Nessa segunda-feira (19), Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), concedeu duas entrevistas à rede de televisão Al Jazeera, as quais foram ao ar nos canais Al Jazeera Arabic e Al Jazeera Mubasher, ambos no YouTube.
Ambas entrevistas foram concedidas logo no dia seguinte às declarações que o presidente Lula fez, na Etiópia, a respeito do genocídio que “Israel” comete contra os palestinos, ocasião em que comparou a ação dos sionistas com a da Alemanha Nazista.
Pimenta comentou tanto a respeito das declarações do presidente, quanto da situação da luta em defesa da Palestina (no mundo e no Brasil). Ele também falou sobre a política do PCO em relação a essa luta.
Na primeira entrevista, que foi ao ar às 13h30 da tarde, no canal Al Jazeera Arabic, o entrevistador questionou Pimenta, em primeiro lugar, sobre as reações à declaração de Lula sobre “Israel” e a Palestina, perguntando se o presidente brasileiro estaria assumindo uma posição expressamente contra “Israel”.
Pimenta então esclarece que “no Brasil, muitas pessoas e partidos políticos estão pedindo o corte das relações diplomáticas com ‘Israel’ devido ao que está acontecendo em Gaza. Muitas pessoas no partido do presidente também nos pedem para cortar as relações diplomáticas“.
O entrevistador, então, pergunta “o que esperar?”. O dirigente do PCO acrescentou que não acredita que o governo brasileiro vá recuar ou mudar de posição, que Lula está comprometido com a causa palestina, estando completamente ciente do que está acontecendo, sendo crítico da “inação da comunidade internacional em condenar as ações de ‘Israel’”.
Ao comentar sobre a possibilidade de “Israel” cortar relações com o Brasil em razão da posição de Lula, Rui Pimenta esclareceu que isto não seria uma grande crise para o País.
Pimenta foi então questionado a respeito de os países imperialistas terem cortado financiamento à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês), e sobre o fato de Lula ter anunciado, no último domingo (18), que o Brasil manterá o envio de ajuda humanitária à Palestina através da entidade, decisão que foi alvo de críticas. O presidente do PCO defendeu a decisão de Lula em manter o financiamento do Brasil à UNRWA:
“A posição do Brasil sobre esta questão é muito clara. Aumentaremos as contribuições financeiras. Acredito que é o certo a fazer; apesar de não ser suficiente, acredito que é uma decisão correta e uma ação necessária. A decisão de não enviar ajuda para a Palestina é uma medida punitiva.”
Por fim, ao ser questionado sobre a possibilidade de um Estado palestino e sobre o fato de os sionistas rejeitarem essa possibilidade, Rui Pimenta defendeu a necessária luta armada do povo palestino, declarando que “‘Israel’ só entende a linguagem da força, e é por isso que apoiamos incondicionalmente a resistência em Gaza. Acredito que desempenham um papel muito importante nesta crise, obrigando os israelenses a recuar”. Ele também acrescentou um comentário sobre a importância do Hesbolá, declarando que o partido libanês “desempenha um papel crucial” em auxiliar os palestinos na luta contra o sionismo.
A segunda entrevista, que foi ao ar às 16h00 no canal da Al Jazeera Mubasher, expandiu os temas discutidos na primeira. Disponibilizamos, abaixo, a transcrição da íntegra da entrevista traduzida por este Diário. Confira:
Al Jazeera Mubasher: Como sabemos, o povo brasileiro é muito solidário com a situação na Palestina, e acredito que a grande maioria do povo brasileiro tem grande simpatia pelo povo palestino. Quero ouvir a posição do seu partido, o Partido da Causa Operária, sobre essa questão. Como vocês veem o que “Israel” está fazendo? Como vocês veem, em geral, a questão palestina?
Rui Costa Pimenta: Nosso partido apoia os palestinos desde o início. Sempre os apoiou e apoiará. Podemos dizer que consideramos esta questão como uma questão sagrada. Apoiamos os palestinos e também apoiamos a luta armada na Palestina. Portanto, no Brasil, fizemos todo o possível para promover a questão palestina e entendê-la. Nossa posição é firme e sólida, apoiando os palestinos e também a luta armada, especialmente o Hamas, que lidera essa luta. Assim, nós nos opusemos às mentiras e calúnias que foram promovidas contra o movimento Hamas e enfrentamos algumas ações judiciais devido à nossa posição, mas não vamos recuar, pois isso é importante para nós.
Al Jazeera Mubasher: [Sobre] apoiar a luta armada, permita-me dizer que isso pode ser extremamente surpreendente, raramente você encontra um líder partidário ou oficial hoje em dia dizendo ‘apoiamos o Hamas’ e vemos que isso realmente está acontecendo. Todos os colocam na categoria do terrorismo e criticam o que a resistência palestina está fazendo de uma maneira geral na Palestina.
Rui Costa Pimenta: Apoiamos os movimentos de luta armada na América Latina há décadas, por exemplo, o movimento revolucionário em Cuba; a luta que Che Guevara travou na Bolívia. Apoiamos todos esses movimentos de luta armada. E, para nós, a luta armada palestina é semelhante, então é natural expressarmos nosso apoio à resistência palestina de forma pública. Há um escândalo entre a extrema direita no Brasil, e é claro que eles têm uma opinião oposta, mas não prestamos atenção a isto.
Al Jazeera Mubasher: Sim, eu queria lhe perguntar sobre isto. Há alguém, quer dizer, alguém que apoia vocês nesta linha e neste ponto de vista no Brasil, seja dos partidos políticos ou das forças políticas, ou vocês são os únicos neste contexto, oficialmente?
Rui Costa Pimenta: Existem pequenos grupos de esquerda que adotam a mesma posição que nós adotamos, mas até mesmo no partido do presidente Lula, que é o maior partido político do Brasil, há muitos membros do partido que adotam a mesma posição que adotamos.
Al Jazeera Mubasher: Em sua opinião, é possível que a resistência palestina, que você vê como justa, algum dia vença o Estado de Israel, este Estado altamente militarizado com um grande apoio do Ocidente e dos Estados Unidos, ou isso é muito difícil?
Rui Costa Pimenta: Acredito que seja possível. Testemunhamos o que aconteceu em 7 de outubro e consideramos isso um ponto de virada na luta. Apesar do grande número de vítimas – e isto é trágico -, acreditamos que as operações militares realizadas pela resistência palestina abriram um novo capítulo. E talvez seja a maior crise sob a hegemonia imperialista no mundo há décadas. O que está acontecendo agora é muito pior do que na Ucrânia.
Al Jazeera Mubasher: Bem, terminei minhas perguntas, mas se você tiver uma última palavra que gostaria de dizer através da Al Jazeera, fique à vontade, por favor.
Rui Costa Pimenta: Acredito que é importante que as pessoas saibam que na América Latina, não apenas no Brasil, há uma opinião pública maciça que apoia a Palestina, e as pessoas lá repudiam o que o movimento sionista está fazendo na Faixa de Gaza.
*Esta é uma tradução inicial feita pelo Diário Causa Operária, com base na transcrição do vídeo hospedado no YouTube. De forma que a tradução está sujeita a posteriores alterações.