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França

‘Frente ampla contra o fascismo’, uma forca para a esquerda

Submetendo-se a Macron, a esquerda francesa busca barrar a extrema direita. Ao invés disso, impensadamente dá impulso a dois setores que se aliam para engoli-la

Na última segunda-feira, dia 1 de julho, o portal Esquerda Online reproduziu o artigo “Eleições francesas: a extrema-direita consolida seu avanço”, por Dave Kellaway, do portal Anticapitalist Resistance. Ao analisar o desempenho espetacular da extrema direita nas eleições, o portal argumenta que:

“A grande aposta de Macron falhou. Ao convocar eleições antecipadas, ele pensou que o povo francês se reuniria em torno de seu partido centrista e da esquerda moderada para colocar o Rassemblement National (RN) de Le Pen de volta em seu lugar, depois da vitória nas recentes eleições europeias. Ele considerou que uma maior participação eleitoral não favoreceria o partido de extrema-direita e neofascista de Le Pen. Ao contrário, o número de eleitores foi 20% superior em comparação com 2022. O RN consolidou seus votos europeus e se aliou com sucesso a uma cisão do tradicional Les Républicains (LR). […] O RN nunca teve tantos deputados eleitos no primeiro turno.”

A medida de antecipar as eleições, em primeiro lugar, não se tratou de um plano para rebaixar novamente a extrema direita. O artigo entende a antecipação como uma ofensiva quando, na realidade, foi uma medida defensiva. A questão central é o crescimento exponencial da extrema direita, o que não deixou alternativa para Macron. Com o passar do tempo, e a intensificação da crise, a tendência é de um incremento ainda maior da Frente Nacional de Marine Le Pen.

Antecipando as eleições, Macron tem um cenário eleitoral menos desfavorável, contando ainda com a campanha histérica levada adiante pela imprensa imperialista sobre o ascenso da extrema direita, a partir da eleição para o Parlamento Europeu. Essa campanha é aproveitada para colocar a esquerda a reboque da direita tradicional representada pelo presidente francês. Sem qualquer base social, Macron buscou a composição de uma frente ampla, ou seja, submeter a esquerda e utilizar sua base, sob a chantagem de um avanço da extrema direita, para defender a política da direita tradicional. O grande avanço da extrema direita já era esperado. A sequência torna ainda mais evidente o caráter da manobra.

“Tudo depende do que acontecerá no segundo turno. Os dois primeiros classificados são automaticamente eleitos, mas o terceiro candidato pode concorrer no segundo turno se tiver mais que 12,5% dos votos registrados. Toda a discussão imediatamente seguinte à eleição se centra na questão de saber se o candidato melhor colocado para derrotar o RN é livremente substituído por qualquer terceiro candidato elegível que se demita. Os líderes da Nouveau Front Populaire (NFP), provenientes do Parti Socialiste (PS), dos Les Écologistes e do La France Insoumise (LFI), liderados por Jean-Luc Mélenchon, convoca [sic] a essa ‘barrage’ (bloco) para frear a vitória do RN.”

“No entanto, os líderes do partido Ensemble de Macron tem [sic] sido muito mais ambíguos. Alguns têm apelado para um bloqueio ao RN com um único candidato, enquanto outros dizem que julgarão caso a caso. Bruno Le Maire, atual ministro da economia, e Édouard Philippe, ex-primeiro-ministro macronista, mantêm essa posição, dizendo que votarão na esquerda social-democrata, mas não no LFI. Eles recusam a apoiar os candidatos do LFI que ficaram em segundo lugar, que consideram tão extremistas quanto o RN.”

Está clara a questão. O plano é utilizar a esquerda para impulsionar a direita tradicional, ao passo que, entre a esquerda e a extrema direita nazista, a direita tradicional, o imperialismo, apoiará a extrema direita. Em outras palavras, o que ocorre é um incremento artificial de Macron, e um sufocamento da esquerda, que se atrela a um setor falido politicamente aos olhos dos trabalhadores franceses. Um suicídio político. Vejamos agora uma sequência de trechos para tirar uma conclusão final sobre o exposto:

“A posição macronista é mais do que rica [sic] ao se compreender como Maron [sic] foi eleito duas vezes consecutivas graças à mobilização da esquerda e do eleitorado progressista em torno da sua segunda candidatura no segundo turno para impedir que Marine Le Pen se tornasse presidenta. É particularmente irritante considerar que a convocação dessa eleição, que coloca o RN em uma posição de protagonista, era desnecessária. Além disso, foram as políticas neoliberais contra a classe trabalhadora defendidas por Macron, como o aumento da idade de aposentadoria, que fomentar o descontentamento generalizado, do qual Le Pen é beneficiada. […] O extremo centro da França tem sido um terreno fértil para a ascensão da direita neofascista.”

“A unidade já deu frutos, já que o principal bloco de oposição à extrema-direita será a esquerda ampliada. Em meio a coalizão, o LFI, mais radical, continuará a ter um papel de liderança.

[…]

Os macronistas continuam falando de uma nova coalizão ‘moderada’ no novo parlamente [sic], que impedirá a maioria do RN”.

Vemos que a esquerda por duas vezes se submeteu à política neoliberal de Macron, se atrelou a um personagem artificial do capital financeiro, odiado por todos. E o resultado de tal política foi apenas o avanço da extrema direita, em oposição ao objetivo apresentado de barrá-la nas eleições. Nas ruas e no cenário político do país, a extrema direita segue inconteste, pois não há uma esquerda para fazer frente a ela.

Ora, se a esquerda vem cometendo sucessivos erros ao se atrelar ao “extremo centro”, a direita tradicional, por que agora estaria correta essa política? O bloco da “esquerda ampliada” nada mais é que um disfarce para a política do mesmo Emmanuel Macron, como vimos anteriormente neste artigo, novamente pintado de vermelho, como tantas vezes antes.

Assim sendo, é uma farsa completa afirmar um papel de “liderança” de um setor da esquerda, que está submetida ao campo de Macron. O próprio artigo, em sua última frase, admite:

“Os principais representantes dos patrões já estiveram envolvidos em conversações com o RN sobre suas políticas.”

Isso nada mais quer dizer que, frente à crise, a burguesia já se prepara de braços abertos para empossar a extrema direita. Deparada com tal cenário catastrófico, resta observar se a esquerda seguirá dando corda para se enforcar.

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