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Golpes na América Latina

EUA estão por trás de golpe contra Xiomara Castro

Principal força da América Latina, o Brasil tem a responsabilidade de se posicionar ao lado de governos como o de Castro, Maduro e outros regimes rebeldes

A presidente de Honduras, Xiomara Castro (Partido Libre), tem criticado fortemente o governo dos EUA pela intenção de iniciar um “golpe de Estado” após a divulgação de um vídeo de dez anos atrás pela ONG Insight Crime. As imagens insinuam que um cunhado de Xiomara Castro estaria negociando um pagamento a homens que logo confessaram ser traficantes de drogas.

O vídeo foi divulgado em meio ao conflito entre o governo norte-americano e a presidente Castro, que havia demonstrado relações amistosas com a Venezuela após a vitória de Nicolás Maduro nas eleições de julho. Dias antes da divulgação do vídeo, a presidente de Honduras havia anunciado o rompimento de um antigo acordo de extradição com os EUA.

Com a divulgação das imagens, a mandatária hondurenha declarou: “Não permitirei que o instrumento de extradição seja usado para chantagear as Forças Armadas hondurenhas”, em resposta aos EUA.

A imprensa imperialista, em apoio ao governo dos EUA, classificou o episódio como um “ato de corrupção”. Um desses portais publicou a seguinte manchete: “A Honduras de Castro poderia fazer parte da narco-corrupção que jurou erradicar”.

Uma investigação realizada pelo portal The Grayzone, especializado em reportagens investigativas, concluiu que a gravação foi lançada estrategicamente para frear a tendência de independência crescente do governo de Xiomara Castro em relação a Washington. O portal revelou que figuras-chave nessa ofensiva diplomática estão diretamente vinculadas ao governo dos EUA, inclusive a Insight Crime, que é associada ao Departamento de Estado (equivalente ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil).

O vídeo teria sido gravado em 2013 por narcotraficantes que atuavam como informantes da Administração para o Controle de Drogas (DEA). A gravação ocorreu em um momento de alta tensão diplomática, em 28 de agosto de 2013, próximo às eleições presidenciais em que Xiomara Castro concorria contra Juan Orlando Hernández. Isso aconteceu após uma reunião entre comandantes militares da Venezuela e de Honduras. Como resultado, a embaixadora dos EUA acusou publicamente Carlos Zelaya, irmão de Manuel Zelaya (deposto em 2009 por golpe de Estado), de ter se encontrado com um traficante de drogas.

Carlos Zelaya afirmou que não conhecia essas pessoas, que não aceitou nenhum dinheiro, e renunciou ao cargo no Congresso enquanto aguardava o resultado da investigação.

A recente acusação da embaixadora dos EUA fez o governo de Xiomara Castro perceber a clara intenção de mais uma tentativa de golpe de Estado, desta vez no formato de uma “Revolução Colorida”. Como o governo acredita que a Insight Crime possui uma cópia do vídeo desde 2022, Washington estaria usando as imagens no momento oportuno, o que caracterizaria uma tentativa de golpe contra o governo.

O golpe de Estado contra Manuel Zelaya, em 2009, deu início a 12 anos de uma ditadura criminosa, marcada pelo terror e pelo neoliberalismo acentuado. Em junho de 2024, a pessoa mais visivelmente ligada ao narcotráfico é justamente o ex-presidente que tomou posse no lugar de Manuel Zelaya, Juan Orlando Hernández, condenado a 45 anos de prisão em uma penitenciária federal em Nova York. A investigação do Grayzone revelou que o governo dos EUA protegeu Hernández enquanto ele “enchia o nariz dos americanos de drogas”.

Embora inicialmente tenha parecido que Washington estava disposto a tolerar o governo de Xiomara, agora lançou seu primeiro ataque direto.

Um dos assessores da presidente de Honduras, Carlos Estrada, especialista em relações internacionais, disse ao Grayzone: “Fica claro que as palavras da embaixadora coincidem com o momento em que o vídeo foi divulgado.”

Fica evidente que a intenção é a “desestabilização”, nas palavras dele.

O governo de Castro resolveu romper o tratado de extradição com os EUA depois que a embaixadora em Honduras fez um “comentário extremamente irresponsável e antidemocrático”, disse Carlos Estrada. Ele explicou que o comentário foi feito em relação a uma ação comum do ministro da Defesa hondurenho, que visitava seu homólogo na Venezuela.

A embaixadora qualificou a visita como um encontro com uma pessoa ligada ao narcotráfico, de acordo com a visão dos EUA. Isso deixou o governo em alerta para a possibilidade de “lawfare” — o uso indevido das leis para perseguir ou prejudicar as pessoas —, o que poderia se expandir para os principais líderes do governo de Xiomara e de seu marido, Manuel Zelaya.

Carlos Estrada disse ao Grayzone que estão surgindo problemas no horizonte. Ele apontou para os ataques nas redes sociais, promovidos pelos mesmos opositores do governo, partidos ligados aos cartéis de drogas.

À medida que o governo se torna mais independente, os EUA buscam recuperar o controle sobre Honduras. Estrada disse que um sinal recente foi a nomeação de Laura Dogu como embaixadora em Honduras logo após a eleição de Biden.

Ela foi nomeada três semanas antes da vitória espetacular de Xiomara, em novembro de 2021. Dogu já havia servido na Nicarágua em 2018 e supervisionou o golpe violento que resultou na morte de centenas de pessoas.

A divulgação do vídeo visa neutralizar líderes políticos. Estrada afirmou que a embaixadora está implementando uma agenda disruptiva. Ela foi um agente de desestabilização na Nicarágua e, segundo ele, sua atuação em Honduras segue a mesma lógica.

