Nas recentes eleições regionais na Alemanha, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) emergiu como a grande força política vitoriosa. No estado da Turíngia, o AfD obteve 32,8% dos votos, superando com folga o tradicional partido de centro-direita CDU, que ficou com apenas 23,6%. Na Saxônia, o cenário não foi muito diferente, com o AfD quase empatando com o CDU, recebendo 30,8% dos votos. Veja os gráficos produzidos pelo órgão do imperialismo alemão Deutsche Welle:
Resultado da votação das eleições no estado da Turíngia. Abaixo, os assentos no parlamento estadual conquistados:
Na Saxônia, um padrão similar:
Finalmente, a nova composição no parlamento do Estado alemão:
Esses resultados não só consolidam o crescimento da extrema-direita na Alemanha, como também evidenciam a fragilidade dos partidos que compõem a coalizão governista liderada por Olaf Scholz, cujos desempenhos foram desastrosos. Na Turíngia, o partido de Scholz, o Partido Social-Democrata (SPD na sigla em alemão), teve míseros 6,1% dos votos, escapando por pouco da cláusula de barreira de 5% do eleitorado. A Esquerda, partido que venceu as eleições de 2019 no estado com 31% dos votos, viu sua votação cair para impressionantes 13,1%, conquistando 12 cadeiras no parlamento estadual e sendo substituído pelo novo partido BSW.
A agremiação ficou com a terceira maior votação, 15,8%, levando 15 cadeiras do parlamento e ficando atrás apenas da CDU, sendo, no entanto, a maior força da esquerda no estado alemão. O BSW é um racha do A Esquerda confuso em relação aos imigrantes, mas por outro lado, é um partido opositor da chamada cultura woke, além de serem contrários à OTAN e ao apoio da Alemanha à Ucrânia na guerra da Rússia contra o regime nazista ucraniano.
Como na Turíngia, o BSW será a terceira maior força no governo da Saxônia e a maior da esquerda, onde teve 11,8% dos votos. Nesse estado, o SPD teve um desempenho próximo ao verificado na Turíngia, conquistando 7,3% dos votos que renderam 10 cadeiras no parlamento local ao partido, os Verdes ficaram ligeiramente acima da cláusula de barreira, com 5,1% e 7 assentos, ao passo que A Esquerda ficou abaixo da barreira, com 4,5% dos votos, estando fora da atual legislatura.
O crescimento da AfD é ainda mais significativo quando considerado o fato de o partido conseguir triplicar sua presença número de cadeiras no parlamento regional em apenas uma década de existência. Este fenômeno não pode ser analisado isoladamente. Nas eleições para o Parlamento Europeu, realizadas em junho, o AfD também mostrou sua força, conquistando 4 novas cadeiras e elevando sua representação para 15 assentos.
Em contraste, o SPD e A Esquerda perderam exatamente duas cadeiras cada, refletindo o declínio da influência dos partidos que tradicionalmente dominaram a política alemã desde o fim da Segunda Grande Guerra. Este crescimento da extrema-direita na Alemanha é parte de um movimento maior que se espalha por toda a Europa, onde a insatisfação popular com o centro político tem impulsionado partidos que, até pouco tempo atrás, eram marginalizados.
A ascensão do AfD deve ser compreendida à luz da história recente da Alemanha e das tendências fascistas que nunca foram completamente erradicadas do país. Desde sua fundação em 2013, o AfD tem capitalizado em cima de ressentimentos populares relacionados à imigração e à crise econômica.
O partido se consolidou como uma força política expressiva ao atacar a política neoliberal defendida pelo longevo governo da CDU, liderado por Angela Merkel, direcionando, porém, a crise alemã aos imigrantes e ao islamismo. O AfD se alinha abertamente com o nazismo e suas vitórias eleitorais recentes, indicam um deslocamento acentuado à direita do regime político de um dos países mais importantes do núcleo imperialista.
Esse crescimento da extrema direita na Alemanha, assim como em outras partes da Europa, é o sintoma de uma crise mais ampla, da profunda decadência do sistema imperialista. Com o centro político incapaz de oferecer soluções reais para os problemas econômicos e sociais que assolam o continente, sendo antes reconhecido pela população como parte do problema, os partidos de extrema direita como o AfD preenchem o vazio que a esquerda domesticada deixou, oferecendo uma política dita anti-sistema, o que não passa de uma demagogia barata, mas que diante do marasmo, confunde a população.
A esquerda, por sua vez, tem falhado em se posicionar como uma verdadeira alternativa, frequentemente alinhando-se ao centro imperialista e, assim, mergulhando na mesma crise que os partidos da direita centrista tradicional. A derrota da esquerda nas urnas, como evidenciado pelas eleições para o Parlamento Europeu e agora nos dois estados alemães, é reflexo de sua incapacidade de se distanciar das políticas falidas do neoliberalismo e de propor um projeto verdadeiramente popular, necessariamente revolucionário.
O resultado é que, enquanto a esquerda pequeno-burguesa se desintegra, a extrema direita prospera, ameaçando levar a Europa a uma nova era de autoritarismo. Pelo menos, até o surgimento de um partido de esquerda revolucionário, comprometido com a luta contra o imperialismo e com a superação da crise por uma via que atenda as massas operárias.