Como era de se esperar, a esquerda pequeno-burguesa adentrou na campanha da burguesia e da imprensa golpista em defesa do aumento da repressão. No que os esquerdistas de meia-tigela acham que vai ser uma “caça” aos bolsonaristas, estão apoiando, na verdade, um aumento total da repressão em território nacional. A justificativa da vez foi o “atentado” (entre aspas, pois ainda não foi devidamente esclarecido) que ocorreu na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na quarta-feira (13).
Dois apresentadores da TV 247, Paulo Moreira Leite e Alex Solnik, publicaram colunas no Brasil 247 defendendo o aumento da repressão aos bolsonaristas. PML destacou que “o ataque em Brasília expôs a ação de uma força golpista criminosa, claramente incompatível com a ordem constitucional que deveria proteger”. Ele ainda associa o atentado fracassado de um bolsonarista isolado com as mobilizações bolsonaristas de 8 de janeiro do ano passado, que foram usadas para aumentar a perseguição política e a ditadura do Judiciário.
“Naquela ocasião, militares e ativistas de extrema direita, mobilizados para criar um ambiente propício a um golpe de Estado, invadiram os principais edifícios do poder político em Brasília. A operação visava fomentar um ousado projeto golpista, que incluía até um plano para detonar uma bomba no Aeroporto de Brasília”, afirma PML, esquecendo que os “golpistas” não estavam nem sequer armados e, portanto, não teriam como tomar o poder.
Já Alex Solnik designou o bolsonarista do “atentado” de “terrorista”, fazendo coro com a política do imperialismo contra o “terrorismo” — enquanto se ignora, por exemplo, o verdadeiro terrorismo: o terrorismo de Estado, como aquele praticado por “Israel” contra os palestinos.
O alinhamento de Solnik com a política do imperialismo se dá mesmo através dos exemplos dados, destacando que “homens-bomba de verdade, de carne e osso, eram os terroristas da Al Qaeda, aqueles que se autoexplodiam muito longe do Brasil”. Quer dizer, os terroristas são os membros da Al Qaeda, de Osama Bin Laden, que, apesar de ter colaborado com o imperialismo no Afeganistão, dedicou sua vida após isso para lutar contra os Estados Unidos.
Solnik também conecta o caso com a manifestação de 8 de janeiro: “os alvos foram os mesmos: o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF. O modus operandi, tipicamente terrorista, também. A diferença é que os vândalos do 8/1 queriam matar a democracia, mas sobreviver, e esse cara queria matar a democracia e se matar”.
E ele ainda indaga: “agiu sozinho ou faz parte de uma célula terrorista? Há outros ‘homens-bomba’ anônimos em cidades aparentemente bucólicas e pacatas? […] Se aconteceu naquela que deveria ser a cidade mais protegida do país, pode acontecer em qualquer lugar”.
Quer dizer: vasculhem todas as casas! Prendam todos os “terroristas”! Acabem com todas as liberdades! Vamos chamar nosso próprio Ato Patriótico. Nisso, Solnik não difere em nada de George W. Bush, que aproveitou o ataque às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001 para retirar todos os direitos dos cidadãos norte-americanos, que passaram a ser espionados 24 horas por dia.
No mesmo sentido, o ultrassionista e diretor da Fundação Perseu Abramo (do PT), Alberto Cantalice, escreveu nas redes sociais que “minimizar os estímulos ao crime que o bolsofascismo apresenta dia a dia será o fim da democracia no Brasil”. Salvem a democracia! Prendam não só os “terroristas”, mas todos os bolsofascistas, que “estimulam o crime”.
O mais importante disso tudo é que a política da esquerda é, palavra por palavra, vírgula por vírgula, ponto por ponto, idêntica à defendida pela imprensa imperialista: fechar o regime. Vejamos.
Alexandre de Moraes, o ditador do Supremo Tribunal Federal (STF), buscou associar o crime ao próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e ao chamado “gabinete do ódio”, e também afirmou que o ocorrido não foi um “fato isolado”, relembrando a manifestação de 8 de janeiro do ano passado. A imprensa afirma, inclusive, que ele será, provavelmente, o responsável por investigar o caso.
Já um artigo do Estado de S. Paulo destacou que “explosões na Praça dos Três Poderes enterram as chances de anistia a acusados pelo 8 de Janeiro” e que “[o] episódio mostra que ameaças à Corte continuam vivas e tende a fortalecer as posições duras do ministro Alexandre de Moraes”.
Vejam, poderia ser PML, Solnik ou até Cantalice falando. Mas não: é a tradicional burguesia golpista que defende o aumento da repressão. A diferença é que, enquanto a direita tem claro que estão usando pretextos para fechar o regime político em geral, aumentando a repressão política e os ataques aos direitos democráticos; os analistas esquerdistas são meros tolos que acham que o aumento da repressão apenas atingirá seus aliados: os bolsonaristas.
Além disso, essa esquerda mostra total incapacidade de avaliar os acontecimentos políticos. A repressão estatal, em nenhuma medida, freará a extrema direita. Essa mesma burguesia que fala em nome da “democracia” agora, utilizará o fascismo quando lhe for necessário para combater os trabalhadores e suas organizações. Hitler chegou a ser preso na década de 1920. 10 anos depois, estava no comando do país com apoio dos “democratas”, realizando uma ditadura tão atroz que só perde, na História, para o Estado de “Israel”.
Da mesma forma, Donald Trump e seus aliados trumpistas foram perseguidos nos Estados Unidos e isso não impediu que o republicano tivesse uma vitória arrasadora nas eleições deste ano. O bolsonarismo também não está perdendo força diante dos ataques judiciais, pelo contrário: as eleições municipais mostraram que eles estão ganhando terreno.
Quando a esquerda defende o fechamento do regime, está dando um tiro no próprio pé, pois os mesmos métodos antidemocráticos serão utilizados contra – e principalmente! – as organizações de esquerda. Mas, mais especificamente, quando ela defende a perseguição ao bolsonarismo, a mensagem que ela passa ao povo é: “nós somos o sistema, esse sistema podre e bancarroto; eles são contra esse sistema e estão tendo seus direitos caçados por lutarem contra nós”.
A esquerda precisa se distanciar da política da chamada “terceira via” e realizar um combate, de fato, à direita e à extrema direita, nas ruas, mobilizando o povo pelos seus interesses.