No artigo Três contra um, o jornalista Alex Solnik mostra até onde vai a política de “frente ampla” quando levada às últimas consequências. Ao analisar as eleições municipais em São Paulo, o articulista conclui que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria cometido “três equívocos” ao considerar que a disputa na capital mais populosa da América Latina teria apenas o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como adversário.
Se Lula de fato acha isso, é um grave erro. Mas ele não seria o único. Nos últimos anos, a esquerda pequeno-burguesa brasileira, na qual Solnik está contido, desenvolveu a tese de que o bolsonarismo seria o maior inimigo da esquerda. Essa política, impulsionada pela imprensa burguesa, teve como resultado um movimento contra a extrema direita, mas serviu de pretexto para uma capitulação vergonhosa desses setores perante o seu pior inimigo. Em nome da luta contra o bolsonarismo, a esquerda formou, em várias oportunidades, uma frente com o imperialismo.
A crítica de Solnik a Lula não busca corrigir esse erro da esquerda, mas, na verdade, aprofundá-lo.
Segundo o articulista, Lula, ao “declarar guerra” ao candidato apoiado por Bolsonaro, estaria declarando guerra a sete partidos que integram o seu governo. Solnik conclui, portanto, que Lula estaria declarando guerra ao próprio governo!
É um argumento sem pé nem cabeça. Ao dizer tal coisa, Solnik está presumindo que os sete partidos de direita e golpistas que estão no governo Lula e na pré-candidatura de Ricardo Nunes (MDB) expressariam os interesses do governo. E teria sido Lula que, por sua vez, “rachou” com o próprio governo.
Das duas, uma. Ou os sete partidos estão apoiando Nunes porque são todos defensores das privatizações, da repressão, do Banco Central Independente e de todo o programa do grande capital e decidiram apoiar um candidato direitista para sabotar a política do governo Lula na principal capital do País, ou, na verdade, os sete partidos golpistas estão apoiando Nunes porque querem defender os interesses do governo, mas estariam sendo impedidos por Lula.
Solnik segue então para seu segundo argumento – que não é bem um argumento, mas uma falsificação grotesca da história recente. O articulista diz que Lula teria se equivocado ao “declarar guerra” a Nunes porque estaria “declarando guerra” ao herdeiro de Bruno Covas (PSDB), que, por sua vez, seria o herdeiro de Mário Covas (PSDB).
Se é assim, Lula agiu corretamente. Mário Covas e Bruno Covas são representantes da política mais odiada pelos trabalhadores, a política neoliberal. Não são “baluartes da democracia”, como diz Solnik, mas empregados dos vampiros que sugam todo o orçamento do País e obrigam a população a viver na miséria. “Declarar guerra” a eles seria um passo importante para a vitória.
Fazemos aqui um parêntese. Ao rasgar elogios à política neoliberal, Solnik deixa dúvida se de fato não acha que os sete partidos golpistas representam mais o governo Lula que o próprio Lula. Aqui, o jornalista revela até que ponto chegou a sua adaptação à política do imperialismo: defende explicitamente os adversários do presidente Lula contra ele mesmo.
O último argumento de Solnik é o típico argumento dos “frente-amplistas”. Solnik evoca o espantalho do “malufismo” para justificar que Lula não “declarasse guerra” a Ricardo Nunes. Seria preciso, portanto, chegar a um acordo também com os malufistas.
Nesse breve texto, Solnik consegue, ao chegar ao fundo do poço, resumir no que consiste a “frente ampla”. Embora não tenha coragem de dizê-lo, por tudo o mais que disse, Solnik acredita que o melhor para Lula seria apoiar Ricardo Nunes. Isto é, dissolver a esquerda por completo em uma frente comandada pela direita.