Na última terça-feira, dia 30 de abril, o portal Poder360 publicou uma coluna assinada pelos sionistas André Lajst e Bruno Bimbi, membros da ONG sionista StandWithUs, intitulada Pedir o fim de Israel: isso sim é uma aberração. O artigo é uma polêmica com outro texto, publicado no mesmo portal, que trazia como título Israel é uma aberração; os judeus, não.
Para iniciar sua argumentação, os sionistas começam por “esclarecer alguns termos”. O primeiro, “aberração”, recebe uma definição típica de dicionário. Já o segundo, “Israel”, é definido como o paraíso na Terra, com uma série de falsificações. Vejamos.
“Israel. Estado moderno fundado por sobreviventes do Holocausto e mulheres e homens desterrados de um povo perseguido que começou a voltar à sua terra ancestral […] única democracia do Oriente Médio, com liberdade religiosa, mulheres com direitos iguais e nenhum golpe ou ditadura em sua história […] líder em tecnologia de preservação de recursos hídricos”.
Em primeiro lugar, o Estado de “Israel” não foi fundado por sobreviventes do Holocausto. A ocupação da Palestina, e a limpeza étnica do povo palestino, começaram muito antes da Segunda Guerra Mundial. O sionismo, doutrina supremacista racial que serve de base para a fundação de “Israel”, inclusive, foi elaborado já antes do início do século XX, ou seja, muito antes da ascensão do fascismo e do nazismo, na década de 1930. A “terra ancestral” referida é igualmente uma farsa. Os sionistas são compostos de poloneses, húngaros, povos daquela região, não do Oriente Médio.
A “única democracia”, portanto, está assentada na limpeza étnica e na supremacia racial, não históricas, mas que perduram como tal até hoje. “Israel” oficialmente leva adiante uma política de apartheid e de limpeza étnica das regiões da Palestina em que o povo palestino ainda se encontra. Em outras palavras, é uma ditadura étnica e religiosa.
A preservação de recursos hídricos a que se referem, da mesma forma, talvez seja referência ao desvio dos recursos hídricos das terras palestinas, e ao bloqueio de recursos hídricos aos palestinos em Gaza, onde a água é imprópria para o consumo. Parece um método de fato revolucionário de preservação.
Na sequência, “esclarecem” o que seria a crise no Oriente Médio, citando uma grande lista de conflitos armados gerados pela intervenção do imperialismo na região, imperialismo cuja principal base de apoio no Oriente Médio é “Israel”, de fato uma base militar imperialista. Entre as guerras, apontam a guerra civil na Síria, a guerra civil no Iêmen, as guerras no Afeganistão, a guerra civil no Líbano, entre outras, sendo todas elas fruto da intervenção do imperialismo, com participação direta ou indireta de “Israel”, sem exceção. Ou seja, outra farsa.
Os farsantes têm o descaramento de apontar que o número de mortos nessas guerras em que “Israel” supostamente não teve envolvimento direto (a guerra no Líbano, por exemplo, seria uma bela demonstração desse “não envolvimento”) é maior do que as guerras envolvendo “Israel” diretamente. Aqui temos mais uma falsificação. Não podemos simplesmente considerar os números brutos, é preciso considerar o que significam, por exemplo, proporcionalmente.
Segundo o Birô Central de Estatísticas Palestino, em 2022, no mundo, havia 14,3 milhões de palestinos, dos quais 5,35 milhões viviam na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, pouco mais de 35% do total. Esse número garante uma ideia da escala da limpeza étnica operada na Palestina, desde o início da ocupação sionista, que ocorre desde muito antes da fundação de “Israel”, em 1948. Essa limpeza étnica, esse estado de apartheid, essa ditadura brutal, já dura oficialmente mais de 70 anos. Só na Nakba, 80% dos palestinos da região que se tornaria “Israel” foram expulsos ou mortos, uma porcentagem sem precedente comparativo com qualquer outro dos conflitos citados.
Os autores, ironizando, acabam por revelar a verdade contra a sua posição:
“Sem Israel, num passe de mágica, os povos da região mais instável e violenta do mundo vão parar de fazer a guerra, as ditaduras vão cair, a repressão vai acabar”.
Ora, a região não é instável e violenta naturalmente, mas se torna violenta e instável pela ação do imperialismo, para a qual “Israel” é peça chave. A aliança das ditaduras e monarquias do Oriente Médio com “Israel” é notória. Desde a Jordânia, à Arábia Saudita, ao Egito. Em outras palavras, sim, com o fim de “Israel”, um passo grande para o fim destas ditaduras, a estabilidade e paz da região seria dado.
Lajst e Bimbi, então, falam num “maior massacre de judeus por serem judeus desde o Holocausto nazista”, se referindo ao 7 de outubro. Ora, mas já foi comprovado, inclusive na imprensa israelense, que, no 7 de outubro, as principais forças responsáveis pelo massacre de civis israelenses foram justamente as forças israelenses, que provocaram trocas de tiros em meio aos civis, ainda alvejando-os propositalmente, também com helicópteros e tanques de guerra.
“Sejamos claros: Israel não é, como escreve Melo, um ‘arranjo’, e nem ‘uma obra artificial'”.
Tal colocação é interessante frente ao êxodo provocado pelo 7 de outubro em “Israel”. Num país que não é artificial, como a Palestina, a população permanece e resiste ao invasor mesmo se deparando com uma destruição inacreditável.Já no caso de “Israel”, a população retorna aos seus reais países de origem na Europa frente a um conflito na fronteira.
Reivindicam então que “Israel” “é um Estado legal perante a lei internacional”. Mais uma farsa. A fundação de “Israel” foi aprovada pelas Nações Unidas à revelia das populações e Estados nacionais da região, o que não atende ao que seriam preceitos básicos da lei internacional, como o respeito à integridade territorial e à soberania nacional.
Contra a realidade, afirmam os sionistas: “aonde iriam depois?” Se referindo aos sionistas, com o fim de “Israel”. Ora, para os mesmos cantos para que fogem agora, os seus reais países de origem.
Dizem os autores que a base militar imperialista não irá desaparecer. A marcha da história aponta para o contrário.