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América Latina

O imperialismo criou o ‘fenômeno da extrema direita’

Emir Sader, sociólogo, apresenta o crescimento da extrema direita nas eleições no continente como um fenômeno difuso. Fato é, ela não foi devidamente enfrentada pela esquerda

O sítio Brasil 247, na última quarta-feira, 14 de fevereiro, publicou uma coluna do sociólogo Emir Sader intitulada “Como a América Latina chegou a isso”. Na peça, o acadêmico busca apresentar a extrema direita como um fenômeno incompreensível e burguês, mas simultaneamente popular, e as lideranças populares como simultaneamente impopulares, numa verdadeira confusão política. Como apontamos algumas vezes na seção de polêmicas deste Diário, a confusão é uma ferramenta essencial para a dominação da burguesia, portanto, vamos aos argumentos:

“O fenômeno da extrema direita no mundo é um tema amplamente analisado. O favoritismo de Trump para se tornar presidente dos Estados Unidos reafirma a atualidade do assunto.”

Aqui temos um primeiro problema. A questão da extrema direita é apresentada como fato isolado, desprovido de contexto. O que quer dizer “Trump nos EUA”? Falar em fenômeno da extrema direita parece uma boa forma para gerar um verdadeiro rebuliço nos meios da esquerda pequeno-burguesa, mas, de fato, o que define? Os EUA não são o tema deste artigo, mas fica o exemplo de abordagem para o problema. Continuemos, pois:

“A esquerda no Brasil e na Argentina, assim como em outros países, sempre teve que enfrentar mecanismos de rejeição às grandes lideranças e movimentos populares. Perón na Argentina e Getúlio Vargas no Brasil foram – e, de certa forma, continuam a ser – fantasmas da direita e das elites desses países.”

Temos aqui outro problema: a questão seriam os “mecanismos de rejeição às grandes lideranças populares”? Por certo que o argumento não faz sentido. Uma grande liderança ou movimento popular, por definição, é aquele que ultrapassou uma rejeição popular e cresceu. Os “mecanismos”, um termo confuso utilizado por Sader, não são mais que as campanhas burguesas e imperialistas contra as lideranças populares ou nacionalistas nos países atrasados. Outro aspecto importante é, como terminaram Perón e Getúlio Vargas, duas figuras, se pode dizer, nacionalistas? Foram vítimas dos tais “mecanismos de rejeição”? Não! Foram derrubados por golpes de Estado movidos pelo imperialismo. Eis o ponto fundamental.

“A diferença entre os dois países está na continuidade do peronismo – e do antiperonismo – e na transição do antivarguismo para o antipetismo ou anti-Lula. Os mecanismos são semelhantes. A direita levanta o espectro do retorno do peronismo ou dos líderes que os representam, como um obstáculo para tentar impedir os líderes do Kirchnerismo ou aqueles que os representam.”

O argumento, vemos aqui, não faz sentido. Se Perón e Vargas foram figuras populares, se Lula e Kirchner deram, de uma forma ou de outra, continuidade ao projeto nacionalista burguês, por que seriam impedidos de chegar ao poder por uma retórica que evoca justamente aquilo que anseiam as amplas massas? Lógico, não é disso que se trata.

“Milei foi escolhido como um suposto obstáculo para que Cristina Kirchner ou outro líder – Massa, recentemente – se torne presidente, com as políticas democráticas e populares que representam e que a direita repudia sistematicamente.

“As difíceis condições de vida da população nos governos anteriores foram fatores que facilitaram a vitória de Milei. Bem como o antiperonismo e o anti-Kirchnerismo como ideologia e como proposta política.”

Aqui vemos uma farsa. A “escolha de Milei” não é o ponto crucial, nem o antiperonismo, pois o peronismo, tomado como o projeto nacionalista burguês, não é repudiado na Argentina. A questão é apontada, mas com rodeios pelo autor, desviando dos pontos centrais. “As difíceis condições de vida” são o centro do problema. De onde se originam e por que se agudizaram? Para isso, é necessário rememorar um ponto que derrubou a economia argentina como de um precipício, já em meio à crise internacional: o governo de Maurício Macri.

