As recentes eleições municipais no Brasil deixaram claro o fracasso do Partido dos Trabalhadores (PT) nas urnas. Embora o partido tenha conseguido manter alguns redutos históricos e feito alianças em diversas capitais e municípios, o resultado geral foi catastrófico, especialmente quando analisado à luz das expectativas criadas pela própria liderança petista. O desempenho pífio nas principais cidades brasileiras, incluindo a ausência de vitórias em capitais importantes, evidencia a profunda crise política que o partido enfrenta. Mais do que um simples revés eleitoral, o que se vê é a decadência de um projeto político que já foi hegemônico na esquerda brasileira.
A narrativa otimista vendida por setores do PT, que alegam que o partido está “se reconstruindo” e “avançando”, não corresponde à realidade dos fatos. Os números mostram que o partido não conseguiu capitalizar a sua história de lutas e as conquistas obtidas durante os anos de governo. Pelo contrário, o PT perdeu terreno para outros partidos e, mais preocupante ainda, para o bolsonarismo, que segue crescendo. A verdade é que o PT, ao se aliar a setores da política burguesa e ao priorizar acordos eleitorais, está cavando a própria sepultura.
O exemplo mais emblemático dessa derrocada é a eleição em São Paulo, onde o PT optou por apoiar Guilherme Boulos, candidato do PSOL, em vez de lançar uma candidatura própria. Esse movimento foi interpretado por muitos como uma tentativa de unificar a esquerda, mas, na prática, foi uma demonstração de fraqueza e falta de direção política. O apoio a Boulos não foi suficiente para garantir a vitória, e o resultado final foi a derrota de um candidato que, para muitos, sequer representava os interesses da base petista.
Ao não lançar candidaturas próprias em diversas capitais e cidades importantes, o PT abriu mão de disputar o protagonismo da esquerda. Essa estratégia não só enfraquece o partido, como também prejudica a organização das massas trabalhadoras. Em vez de apostar em lideranças populares e em propostas que reflitam as demandas reais da classe trabalhadora, o PT preferiu ceder espaço a alianças oportunistas, que apenas diluem o seu caráter combativo.
Nas palavras da própria Gleisi Hoffmann, presidente do partido, o PT estaria “em processo de reconstrução”. No entanto, os resultados eleitorais indicam o contrário. O partido não conseguiu conquistar nenhuma capital e ficou ausente do segundo turno em diversas cidades-chave. Se compararmos esse desempenho com os anos anteriores, é evidente que o PT está longe de se reerguer. A eleição mostrou que o partido ainda enfrenta os mesmos problemas que o afligiam em momentos de crise profunda, como em 2016, quando sofreu um duro golpe com o impeachment de Dilma Rousseff.
O que o PT parece não querer enxergar é que sua estratégia de alianças e conciliações com setores fisiológicos da política está minando sua base de apoio. Apoiar candidaturas como a de Eduardo Paes no Rio de Janeiro, que representa setores da direita tradicional, é um exemplo claro de como o partido tem se distanciado de suas raízes populares. Esses acordos oportunistas não são capazes de mobilizar as massas trabalhadoras, que veem nessas alianças a repetição da velha política, algo que o PT, em sua origem, se propôs a combater.
O grande vitorioso das eleições foi, sem dúvida, o bolsonarismo. Mesmo com Jair Bolsonaro inelegível, suas ideias e representantes seguem conquistando vitórias importantes nas urnas. Em São Paulo, Ricardo Nunes, embora não seja um bolsonarista declarado, recebeu apoio crucial de Bolsonaro e venceu com folga. Esse resultado é mais uma evidência de que o bolsonarismo, ao contrário do que setores da esquerda querem acreditar, não está em declínio. Pelo contrário, está crescendo e se fortalecendo, tanto em regiões tradicionalmente conservadoras quanto em redutos antes dominados pelo PT.
A incapacidade do PT de enfrentar esse crescimento da extrema direita é alarmante. O partido, ao adotar uma política de conciliação com setores burgueses e ao apostar em alianças com o chamado “centrão”, está abrindo espaço para que o bolsonarismo tome conta do cenário político brasileiro. Se o PT não mudar drasticamente sua estratégia, o bolsonarismo pode consolidar-se como a principal força política do país, deixando o partido ainda mais isolado e irrelevante.
É necessário que o PT faça uma avaliação profunda de sua atuação nos últimos anos. A insistência em alianças com partidos e figuras da direita, que representam tudo o que o PT historicamente combateu, não só desmobiliza sua base, como também desarma a esquerda para enfrentar a extrema direita. O crescimento do bolsonarismo nas periferias e em regiões antes dominadas pela esquerda é um alerta claro de que a estratégia atual está falhando. A classe trabalhadora está sendo deixada de lado, enquanto o PT se perde em negociações.