No artigo O discurso de Marta, publicado pelo Brasil 247, o petista Valter Pomar, dirigente da corrente Articulação de Esquerda, faz algumas especulações sobre o futuro que Marta Suplicy iria proferir nesta sexta-feira, dia 2 de fevereiro, em virtude de sua “refiliação” ao Partido dos Trabalhadores (PT). Entre as possibilidades levantadas no texto, Pomar diz que:
“Aliás, um passarinho me contou, há muitos dias, que Marta poderia fazer algum tipo de autocrítica, o que além de ser o correto, também tornaria mais fácil a vida dos que, mesmo apoiando a sua candidatura à vice, tem restrições maiores ou menores a seu regresso ao PT.”
O pedido para que a ex-prefeita Marta Suplicy fizesse uma autocrítica não é uma novidade. Para alguns dirigentes do PT, essa seria a condição para aceitar o seu retorno, uma vez que Suplicy abandonou o partido nas piores condições imagináveis. Suplicy, afinal, apoiou o golpe de Estado de 2016.
Pomar gostaria de ouvir uma autocrítica de Suplicy por, segundo ele, uma questão “estratégica”. Assim diz o dirigente petista:
“Espero que Marta faça, em seu discurso, alguma autocrítica – mesmo que com baixas taxas de sinceridade e altas taxas de conveniência – em relação aos ataques que nos fez, quando saiu do Partido; em relação a seu voto em favor do golpe disfarçado de impeachment […] E assim espero, porque se Marta não fizer alguma autocrítica, especialmente em relação a sua participação no golpe de 2016; e se, mesmo assim, o Diretório Nacional do PT derrotar a impugnação de sua filiação; então na prática uma parcela importante do Partido estará aderindo oficialmente à tese de que em 2016 não ocorreu um golpe.”
Podemos assim resumir a tese de Pomar: esperar uma autocrítica sincera de Marta Suplicy seria um erro porque ela apoiou uma série de ataques aos trabalhadores; no entanto, se os dirigentes de seu partido a constrangessem a fazer uma “autocrítica”, isso provaria que o PT de conjunto considera que o que houve em 2016 foi um golpe de Estado.
Não faz sentido algum.
Esperar uma autocrítica sincera de Suplicy seria, de fato, um erro, pois o apoio ao golpe de Estado não foi mera confusão política. Foi uma posição de classe. A ex-prefeita se aliou ao grande capital para derrubar o governo de seu próprio partido. Embora fosse uma conspiração, todos sabiam o seu objetivo: estabelecer um governo inimigo dos trabalhadores. Suplicy, que atua na política havia décadas, não pode alegar que não sabia o que estava acontecendo.
E seu apoio ao golpe, por sua vez, não foi discreto. Ela apoiou a Operação Lava Jato, saiu do PT e se filiou ao partido de Michel Temer, peça fundamental no golpe de Estado.
Ainda que Suplicy fizesse 1.000 autocríticas, não mudaria o fato de que ela é uma política cujos interesses se antagonizam com os do Partido dos Trabalhadores. Uma autocrítica seria, portanto, pura demagogia, uma forma de facilitar a sua conquista de mais um cargo público.
Mas, se a autocrítica de Suplicy seria uma farsa, por que também não seria uma farsa para os dirigentes do PT? Acaso eles não sabiam que houve um golpe em 2016? Acaso eles já esqueceram que o atual presidente da República, há menos de seis anos, foi preso como resultado desse golpe?
Perante os dirigentes petistas, a “autocrítica” serviria apenas para tentar salvar a sua própria reputação. Mas, em essência, nada mudaria. Ao aceitar essa mulher de volta, não importando que belas palavras falem, os dirigentes do PT estão necessariamente ignorando o golpe de Estado. Estão, portanto, indicando para as suas bases que não aconteceu golpe algum, deixando o caminho aberto para uma nova ofensiva da direita.