Macri, como um tucano brasileiro, e como Michel Temer, levou a cabo uma política que jogou todo o peso da crise nas costas dos trabalhadores, enquanto, ao mesmo tempo, impediu a economia argentina de reagir. Daí, um enfraquecimento ainda maior do país, cuja situação passou de problemática a periclitante, mas não é só isso.

A “vitória” de Macri se deu em meio a um processo golpista de pressão imperialista sobre o kirchnerismo. O processo continuou durante e após o governo Macri, com uma caça à ex-presidente Cristina Kirchner, que não se candidatou à presidência nas eleições de 2019 e nem nas de 2023 pela pressão sofrida.

“Ele apenas disse que iria acabar com a inflação, com a afirmação imediata de que a inflação tinha sido produzida pelo Kirchnerismo.”

Uma continuação do que colocamos anteriormente, o candidato apoiado por Cristina (vice-presidente na chapa) nas eleições de 2019 foi Alberto Fernández, que levou adiante uma continuação da política neoliberal de Macri, de forma mais branda por estar dentro do peronismo, mas em sua ala direita. O governo passou por um verdadeiro racha entre o presidente e a vice e, no entanto, novamente houve uma capitulação em 2023, e o lançamento de outro candidato que não representava, de fato, o kirchnerismo. Ou seja, a derrota de Sergio Massa foi natural.

“No Brasil, foi um bloco jurídico-midiático que conseguiu derrubar Dilma Rousseff, através de um impeachment, com uma acusação que, em nenhum caso, constituiria um caso de impeachment (mudança na alocação de recursos no orçamento), como o mesmo O [sic] Judiciário posteriormente o reconheceu.

Esse processo continuou no processo contra Lula, sua condenação e prisão. Isso impediu que Lula fosse candidato e facilitou a vitória de Bolsonaro sobre Haddad.”

Facilitou é a palavra utilizada por Sader para não afirmar o que ocorreu: um golpe. Emir Sader, ao fazê-lo, aponta uma popularidade indevida do bolsonarismo, que se projetou e se projeta pelas sucessivas capitulações da esquerda, que abandona suas pautas e se arvora ao centro. A extrema direita e seu crescimento, assim, não é um fenômeno, como algo inevitável, que simplesmente ocorre, mas uma derivação da ofensiva da burguesia contra os trabalhadores, face à crise, e de uma falta de resposta da esquerda, que nem chegou a apontar o golpe nas eleições de 2018, fraudadas escancaradamente com a retirada de Lula do pleito. Sader repete e continua tal política.

“A direita teve que recorrer das [sic] acusações de suposta corrupção de dirigentes e governos petistas. Esta foi a maior imagem manipulada pela mídia para buscar isolar e derrotar o PT. O Judiciário teve papel essencial, ao lado da mídia, para derrotar o PT. Basta dizer que a sessão do Senado que aprovou o impeachment de Dilma foi presidida pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal.”

As acusações de corrupção, porém, não isolaram o PT. O isolamento se deu face ao não enfrentamento pelo PT destas acusações. A cada capitulação, um isolamento maior se colocou, até o fim do governo Dilma, que não chamou os trabalhadores, que estavam dispostos a tanto, para defender o governo. A ofensiva da direita se deparou com uma esquerda que se recusou a defender a si mesma de um golpe que envolveu todas as principais instituições do País, o Legislativo, o Judiciário, as Forças Armadas e a imprensa burguesa.

“A América Latina foi assim vítima, quase simultaneamente, de dois fenômenos de extrema direita mais ou menos semelhantes.”

A América Latina, assim, viu a repetição das consequências da falência das lideranças da esquerda e da capitulação frente à ofensiva da direita. Ora, mas isso não é um fenômeno impressionante. A direita levantou a cabeça, avançou, e encontrou a passagem desimpedida. Um resultado diferente seria impossível, e se repetirá no Brasil caso Lula, novamente, não aceite entrar no ringue ao ser chamado.

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