Nas últimas semanas tivemos dias de significativa turbulência política no perímetro territorial das principais nações imperialistas, ou seja, nos EUA e na Europa.
Acerca dos EUA tirei dois artigos de títulos “A situação dos Democratas e da liderança do imperialismo” e “Kamala Harris e Michelle Obama: genocidas e sanguinárias”, acerca de alguns fatores constitutivos da manobra da burguesia neoliberal norte-americana que o leitor pode verificar e que pode contribuir para análise de alguns camaradas sobre o que ocorre no principal país imperialista do mundo.
Neste presente artigo irei me deter somente a situação do continente europeu, conforme o título já diz.
Reino Unido e a França, dois dos principais países do continente, foram de maneira mais recente o palco do reflexo desse processo político turbulento que a Europa vem vivenciando de forma sistemática. Digo vivenciando de maneira sistemática porque a agitação política que existe nessa territorialidade não começou nas últimas semanas, mas vem anos após ano ocorrendo, se intensificando e teve episódios de destaque nos últimos dias.
Ambos os países passaram pela dissolução do parlamento e processos eleitorais para redefinirem a composição de seus respectivos legislativos e governos.
Essa situação de falta de equilíbrio político para que a burguesia desses países dominassem como dominaram seus regimes políticos até os dias atuais tem como elemento de fundo o fato da Europa bucha de canhão da política neoliberal, do processo de desindustrialização e do jogo geopolítico, principalmente, do Estado Profundo norte-americano e do conjunto do sistema financeiro internacional.
Isso leva a uma circunstância política insustentável economicamente para as grandes massas, que veem o chamado Estado de bem-estar-social o qual estavam acostumadas se desintegrar e a estagnação/recessão tornar-se a regra. Enquanto isso, seus governos e a União Europeia, despejam bilhões de euros, ano após ano, em conflitos que não fazem sentido algum, como tem sido no caso da Ucrânia, onde, por exemplo, com a indisposição e o conflito indireto com os russos, tem disparado a inflação de itens fundamentais para reprodução social, como energia, fertilizantes, etc.
A disparada inflacionária dos últimos anos que em vários lugares bateu recorde nos últimos 40 anos, veio ter uma relativa mudança por agora. Mas à qual preço? Taxas básicas de juros elevadíssimas, desempenho do PIB estagnado e/ou em recessão, sobre tudo, nos principais países imperialistas europeus.
O esmagamento das condições de sobrevivência da população tem gerado um processo de descontentamento com o regime político estabelecido nos países do continente europeu, causando a sua contínua desagregação.
Diante de tal fato, a burguesia neoliberal dos países europeus tem procurado manobrar politicamente para manter o controle do poder político e a renovação dos parlamentos e dos governos, do Reino Unido e da França, nos dão tal demonstração. E tal manobra valendo-se inclusive da própria esquerda.
De forma constante a imprensa capitalista e a esquerda de classe média no Brasil martelaram em nossos ouvidos o fato de que a democracia foi salva na Europa. E foram além: a esquerda europeia seria a grande vitoriosa com os processos eleitorais do Reino Unido e da França.
É impressionante o quão rasas são essas avaliações por parte da esquerda, pois da burguesia já é de se esperar que a mesma vai mistificar os fatos e propagandear em favor de suas posições.
No Reino Unido, o Partido Trabalhista foi dominado por sua ala direita e pró-imperialista através de um expurgo onde vários dirigentes vinculados à ala esquerda foram expulsos, incluindo entre eles Jeremy Corbyn. O atual primeiro-ministro, Keir Starmer, é um sionista e apoiador da Ucrânia no conflito com a Rússia, alinhado aos interesses do sistema financeiro internacional. Os trabalhistas tiveram o menor percentual de votação para um governo majoritário na história, numa já clara demonstração de desagregação de sua popularidade e que existe uma determinada consciência de que eles estão aí para implementar o programa neoliberal que tem levado o conjunto dos países europeus para bancarrota.
Já na França as coisas caminham para um golpe contra a esquerda, que apesar de ter obtido a maior votação no pleito, ao que tudo indica não escolherá o primeiro-ministro, pois não tem maioria de assentos, obrigando-os a ter de chegar novamente a um acordo com os macronistas em detrimento da extrema-direta. A manobra de Macron na convocação das eleições parlamentares foi de reduzir a votação da extrema direita e dividir o bloco da esquerda da Nova Frente Popular a ponto de conseguir ter uma posição favorável para perpetuar sua chantagem política para que se evite o “extremismo” no governo. Essa situação o favoreceu e ao que tudo indica essa situação vai revigorar seu governo, garantindo que mantenha de maneira geral o controle sobre a situação.
As manobras políticas na França e no Reino Unido deram sobrevida para os neoliberais donos dos regimes políticos dos países europeus, e dessa vez sob a maquiagem de esquerdistas. Esse processe da esquerda de se acoplar aos neoliberais, apenas contribuirá para que essa alcance o mais rápido possível um alto grau de impopularidade e permitirá que o caminho fique cada vez mais aberto para extrema-direita, acelerando um processo já em curso em que essa última se transformará em força política hegemônica no continente.
Essa situação é de se esperar e também que o conjunto da burguesia imperialista se desloque para extrema-direita, pois o seu programa político com os neoliberais atualmente somente fornece para a população a destruição das condições econômicas de sua sobrevivência e lhes oferta aventuras belicistas internacionais. A esquerda, ao se agrupar nesse bloco político do imperialismo dito “democrático”, não se torna em uma opção efetiva para a população, mas sim em uma ferramenta de manutenção do esmagamento desta última. Deixando assim um espaço político para que a extrema-direita faça demagogia e se torne uma opção de salvação do sistema capitalista, porém com um regime político modificado, adequado para um intenso ataque repressivo aos trabalhadores.