Desde o início, Dogu tem agido como “cão de guarda” dos interesses da classe dominante dos EUA. Sua primeira declaração “preocupante” ocorreu apenas quatro meses após o início do governo Castro, quando fez forte pressão contra as reformas energéticas, que buscavam combater os aumentos abusivos praticados pelas empresas do setor.

Foi a partir daí que a presidente Xiomara começou a denunciar diretamente as interferências estrangeiras. Desde então, as críticas às decisões soberanas de seu governo — na política social, econômica e nas relações exteriores — têm sido constantes.

Ela se aliou à Insight Crime na publicação do vídeo contra Carlos Zelaya. Não está claro como o portal obteve as imagens, mas as circunstâncias de sua produção e algumas observações dos autores do portal fornecem algumas pistas.

A publicação do vídeo foi acompanhada por um artigo que mencionava que “as imagens teriam sido entregues às autoridades dos EUA” por Devis e Javier Rivera, líderes do cartel “Los Cachiros”, que gravaram o vídeo e o entregaram à DEA em dezembro de 2013 como parte de um acordo. Logo, o vídeo foi arquivado. No caso de Devis, a DEA estava tão ansiosa para fazer o acordo que pareceu disposta a ignorar sua confissão de envolvimento em 78 homicídios.

Como resultado da cooperação, “nenhum dos traficantes foi a julgamento nos EUA”, o que significa que o vídeo nunca havia sido divulgado. “De alguma maneira, a Insight Crime obteve uma cópia de uma fonte e aparentemente se recusou a revelar sua identidade”. “Logicamente, os EUA não querem sujar suas mãos”, disse Estrada.

O Insight Crime, o portal favorito do Departamento de Estado, foi fundado em 2010 por Jeremy McDermott e Steve Dudley com subsídios da Fundação Open Society (do banqueiro George Soros) e rapidamente ganhou reputação, tendo como alvo os governos da América Latina demonizados por Washington.

Isso não é coincidência, pois o Insight Crime é financeiramente dependente do governo dos EUA. Rastreadores de fundos do governo americano demonstraram que o portal já recebeu mais de US$ 1 milhão do Departamento de Estado, o que representa apenas a ponta do iceberg. Segundo a American University, os “principais financiadores” incluem também a Open Society, a Embaixada Britânica na Colômbia, a USAID, o Centro Internacional para Pesquisa em Desenvolvimento do Canadá, o governo sueco, entre outros.

O portal frequentemente exibe suas interações com o Departamento de Estado, como na “Conferência Internacional sobre Corrupção” em 2022, e com McDermott denunciando a presença de guerrilhas colombianas na Venezuela.

McDermott, descrito em seu perfil como “ex-oficial do exército britânico que serviu na Irlanda do Norte e na Bósnia”, tem forte influência dos serviços de inteligência britânicos. Seu perfil no LinkedIn indica que ele atuou como capitão das forças especiais.

Por meio de seus fundadores, o Insight Crime mantém relações ativas com pessoas envolvidas no crime organizado e afirma conduzir investigações extensivas com atores legais e ilegais.

Desde a divulgação do vídeo, as figuras políticas de Honduras têm se posicionado de forma previsível. O partido Libre, em sua maioria, apoia a presidente, enquanto opositores pedem sua demissão.

Carlos Zelaya disse que foi procurado por empresários importantes e julgou necessário ouvi-los, já que eles ofereceram apoio financeiro.

Steve Dudley e outro membro do portal não se mostraram seguros ao afirmar que Zelaya havia cometido crime e aceitaram participar de um programa de TV para responder perguntas.

Comentários posteriores de Dudley sugerem o verdadeiro motivo: “O vídeo causa um tipo de impacto diferente de outras formas de evidência.”

O governo hondurenho acredita que isso seja um claro exemplo de uso abusivo de leis contra o governo, o partido Libre e sua base eleitoral.

Ao acessar rapidamente o portal Insight Crime, é possível visualizar matérias sobre o crime organizado no Equador, corrupção no Uruguai, extorsão de detidos pelas forças de segurança da Venezuela, sanções contra membros das Autodefesas Gaitanistas da Colômbia, entre outros.

A divulgação desse vídeo é mais um indício de que os EUA estão intensificando sua política de golpes de Estado, agora de forma ainda mais agressiva do que em 2009, quando o então presidente hondurenho, Manuel Zelaya, foi derrubado. A ação orquestrada por Washington contra Castro demonstra que a estratégia de desestabilização se tornou ainda mais radical, aproveitando-se da crise imperialista, que está em um estágio muito mais avançado e caótico. O cenário global de hoje exige que o imperialismo intensifique seu controle sobre nações atrasadas, como parte de sua tentativa desesperada de manter sua hegemonia em declínio.

Nessa conjuntura extremamente conflituosa, a ditadura mundial liderada pelos EUA se torna mais feroz e brutal, visando qualquer governo que ameace seus interesses, mesmo que minimamente. O aumento dessa política de intervenção direta, chantagem econômica e golpes de Estado, reflete a gravidade da crise do imperialismo, que se vê obrigado a recorrer a métodos cada vez mais extremos para manter sua dominação.

Como principal força política e econômica da América Latina, o Brasil tem a responsabilidade de se posicionar claramente ao lado de governos como o de Xiomara Castro, Nicolás Maduro na Venezuela e todos que se encontrem em rota de colisão com os EUA. A solidariedade com países oprimidos pelas potências imperialistas não é apenas uma questão de princípio, mas também uma necessidade estratégica para o Brasil se proteger da nova onda de golpes de Estado que está em curso. Apoiar Honduras e outros países que resistem às investidas do imperialismo é crucial para evitar que o mesmo destino seja imposto à nossa própria soberania.

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