O baterista dos Beatles, que completa 84 anos de vida no dia de hoje, é tido por muitos como o “pior” do quarteto. Segundo muitos, ele seria tecnicamente medíocre, péssimo cantor, não compunha músicas e teria caído por “sorte” no banquinho da bateria da maior banda de rock de todos os tempos.
No entanto, nada disso é verdade. Ringo Starr é um mestre em seu ofício, com tanto mérito quanto qualquer outro membro de seu conjunto. E para homenageá-lo no dia em que ele faz aniversário (exatamente uma semana antes do meu, o que faz com que nunca me esqueça), comento aqui a linha de bateria que ele mesmo já afirmou ser a sua preferida.
A canção Rain não é das mais conhecidas dos fab four. Ela não saiu em nenhum álbum dos Beatles oficial, era um single, lado B de Paperback Writer, esse sim um grande sucesso que alcançou o topo das paradas. Em um estilo que remete um pouco ao dos bateristas mais “exibicionistas” dos anos 60, a linha é repleta de viradas, embora sua levada seja bastante simples e direta. O que chama atenção é que durante a música inteira ele quase não repete nenhuma virada de bateria, sempre introduzindo uma informação nova na batida musical (a introdução constante de elementos novos a cada repetição das ideias musicais é um aspecto fundamental do estilo dos Beatles, mas isso seria assunto para outra discussão).
O ponto culminante, na minha opinião, é no meio da canção, após o segundo refrão, quando param as guitarras e vozes e temos um incrível dueto de baixo com a bateria, em que ambos executam o mesmo padrão rítmico e nos conduz para a próxima sessão da música.
Para provar a grande capacidade técnica de Ringo vale comentar o seguinte fato: a gravação real de Rain era bem mais rápida do que a versão final da música. A versão final foi desacelerada para dar um efeito um tanto lisérgico na voz de John, que soa mais grave do que originalmente, técnica de estúdio bastante usada pelos Beatles. Ou seja, Ringo gravou essa linha de bateria repleta de viradas num andamento bem superior ao que se costuma escutar.
Há muitas outras linhas de baterias gravadas por Ringo que mereceriam memória. O que seria de Strawberry Fields Forever sem as viradas de Ringo que dialogam com o vocal da música a todo momento? Em Ticket to ride, Ringo criou uma levada totalmente nova para encaixar bem com o arpejo tercinado das guitarras. A memorável levada de Come Together é responsável por tornar essa canção uma das mais memoráveis da fase final dos Beatles, tanto que é impossível tocá-la de qualquer forma diferente.
Aconselho aos detratores deste que foi um dos mais influentes bateristas da história do rock a ouvirem com calma as canções dos Beatles que eles acham que conhecem para se surpreenderem com a obra-prima que Ringo está criando ali no fundo enquanto os outros prestam atenção na letra, harmonia ou nos solos de guitarra.