada a ponto de ignorar os fatos, é natural, mas os generais estariam dispostos ao mesmo risco? E os mesmos generais, bolsonaristas ou não, operam com total autonomia? São eles os que decidem, dão a palavra final sobre uma mudança de regime no País?

Vemos que, na realidade, entre feridos ou não, sai um setor da esquerda debilitado politicamente a ponto de reproduzir de maneira acrítica o que é propagandeado pela imprensa burguesa: um sonho cor de rosa de generais democráticos, soberania nacional e festa nas urnas.

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