No artigo Bolsonaro se reposiciona: saem de cena os militares e entram os pentecostais, publicado pelo Brasil 247, a jornalista Denise Assis procura explicar por que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que é vítima de uma série de processos e que está sob ameaça de ser preso, conseguiu mobilizar tantas pessoas no dia 25 de fevereiro. Segundo ela, o êxito de Bolsonaro consistiria em ter aberto mão da participação de militares e em ter convocado os evangélicos para saírem em seu apoio:
“Ou com 185 mil seguidores fanáticos, trajando verde e amarelo, ou com 500 mil, ou com 700 mil, um fato é inegável: Jair Bolsonaro obteve na Av. Paulista a foto que tanto almejava: a de um aglomerado de bolsominions reunidos em torno do seu nome, gritando “mito”. Um fato, porém, é preciso ser registrado, pois trata-se de um ponto de inflexão importante. Foram varridos do seu palanque – pelo rigor das investigações, principalmente as da operação do dia 8 de fevereiro, Tempus Veritatis -, os militares”.
Mas quando foi, exatamente, que Bolsonaro fez uma mobilização em que os principais participantes eram integrantes das Forças Armadas? A não ser o seu desfile de 7 de setembro de 2021, que é um evento em que oficialmente as forças armadas participam, as manifestações convocadas por Bolsonaro são protagonizadas, fundamentalmente, por sua base de apoiadores. Que é, em sua maioria, religiosa.
Mas Denise Assis, ao destacar que foram “seguidores fanáticos”, retorna com a velha campanha de setores da esquerda que afirmam que os apoiadores de Bolsonaro seriam todos “gado”. Isto é, pessoas que não pensam, que são atraídas para defender o ex-presidente porque seriam completamente despolitizadas.
Se fosse assim, não haveria por que esses mesmos setores da esquerda defenderem que os manifestantes do 8 de janeiro de 2023 fossem punidos com 17 anos de prisão. Afinal, se eles não sabiam o que estavam fazendo, não deveriam ser punidos…
Os tais “fanáticos”, que seriam os evangélicos, são nada menos que 31% da população. Se, por causa de uma religião, Denise Assis pretende desqualificar um terço da população brasileira, desmerecendo sua participação na vida política do País, somos então forçados a concluir que a população inteira não deveria se manifestar, sair às ruas, apoiar uma liderança etc.
A ideia de que Bolsonaro é apoiado por uma horda de fanáticos não vem por acaso. É uma tentativa de explicar por que milhares de pessoas decidiram apoiar alguém que, enquanto presidente do País, foi corresponsável pela morte de mais de 600 mil brasileiros e ainda entregou a Eletrobrás, uma das maiores empresas de energia do mundo, para os capitalistas. A resposta, no entanto, não está na loucura coletiva. Está na política que a esquerda, que deveria combater o bolsonarismo, vem defendendo.
No final das contas, ao colocar a culpa no “povo”, que seria incapaz de discernir quem seriam as melhores lideranças para o País, Denise Assis está se eximindo de criticar a política criminosa da esquerda de apoiar o Supremo Tribunal Federal (STF), a Rede Globo e qualquer outro inimigo político que finja ser contra o bolsonarismo.