Irã

Esquerda Macron quer derrubar o governo nacionalista do aiatolá

O partido francês Revolução Permanente não perde uma oportunidade de atacar o regime nacionalista do Irã, não percebe que assim atuam como ala esquerda do governo Macron

A esquerda pequeno burguesa pressionada pelo imperialismo começa a atacar os regimes nacionalistas no mundo inteiro. O Irã é um dos grandes alvos, pois está sendo um gigantesco entrave para a dominação imperialista no Oriente Médio. As eleições recentes, em que o candidato chamado de moderado venceu, se tornaram novo assunto para atacar o regime nacionalista. O partido francês Revolução Permanente publicou em seu portal o texto “Eleição do ‘reformista’ Pezeshkian no Irã: uma garantia de oposição para Khamenei”.

O texto começa: “após a morte do ex-presidente Ebrahim Raïssi, em 19 de maio, o candidato reformista estava em uma posição desfavorável para vencer a eleição. Seguido de perto pelo ultra-conservador Saïd Jalili, que tinha a preferência do secretariado do aiatolá Khamenei, o candidato ‘reformista’ estava ameaçado pela transferência de votos de Mohammad Ghalibaf, o terceiro colocado na eleição, com 13,8% dos votos. No entanto, o apoio dos conservadores à candidatura extremista de Jalili não era certo, e parece que uma parte significativa do eleitorado de Ghalibaf preferiu se aliar a Pezeshkian, permitindo-lhe vencer a eleição com 16 milhões de votos”.

A descrição dos fatos é correta. Mas as análises erradas já começam aqui. Primeiro que Jalili não era necessariamente o preferido de Khamenei. O que ficou claro é que um setor grande da Guarda Revolucionária apoiava Ghalibaf. Isso é interessante, pois ele não foi um candidato mais votado dentre os nacionalistas, mas sim um setor mais radical. Mas ainda mais importante que isso é a classificação absurda de “conservador” e “reformista” usada pela RP. Essa é a linguagem da imprensa burguesa que define o regime nacionalista como Irã como conservador e reacionário. O que eles chamam de conservadores são a ala mais nacionalista, mais alinhada com a Rússia e a China. Ou seja, a RP faz uma caracterização reacionária dos atores políticos do Irã.

Então começa o tradicional ataque imperialista: “a chegada ao poder de um reformista é, indiscutivelmente, uma surpresa, visto que as candidaturas às eleições presidenciais são rigidamente controladas pela burocracia pasdare e que o poder iraniano se tornou mestre na arte de manipular os resultados das urnas”. Toda eleição é controlada pelo regime político em que ela está contida. Mas a campanha tradicional do imperialismo é de questionar as eleições dos governos que são atacados pelo imperialismo. O próprio foco em criticar o Irã é estranho. O país está sofrendo sanções do imperialismo, o normal da esquerda é defendê-lo diante desses ataques.

O artigo então chega à tese do governo impopular: “enquanto as instituições da constituição de 1979 estão massivamente deslegitimadas e a base social do regime se contrai cada vez mais, Khamenei fez a aposta política de abrir ligeiramente a campanha para figuras mais moderadas. Enquanto a taxa de participação desmorona a cada eleição e o poder não é mais capaz de suscitar a mobilização massiva da população”. O trecho mostra que o RP está desconectado da realidade. O Irã foi palco da maior manifestação do mundo esse ano em defesa do governo. Atos aconteceram em todo o país logo após a morte do ex presidente. Os três dias de velório superaram os atos realizados pelo governo do Iêmen.

Outra manifestação gigantesca em apoio ao regime aconteceu em 2020 após o assassinato de Qassem Soleimani pelos EUA. Essas foram tão grandes que nem a imprensa burguesa conseguiu esconder. O jornal The New York Times afirmou que o velório era uma multidão que ocupava uma estrada de 30km. Qual governo no mundo tem essa popularidade? Um governo impopular nunca sobreviveria à pressão gigantesca que o imperialismo faz sobre o país. A RP não segue a realidade, segue a imprensa burguesa da França.

O texto segue com a tese de que o líder do Irã perdeu em sua suposta manobra eleitoral: “se Khamenei perdeu sua aposta e não conseguiu restaurar a confiança dos iranianos nas instituições fantasmagóricas da velha constituição, sufocada pelo desenvolvimento agressivo dos aparatos burocráticos do poder islâmico, a vitória de Pezeshkian pode oferecer ao regime os meios para restaurar parcialmente sua imagem junto às massas iranianas. Candidato moderado, ele oferece a Khamenei a possibilidade de argumentar que, no Irã, a alternância política ainda é possível, e dá ao poder uma chancela ‘de oposição’”.

Primeiro, é preciso comentar o ataque de tipo imperialista novamente. Os “aparatos burocráticos do poder islâmico” poderiam ser um termo escrito pelo Estadão. A ideia por detrás disso é que o Irã é uma ditadura. É a tese do imperialismo, “democracia contra a ditadura”, a tese que leva a esquerda a ser contra o nacionalismo no mundo inteiro. Segundo, ele frauda a realidade mais uma vez. Ele afirma que é uma grande mudança o moderado no poder, mas os moderados governaram o Irã diversas vezes, a última delas sendo o governo Rohaini, que terminou em 2021. O que é mais uma prova da falsificação da tese de “ditadura islâmica”.

Depois, o RP mostra que não entende nem mesmo quem é Pezeshkian: “se a linha de Pezeshkian é indiscutivelmente oposta às diretrizes reacionárias do Guia Supremo, o candidato vencedor está, no entanto, muito bem integrado ao jogo político iraniano. Após já ter exercido vários cargos ministeriais, o médico pode contar com o apoio de figuras importantes da vida política iraniana, às quais o poder confiou tarefas particularmente sensíveis, como Mohammad Javal Zarif, o ministro das Relações Exteriores que participou das negociações do acordo nuclear iraniano”. Mais uma vez uma mentira. Pezeshkian logo após ser eleito declarou apoio ao Hesbolá, ao Hamas e a todo Eixo da Resistência. Essa é exatamente a mesma linha que Khamenei. Isso indica que a diferença política tem mais relação com questões internas do que externas.

Já finalizando o texto, a RP afirma: “a vitória do reformista constitui, deste ponto de vista, um trunfo político para o regime, que pode esperar que a eleição de Pezeshkian participe parcialmente da canalização das mobilizações populares e suscite algumas esperanças entre as massas iranianas hostis ao poder”. Aqui fica clara a incompreensão do partido francês. Quem mais oprime os iranianos, não é o aiatolá Khamenei, são os EUA.

E já aos 45 minutos do segundo tempo a RP se entrega: “não se pode excluir, assim, que o ‘reformista’ não quebre, durante seu mandato, as últimas ilusões legalistas da oposição à burocracia e participe de devolver às mobilizações de base, como as que abalaram o país após a morte de Mahsa Amini, toda sua centralidade estratégica”. A RP considera a manifestação organizada pelas ONGs identitárias como um movimento real e desconsidera que Khamenei é um líder revolucionário. O apoio ao imperialismo é escancarado.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.