Sem grande alarde para a maioria das pessoas que não acompanham discussões sobre videogames na internet, o streamer Asmongold, apelido do norte-americano Zach Hoyt, teve seus dois canais no Twitch, com mais de 5 milhões de seguidores, banidos após declarações “controversas”. Esse tipo de banimento é corriqueiro, mas consideramos destacá-lo na coluna de hoje por ser, ao menos superficialmente, diferente dos demais. Hoyt foi banido por se colocar ao lado do sionismo. Segue abaixo parte de sua declaração:
“Se você quiser considerar genocídio como uma matança sistemática de um grupo de pessoas, eles têm genocídio embutido na lei da xaria agora mesmo.
“[…] Portanto, não, não vou chorar quando pessoas que têm genocídio embutido em suas leis estão sendo genocidadas. Não dou a mínima. Eles são pessoas terríveis. Não é nem mesmo uma questão. É uma loucura que as pessoas não vejam as coisas dessa forma. Elas estariam fazendo a mesma coisa.
“Essas pessoas não são seus aliados. Elas não são iguais a nós. Elas vêm de uma cultura inferior que é horrível. Matam pessoas por causa de sua identidade e são diretamente contrárias a tudo o que os valores ocidentais defendem, e são uma cultura inferior em todos os sentidos. É simples assim. Não, eu não me sinto mal por eles, não sinto pena deles, não me importo.”
Não precisamos destacar aqui que, como “jogador casual” profissional de videogame, o conhecimento de Hoyt sobre política, ou melhor, sobre qualquer coisa, não é muito profundo. Nossa polêmica não é com o cidadão, que não fez nada além do que consumir e reproduzir conteúdo veiculado diariamente na CNN, na MSNBC, no The New York Times e em outros veículos de imprensa de seu país. Em seu discurso talvez tenha faltado certo polimento, mas mesmo essa consideração é relativa, uma vez que o próprio primeiro-ministro de “Israel”, Benjamin Netaniahu, já deu declarações mais fascistas em público, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.
Hoyt é um troféu dos defensores da política de censura contra a “extrema-direita”, rótulo que não acreditamos que se aplique com precisão a ele. O streamer já se desculpou publicamente com a péssima, mas previsível, declaração de que “não se esforçou para diferenciar pessoas comuns que estão morrendo de fanáticos religiosos”. Mais uma vez, reproduz a versão polida da propaganda pró-sionista de que o problema é o Hamas, um movimento que, apesar de liderar a Revolução Palestina ao lado de outros movimentos, não responderia pelo interesse geral da população palestina. Hoyt esqueceu-se desse pequeno detalhe e, por isso, foi temporariamente punido.
Vemos aqui que a censura não trouxe nenhum resultado positivo para a luta do povo palestino. Na realidade, o banimento de um canal relativamente grande deu munição aos sionistas que agora podem dizer que as plataformas não silenciam apenas as vozes pró-palestina, realidade que todos os militantes da causa já vivenciaram. Nesta mesma semana, a própria Causa Operária TV está proibida de realizar programas ao vivo por defender a Palestina, o Hamas e os movimentos de resistência na Ásia Ocidental.
A censura nesse caso é mero cinismo dos administradores da Twitch (propriedade do grande monopólio Amazon), que alegam proibir o famoso “discurso de ódio” em seu domínio digital. Há ódio e coisa muito pior. Hoyt, um homem claramente limitado, não fez nada além de reproduzir a propaganda imperialista vigente. De expressar verbalmente, à sua maneira, o que seus governantes fazem na prática, enviando toneladas e toneladas de bombas e equipamentos militares à “Israel” para massacrar civis na Palestina e, agora, no Líbano. É para isso que essas regras – e, em última instância, a lei – servem: para punir exemplarmente pobres coitados e preservar os verdadeiros criminosos.
Essa punição exemplar agora dá carta-branca para o continuado silenciamento daqueles que defendem a causa Palestina. Ao mesmo tempo, sustenta em setores completamente cegos da esquerda mundial a ideia de que a censura é uma ferramenta útil no combate à extrema-direita, quando nada mais é do que uma etapa preparatória para o temido governo fascista e autoritário.