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São Paulo

Esquerda quer ‘civilizar’ Tarcísio?

Defesa da "moderação" na celebração dos crimes da PM revela por parte da esquerda revela desejo de reviver o decrépito centro político composto por PSDB, MDB e União Brasil

O jornalista do portal Brasil 247 Alex Solnik publicou, no último dia 4, um artigo intitulado Ou Tarcísio demite Derrite ou derrete, com a ambição de alertar o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) sobre os riscos políticos de manter no cargo o secretário de Segurança Pública Guilherme Derrite. Na consideração de Solnik, a continuidade de Derrite pode arruinar as chances de Tarcísio de disputar com sucesso a Presidência da República em 2026 e derrotar o virtual candidato à reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o jornalista, o governador bolsonarista deve “demitir” o secretário da Segurança Pública Guilherme Derrite, com toda a urgência”, diz, acrescentando ainda:

“Se o governador Tarcísio de Freitas não quiser ficar com a pecha do ex-governador Abreu Sodré, que criou, incentivou e protegeu o Esquadrão da Morte nos tempos da ditadura, tem que demitir seu Secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, com toda a urgência.”

Em primeiro lugar, chama atenção o fato de Solnik querer aconselhar um governador bolsonarista sobre como derrotar Lula. Demonstrando a magnitude da subordinação política do jornalista à direita mais alinhada ao imperialismo, ele apela para que Freitas adote um estilo mais “civilizado”, inspirado em figuras como Geraldo Alckmin e outros direitistas ensaboados, apresentados como modelo pelo articulista de Brasil247 por algum motivo misterioso, uma vez que fazem parte do centro político falido e que só contam com uma sobrevida graças às capitulações da esquerda.

Ao sugerir que Freitas se comporte bem diante das câmeras para evitar a pecha de “novo Abreu Sodré”, Solnik soa como alguém que esteve em coma nos últimos dez anos e nunca viu a extrema direita brasileira enaltecer não apenas Sodré, mas de toda a obra macabra Ditadura Militar (1964-1985), defendida pelo bolsonarismo em camisetas como as que homenageiam o torturador coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Além disso, o Brasil inteiro viu e ouviu o famoso voto do próprio Jair Messias Bolsonaro, na ocasião da derrubada da então presidenta Dilma Rousseff (PT), dedicado ao coronel criminoso. Para a base bolsonarista, o Esquadrão da Morte não é uma mancha na história, mas um troféu.

É parte intrínseca da política da extrema direita o apelo aos instintos mais bárbaros dos homens, a defesa intransigente de medidas brutais e o apoio a matança indiscriminada da camada mais pobre da população pela polícia, que não por acaso, constitui uma das bases sociais mais importantes do bolsonarismo. Nenhum setor da direita se sensibilizará com a perspectiva de “ficar com a pecha” de Sodré, da mesma forma que não demonstram preocupação alguma com qualquer “pecha” referente à Ditadura Militar ao aprovarem o golpe contra a presidenta Dilma no Congresso. Quando se fala, porém, de bolsonaristas com medo de “parecerem” um governador da Ditadura, no entanto, a colocação é ainda mais ridícula e infantil.

Fosse, no entanto, apenas uma posição idiota, seria possível deixar passar em branco a tentativa cômica de “orientar” Tarcísio a salvar sua imagem com uma guinada tucana. Ocorre que a defesa de Solnik revela também um desejo latente de reviver o decrépito centro político composto por PSDB, MDB e União Brasil, e isso sim, deve ser apontado e combatido pela esquerda.

Não está explícito, mas é perceptível que os desacordos entre o imperialismo e o bolsonarismo continuam no tom adotado pelos principais jornais do País, todos porta-vozes da ditadura mundial em primeiro lugar. A “moderação” defendida faz do jornalista o braço esquerdo com o qual o imperialismo tenta disciplinar o bolsonarismo e o próprio Freitas. 

O texto de Solnik, com essa disputa em mente, é uma tentativa de reforçar o mito de uma direita “civilizada”, à Alckmin, cuja passagem pelo Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista), marcou episódios de selvageria policial contra trabalhadores e estudantes, além de chacinas como a de Osasco e Barueri. A diferença entre o atual vice-presidente e o governador bolsonarista, finalmente, é o tamanho da desfaçatez. Sendo um pequeno-burguês típico e expressando sua classe social, Solnik faz um ode ao descaramento tucano, em um vale-tudo que não tem outro objetivo, mas tentar reanimar o semi-morto PSDB.

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