O governo revolucionário do Níger acusou a França de financiar grupos mercenários para desestabilizar o país. Como um dos membros do G7, a França vem perdendo rapidamente influência na África, especialmente após uma onda de movimentos nacionalistas atingirem o continente, particularmente na região central do Sahel. Isso faz parte da crise geral do imperialismo, que, no entanto, não deixará suas posições de dominação sem reação, o que pode causar grandes danos.
Segundo o general Abdouramane Tchiani, o governo Macron estaria financiando grupos terroristas baseados em países vizinhos, como Nigéria e Benin. Ele afirmou que os franceses injetaram bilhões de francos em grupos paramilitares e mercenários, incluindo o Boko Haram, que atuam nos estados nigerianos de Sokoto, Zamfara e Kebbi.
Vale lembrar que o Benin age a serviço de Macron. No início deste ano, em maio, o país violou acordos bilaterais de comércio e bloqueou as exportações de petróleo bruto do Níger, fechando para o país o porto de Seme Kpodji. E não parou por aí: também fechou as fronteiras para a passagem de milhares de caminhões com mercadorias. Trata-se de uma retaliação contra o Níger, que expulsou as tropas estrangeiras, França e Estados Unidos, de seu território.
A Nigéria, por sua vez, quase invadiu o Níger em agosto de 2023. As fronteiras estiveram fechadas desde o golpe nacionalista em julho daquele ano sendo reabertas no final de março seguinte, um mês após a CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental) suspender as sanções.
Abdouramane Tchiani afirma que, na Nigéria, o ex-chefe da agência nacional de inteligência, Ahmed Abubakar Rufai, desempenhava um papel-chave no treinamento e na aquisição de equipamentos para os grupos terroristas.
O governo nigeriano nega as acusações, alegando que Níger e Nigéria estão entrelaçados por suas culturas, história e comércio, e que nunca teve interesse em desestabilizar o país vizinho, embora os fatos mostrem o contrário. A Nigéria tem agido em favor dos interesses do governo francês. O capachismo de seus governos tem gerado grande instabilidade interna, com a população saindo às ruas contra as políticas neoliberais do FMI.
Os interesses do imperialismo
As relações entre a França e o Níger se deterioraram após Tchiani liderar um golpe que derrubou Mohamed Bazoum, um governo submisso aos interesses estrangeiros. Os franceses tentaram rapidamente colocar os países vizinhos contra o Níger, com exceção de Burquina Faso e Mali.
A CEDEAO, uma espécie de OTAN africana, além das sanções, ameaçou usar a força e invadir o Níger, alegando que contribuiria com as “missões de paz” apoiadas por Paris.
Esse órgão é formado por Benin, Burquina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Serra Leoa, Senegal e Togo. Em seu histórico, há uma longa lista de serviços prestados ao imperialismo, razão pela qual é totalmente apoiada pelos Estados Unidos e pela Europa.
Para ilustrar como age a CEDEAO, o bloco impôs uma zona de exclusão aérea e severas sanções econômicas contra o Níger, incluindo o congelamento de bens nacionais e acordos financeiros. Suspendeu o fornecimento de eletricidade, saiu em defesa de Bazoum e deu um ultimato para a renúncia do novo governo, sob pena de “sofrer as consequências”.
Região do Sahel
Uma análise do mapa revela por que o imperialismo tem interesse na região do Sahel, da qual o Níger faz parte. Trata-se de uma vasta extensão de terra, atravessando vários países, que liga o Atlântico ao Mar Vermelho.
O Sahel (que significa “borda” ou “margem” em árabe) é uma faixa de 500 a 700 quilômetros de largura por 5.400 quilômetros de extensão, atravessando Senegal, Mauritânia, Mali, Burquina Faso, Níger, Chade, Sudão, Nigéria e Camarões. Em alguns casos, a região também inclui Etiópia, Djibuti e Somália.
No caso específico do Níger, a França tem grande interesse na exploração de urânio, um minério pelo qual pagava uma fração mínima enquanto comercializava o produto, obtendo lucros astronômicos. Para ilustrar, em 2010, o Níger exportou 3,5 bilhões de euros em urânio, recebendo apenas 459 milhões de euros. O país é um dos principais produtores mundiais, extraindo anualmente 2.300 toneladas, cerca de 5% da produção global.
A França é notória por esgotar as minas de urânio do Gabão, exploradas com grande voracidade, mesmo após a independência do país. A exploração francesa durou quatro décadas, de 1960 a 1999.
Imperialismo igual ao terrorismo
Os países ricos, as chamadas “democracias”, são os principais patrocinadores de grupos terroristas, como se viu recentemente na Síria. Tudo isso com o acobertamento da grande imprensa capitalista, que rotula esses grupos como “opositores”, “insurgentes”, entre outros. Dados indicam que os ataques se espalharam do Mali para Burquina Faso e Níger, matando 12 mil pessoas em 2023, a maioria civis.
Assim como na Síria, os ataques contra as três ex-colônias francesas contam com a participação da Ucrânia, usada como bucha de canhão pela OTAN contra a Rússia.
A instabilidade no Níger é uma consequência direta do imperialismo, que também promove guerras e genocídios no Oriente Médio, no Leste Europeu e provocações contra a China.
Tudo isso demonstra que a única saída para a paz é a derrota definitiva do imperialismo, que, em sua decadência, tenta arrastar os países para uma guerra mundial.