Eleições francesas

França: a volta dos mortos-vivos

Eleição na França foi uma manobra para recuperar os políticos acabados do neoliberalismo

Matéria recente do Poder 360 revela um elevado grau de confusão com relação às eleições francesas. A esquerda, de conjunto, não conseguiu enxergar que a direita, de fato, não foi derrotada e o que está em marcha é a recuperação do neoliberalismo e seus representantes políticos. 

O texto, redigido por Ricardo Melo, afirma que “a reviravolta francesa espantou as grandes potências. A união da esquerda e centro-esquerda derrubou aquilo que os acadêmicos e ‘especialistas’ davam como certo. Deram com os burros n’água. Não levaram na devida conta que Macron é um símbolo da destruição de conquistas da classe trabalhadora“.

Ocorre que o próprio Macron divulgou uma carta na qual denota que não indicará nenhum representante da esquerda para ser primeiro-ministro: “o que os franceses escolheram nas urnas – a frente republicana -, as forças políticas devem concretizar com seus atos. É à luz desses princípios que decidirei a nomeação do primeiro-ministro. Isso implica dar um pouco de tempo às forças políticas para construir esses compromissos. Até lá, o governo atual continuará a exercer suas responsabilidades e depois ficará encarregado dos assuntos correntes, como manda a tradição republicana”.

Essa indicação é fundamental para o regime político francês. Nos termos deste diário, “o primeiro-ministro, além de ser escolhido pelo presidente, tem de ser aprovado pela Assembleia Nacional após seu apontamento. Sendo responsável por executar e coordenar as ações do governo – apesar das diretrizes serem dadas pelo gabinete do presidente – assim como é responsável por apresentar projetos de lei da Assembleia Nacional” (Entenda aqui como funciona o sistema eleitoral na França). 

O texto do Poder 360 afirma, ainda, que “há mudanças imediatas a serem feitas: a revogação da reforma da previdência, o aumento do salário mínimo para 1.600 euros, a revogação da reforma do seguro-desemprego, recursos imediatos para a escola e para a saúde, revogação da lei imigratória. Não é o cardápio de Macron“, não mesmo e, a depender de Macron, não vai acontecer. O que aconteceu nas eleições francesas foi um resgate dos partidos tradicionais do imperialismo, e Macron pode, inclusive, indicar um primeiro-ministro do Partido Socialista, um dos principais representantes da política imperialista no país europeu.

O texto afirma: “a Europa ganha um novo desenho. França e Reino Unido, principalmente, jogaram para escanteio as agremiações reacionárias, adeptas do neoliberalismo e de um mundo onde quanto mais cresce o número de bilionários, mais sobe a quantidade de pobres e desvalidos“.

A Europa não está vendo uma mudança significativa. Nos países mencionados (França e Reino Unido), não houve uma derrota da esquerda contra a extrema direita ou dos progressistas contra os reacionários. O imperialismo agiu estrategicamente para ganhar fôlego através de um golpe eleitoral. No entanto, a extrema direita continua poderosa, especialmente na França, onde mantém uma presença muito forte. Macron está planejando um movimento contra Mélenchon e pode indicar um primeiro-ministro do próprio partido ou do Partido Socialista.

Ao tratar dos Estados Unidos, Ricardo Melo diz que “Donald Trump vem se favorecendo de inúmeras manobras judiciais para escapar da cadeia. Dinheiro não lhe falta; a cada nova acusação, aparecem mais doadores milionários dispostos a salvá-lo da prancha do navio“.

Mas a realidade não é que Trump possui bons advogados e argumentos jurídicos. O que está acontecendo nos EUA é que o imperialismo não conseguiu enquadrar Trump, do mesmo jeito que o próprio Jair Bolsonaro ainda detém considerável apoio político e popular, apesar dos processos e da campanha diária da imprensa que ajudou a eleger ele próprio. 

Se nem tudo está perdido, também nem tudo está ganho. A América Latina oscila, a começar do Brasil. A extrema-direita mantém-se atenta. Bolsonaristas de quatro costados conspiram a céu aberto, muitos infiltrados no próprio governo federal. O tal do Centrão domina o Congresso, e a Esplanada tem de tudo um pouco. Lula hesita em se desfazer de auxiliares que já mostraram a que vieram. Se a Bolívia conseguiu estancar um novo golpe, a Argentina politicamente segue no sentido contrário. Nas mãos de um desorientado como Milei, tudo se pode esperar. Mas nem tudo está perdido. Tampouco ganho“.

Apesar da euforia da esquerda, os fenômenos não são diferentes. O aspecto central aqui é que a extrema direita cresce no mundo todo por conta da falência da política neoliberal e do fato de que a esquerda não se coloca como alternativa a essa falência, pelo contrário, a tendência é uma capitulação total diante da pressão imperialista.

Por outro lado, o que houve na Bolívia não foi um golpe da extrema-direita, tal como os bolsonaristas brasileiros, mas um golpe de origem direta do imperialismo. A falta de qualquer declaração de reprovação vinda dos EUA comprova isso. E Javier Milei é a encarnação do imperialismo, da política mais bem acabada defendida pelos capitalistas internacionais. 

A extrema direita de Trump, Bolsonaro e outros que se desenvolveram no último período não representa exatamente a política do imperialismo. Eles são utilizados para determinados momentos políticos de crise de um país, mas o preferível é gente como Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, a direita científica, racional, diretamente encomendada pelo imperialismo. A manobra na França visa ressuscitar esse setor político, que, tal como vimos com o PSDB no Brasil, está totalmente falido.

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