O diretor de Política Monetária do Banco Central e próximo presidente da autoridade monetária do País Gabriel Galípolo, disse na última quinta-feira (19) não considerar “correto” dizer que existe um “ataque especulativo” contra o real. A consideração foi feita em coletiva de imprensa sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Disse Galípolo, na ocasião:
“Eu acho que não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, vamos dizer assim, como se fosse uma coisa só, que está coordenada, andando em um único sentido. Basta a gente entender que o mercado funciona, geralmente, com posições contrárias. Para existir um mercado, precisa existir alguém comprando e alguém vendendo. Então, toda vez que o preço de algum ativo se mobiliza em alguma direção, você tem vencedores e perdedores. Eu acho que a ideia de ataque especulativo enquanto algo coordenado não representa bem”.
Como bom serviçal dos banqueiros, Galípolo emulou o clássico personagem Rolando Lero, tergiversando sem limites para disfarçar o óbvio: a economia brasileira está sob ataque. Vejamos o que diz outro notório tenente do imperialismo, o ex-ministro da Fazenda do governo golpista de Michel Temer (MDB) Henrique Meirelles, também ex-presidente do BC no governo Lula. Ao órgão imperialista O Globo, na matéria ‘Não é um ataque especulativo’, diz Meirelles sobre os recordes sucessivos do dólar, em que diz:
“Não é um ataque especulativo. A questão não é essa. Se investidores internacionais e domésticos acreditam que o país não vai ter problema à frente, compram ativos brasileiros, entram mais dólares, e o câmbio cai.
Neste momento, os investidores estão preocupados com a questão fiscal. É a dificuldade que o pacote de corte de gastos está enfrentando no Congresso, com risco de ser aprovado parcialmente ou nem ser aprovado.
(…)
A economia brasileira está crescendo, mas a questão fiscal traz preocupação. Então, a taxa do dólar reflete a entrada e saída da moeda no país.”
O que a tergiversação dos agentes do imperialismo não conseguem esconder, no entanto, é a existência de uma queda de braço de especuladores contra o governo brasileiro. Como serviçais, Meirelles e Galípolo defendem os interesses dos patrões, apresentados aqui sob o eufemismo mercado, mas que não passam de um limitado grupo de banqueiros norte-americanos e europeus.
O problema é que não acertaram essa defesa com os próprios defendidos, como o economista do norte-americano Brookings Institute Robin Brooks. Em publicação no X, o economista usou o termo negado pela dupla de sabujos brasileiros, “ataque especulativo”, acrescentando ainda que “o real brasileiro está absurdamente subvalorizado”, o que, no entanto, é um “grande aviso” ao Banco Central Europeu, na avaliação de Brooks.
A alegação de que o problema fiscal é a origem das oscilações cambiais no Brasil é desmontada quando se compara a proporção dívida/PIB do País à de outras nações. No Brasil, essa relação está em torno de 81%, um patamar que, ainda que elevado, é significativamente inferior ao dos Estados Unidos, onde a dívida já ultrapassou 120% do PIB.
Fosse a evolução da dívida o que realmente preocupa os banqueiros, como alegam os sabujos do mercado, os EUA estariam imersos em uma guerra civil de proporções inéditas, algo que, evidentemente, não está acontecendo. Essa disparidade revela a verdadeira natureza das pressões contra o governo brasileiro: não é a preocupação com a dívida ou com os gastos, mas uma chantagem descarada para assegurar uma fatia ainda maior da riqueza nacional. Para os parasitas imperialistas, o Brasil é uma presa fácil e a questão fiscal nada mais é do que um pretexto para legitimar a pilhagem.
O sistema financeiro brasileiro está estruturado para operar dessa forma, o que claramente não mudará com Galípolo, mas é justamente essa política parasitária que precisa ser enfrentada. Governo algum do mundo poderia ser chantageado por criminosos como ocorre com o Brasil, atacado por salteadores dedicados a expropriar os recursos do País e para isso mesmo, a sabotar também qualquer projeto de desenvolvimento nacional. O caso demonstra a urgência de uma intervenção no Banco Central, subordinando-o às necessidades do País.
Finalmente, é urgente também uma reformulação completa do sistema financeiro como um todo, que deve ser estatizado e centralizado em um único banco, para eliminar a influência imperialista. Essa medida é fundamental para garantir a soberania nacional e o mínimo de autonomia econômica necessária para construir um projeto de desenvolvimento independente. Qualquer tentativa de racionalizar os ataques especulativos, como fazem Galípolo e seus pares, apenas perpetua o domínio destrutivo do imperialismo sobre o Brasil.