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Identitarismo

Fascismo não tem sexo

Interesses da população não virá pela substituição de homens por mulheres em um parlamento, mas sim pela substituição de uma política burguesa por uma política proletária

É impressionante como a esquerda identitária, ao invés de buscar respostas concretas para os problemas reais da classe trabalhadora, se perde em devaneios sobre representatividade e número de cadeiras ocupadas por mulheres nos parlamentos. Um exemplo perfeito desse fetiche pela simbologia pode ser visto na nota publicada pelo Esquerda Online sobre a tática eleitoral do PSOL de Niterói, que tenta estabelecer uma conexão absurda entre o predomínio de homens na Câmara de Vereadores e a subordinação do município ao “capital imobiliário”. Em termos práticos, essa argumentação não passa de um engodo político, típico das fórmulas identitárias importadas das universidades norte-americanas, para desviar o foco da luta de classes para uma suposta luta dos sexos.

Ao invés de combater a influência do capital, a nota assinada pela Direção da Regional Niterói (RJ) da Resistência-PSOL prefere sugerir que o problema de Niterói seria a falta de mulheres na Câmara, como se uma mulher no poder automaticamente governasse em prol do povo. O parágrafo que evidencia essa tolice deve ser lido com a devida atenção:

“Atualmente, a Câmara de Vereadores de Niterói tem apenas uma mulher entre seus 21 componentes. É essa composição que tem legitimado a entrega, pela prefeitura de Axel Grael e Rodrigo Neves (PDT), da gestão da cidade para o capital imobiliário. Os resultados são enormes danos ambientais e aprofundamento da segregação sociorracial, que, segundo o IBGE, é a maior do país.”

Ora, a realidade econômica e política de Niterói não será modificada simplesmente porque existem mais ou menos mulheres no legislativo municipal. A falta de representatividade feminina não é a causa dos “enormes danos ambientais” ou do “aprofundamento da segregação sociorracial”, assim como a presença delas não seria a solução mágica para esses problemas.

Trazer para o centro do debate a ideia de que a quantidade de mulheres em um parlamento determinaria a política praticada é como sugerir que, para curar uma doença, a pessoa não deve procurar um médico, mas sim um padre para expurgar o pecado. Não passa de misticismo político.

Quer dizer, se o PSOL estivesse realmente interessado em modificar a política de Niterói, deveria se posicionar com clareza contra os agentes do capital imobiliário, expor quem financia e quem apoia as políticas predatórias. Mas não: a nota prefere tratar a política como uma disputa de personagens de novela.

A lógica é a seguinte: se o vilão é um homem, basta colocar uma mulher e, por algum passe de mágica, os interesses da classe trabalhadora seriam atendidos. Talvez devessem perguntar à Carla Zambelli, Damares Alves, Ana Amélia, Janaina Paschoal, Tereza Cristina e outras figuras femininas de destaque da direita se elas, por serem mulheres, fazem alguma diferença na política de rapina que defendem. A resposta, todos sabem, é um sonoro não.

Aliás, já que estamos no terreno das comparações, o que dizer de um parlamento municipal composto por 21 homens como Karl Marx, Friedrich Engels, Lênin e Trótski? Certamente, a política resultante desse colegiado não teria qualquer semelhança com a que existe atualmente na cidade, pois seria orientada pelos interesses da classe trabalhadora e não pelos do capital.

Isso evidencia a falácia de que a questão central é o sexo e não a classe. Os problemas estruturais de Niterói decorrem do domínio da burguesia e não do fato de haver mais homens que mulheres ocupando os cargos políticos.

Nenhuma relação de poder surge ou é modificada pela presença de homens ou mulheres em determinada posição. Elas decorrem de processos históricos e econômicos que envolvem classes sociais com interesses antagônicos. Ao dar a entender que se houver mais mulheres no parlamento, automaticamente as decisões seriam em benefício do povo, a nota do PSOL apenas demonstra que seus autores não têm clareza política ou fazem questão de distorcer os fatos para se locupletarem.

Os problemas do Brasil e de suas cidades não serão resolvidos aumentando o número de mulheres no parlamento, mas com a supremacia da única classe social progressista desse período histórico, que é a classe trabalhadora. O problema é que a política dos vereadores — homens ou mulheres — atende aos interesses de um pequeno setor burguês.

A nota do PSOL, ao dar prioridade para essa questão de gênero, foge da questão central: a luta contra o capital. E é por isso que tais argumentos identitários são, na prática, inimigos dos trabalhadores.

Os trabalhadores de Niterói precisam é de um programa político que defenda seus interesses contra os ataques não apenas do capital imobiliário, mas da burguesia de conjunto. Isso não virá pela substituição de homens por mulheres em um parlamento, mas sim pela substituição de uma política burguesa por uma política proletária. Que a nota do PSOL sirva de exemplo de como não se faz política: superficial, baseada em uma leitura moral e não materialista da realidade, e alinhada com uma agenda identitária que só enfraquece a luta de classes.

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