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Polêmica

Falar ‘índio’, não pode; atacar o futebol brasileiro, pode

O imperialismo de hoje não incomoda o identitarismo, só o colonialismo de séculos atrás

A colunista do Uol/Folha de S.Paulo, Milly Lacombe, publicou um artigo chamado O que todos podemos aprender com o deslize verbal de Abel Ferreira.

O interessante do artigo é a revelação de como o identitarismo se preocupa com coisas totalmente secundárias. Na realidade, o mais correto seria dizer fúteis, enquanto as questões fundamentais acabam sendo deixado de lado.

Milly Lacombe se incomodou com a declaração de Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, que, em entrevista coletiva, afirmou que o Palmeiras “não era um time de índios”. A declaração foi considerada racista por Lacombe: “a colocação visava declarar que o Palmeiras não era um time bagunçado que só atacava. No limite, trata-se de um depoimento de conteúdo racista mas que entra naquele lugar do ‘quem nunca?’. Todas e todos nós já cometemos o mesmo erro de Abel”, afirma Lacombe.

Para o identitarismo, ideologia da burguesia imperialista cujo sonho é censurar todo mundo, falar é ruim. Falar ofende. Falar mata. Portanto, seria preciso censurar a fala das pessoas. “Palavras importam. Palavras têm peso de vida mas também de morte”, afirma Milly. Para o identitarismo, racismo é usar determinada expressão, é pensar alguma coisa, é falar alguma coisa, como no caso de Abel Ferreira O racismo, o machismo, as fobias todas, em suma, as mazelas do mundo vêm do pensamento das pessoas. Não é uma ação concreta, mas uma ideia. Para Lacombe e para os identitários, a expressão é uma grande violência, portanto, Abel Ferreira cometeu uma violência contra… Contra alguém que sequer existe de verdade, a categoria “índios”. Mas que índios são esses? Guaranis, Tupinambás, Tamoios? Tudo é uma grande abstração em cima de abstração.

O identitarismo quer mudar o mundo forçando as pessoas a se enquadrarem em sua mentalidade. É o que quer Milly Lacombe quando acusa Abel Ferreira de racista.

Para explicar seu ponto de vista, Lacombe faz toda uma consideração de senso comum, moralista e errada sobre a história do Brasil.

Mas deixemos as análises sobre história e os índios de lado. O interessante é que o essencial da declaração de Abel não é criticado no artigo. O colonialismo do século XVI é atacado por Milly Lacambe, ela denuncia o que fizeram com os índios, aproveitando a declaração de Abel. Mas e o colonialismo atual? Sobre este, quase não se fala nada.

Milly Lacombe se incomoda com uma frase de Abel Ferreira, mas por que ela não se importa com o fato de que um técnico de um país europeu venha ao Brasil para dar lição de como se deve jogar futebol?

Não se trata de nenhum problema pessoal com Abel Ferreira, mas o certo é que a entrada de técnicos estrangeiros nos clubes é uma política voltada contra o nosso futebol, defendendo interesses imperialistas aqui. A intenção é, por meio dessa política, controlar o futebol brasileiro não apenas economicamente, mas ideologicamente. Por isso, é importante convencer o brasileiro de que nem os seus jogadores, nem os seus técnicos prestam.

Milly Lacombe fala algo sobre isso, sobre essa política do imperialismo? Não. O negócio é falar do colonialismo de séculos atrás e censurar as pessoas por coisas que elas falaram.

Essa ideologia do imperialismo contra o futebol brasileiro é tão arraigada que Milly Lacombe nem se deu conta, por exemplo, que Abel Ferreira vem de outro país, um país europeu, para criticar o futebol brasileiro. Se ele usou a palavra índio ou não, isso é o de menos. O grave mesmo é que um português se sinta à vontade para insinuar que o nosso futebol, infinitamente superior ao do país dele, é “bagunçado”. Isso, sim, é uma conduta de tipo colonial, é a ideia de que somos inferiores.

É irônico que justamente naquilo que a história e os números mostram que somos superiores, Abel se sente à vontade para criticar. Isso revela também a propaganda ideológica que está por detrás da política de técnicos estrangeiros no Brasil.

Nada disso parece incomodar a identitária Milly Lacombe. Mas ai de quem falar “índio”.

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