Jornalismo ou propaganda pró-imperialista? Barak Ravid é um jornalista norte-americano “especialista em Oriente Médio”, cujo passado é pouco divulgado: ele é ex-analista da Unidade 8200, uma das maiores agências de inteligência de “Israel”. Embora atualmente trabalhe para veículos como Axios, ele ainda estava ativo como reservista nas Forças de Defesa de “Israel” até recentemente, agindo como soldado de prontidão do exército nazista do enclave imperialista no Oriente Médio. É dele que saem muitas matérias utilizadas como fontes pelos principais jornais da burguesia.
A influência de Ravid na imprensa norte-americana é evidente. Em abril, ele ganhou o prestigioso prêmio de excelência da Associação de Correspondentes da Casa Branca. No entanto, muitos dos artigos premiados não passam de transcrições de informações anônimas fornecidas por fontes governamentais dos EUA e de Israel, apresentando esses governos de forma favorável e distanciando o presidente Joe Biden das ações militares israelenses.
Um exemplo foi a matéria intitulada “Biden sugere pausa de 3 dias na ofensiva para facilitar a liberação de reféns”, em que Biden é retratado como um líder humanitário, embora seu governo tenha apoiado militarmente “Israel” ao longo do genocídio e sido o maior responsável pelo massacre de dezenas de milhares de vidas palestinas.
Os textos de Ravid têm seguido uma tendência de sugerir que a administração Biden estaria se afastando de Netanyahu. No entanto, enquanto a retórica de distanciamento é publicada pela imprensa, os Estados Unidos seguem bloqueando resoluções de cessar-fogo na ONU e enviando bilhões de dólares em armas para “Israel”. Essa narrativa permite à administração norte-americana se apresentar como mediadora neutra, enquanto continua apoiando a ofensiva israelense.
A Unidade 8200, onde Ravid atuou, é conhecida por suas operações de espionagem, ataques cibernéticos e vigilância massiva. Em um de seus feitos mais recentes, a unidade foi apontada como responsável por um ataque via pager no Líbano, que matou nove pessoas e deixou cerca de 3.000 feridos, sendo condenado até por Leon Panetta, ex-diretor da CIA.
A agência também foi responsável pela criação de um sistema de inteligência artificial para sugerir alvos na Faixa de Gaza, incluindo mulheres e crianças, ampliando a repressão israelense. Além disso, há acusações de que a Unidade 8200 utiliza informações pessoais de palestinos – como histórico médico e vida íntima – para extorquir civis e transformá-los em informantes.
Ravid defendeu publicamente a ocupação da Palestina, afirmando que essa prática faz parte da identidade do Estado de “Israel”, que assim como não é um Estado, sequer possui identidade. Ele atacou colegas da Unidade 8200 que se recusaram a participar de atividades que consideravam antiéticas, sugerindo, de forma análoga ao que faziam os nazistas, que criticar a ocupação seria equivalente a se opor ao próprio povo.
Barak Ravid não é o único ex-membro da Unidade 8200 a atuar na mídia ocidental. Shachar Peled, que serviu como analista de inteligência e guerra cibernética, foi contratada pela CNN como produtora e mais tarde assumiu um cargo na Google. Tal Heinrich, outra ex-agente, também trabalhou na CNN, cobrindo a ocupação de “Israel” em Gaza entre 2014 e 2017. Atualmente, Heinrich é porta-voz oficial do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
Esses casos mostram como jornalistas com laços profundos com a inteligência israelense moldam a narrativa pública sobre o conflito no Oriente Médio. Em uma sociedade onde a imparcialidade da imprensa é essencial, a influência de ex-agentes de espionagem na mídia norte-americana levanta sérias questões sobre a integridade do jornalismo.
A atuação de jornalistas como Ravid e Heinrich não se limita à transmissão de informações enviesadas, porque o caso é mais descarado. Eles amplificam histórias mentirosas contadas pelo imperialismo, tal como em setembro, quando Ravid compartilhou um post no qual palestinos foram comparados a nazistas, referindo-se a eles como “PaliNazis”. Ele também promoveu uma alegação infundada do ministro da Defesa Yoav Gallant, que afirmava que combatentes palestinos celebravam o 11 de setembro em túneis subterrâneos.
A proximidade de jornalistas com governos e serviços de inteligência cria um ciclo de desinformação pró-imperialismo, dificultando o acesso do público a relatos precisos do Oriente Médio e privando os leitores da verdade de opressão na qual está submetido o povo palestino.
A influência da Unidade 8200 vai além da imprensa. Ex-membros da unidade criaram empresas de tecnologia de vigilância e espionagem, como o infame spyware Pegasus, usado para espionar líderes de países atrasados, líderes do próprio Estados Unidos que se opunham ao regime imperialista e trabalhadores de todo o mundo. Além disso, investigações recentes revelaram que muitas das principais empresas de VPN no mercado mundial estão sob o controle de ex-membros da Unidade 8200, como já noticiado por este Diário.
Em 2014, 43 reservistas da unidade denunciaram publicamente suas práticas antiéticas, afirmando que não havia distinção entre civis palestinos e combatentes em suas operações. Contudo, essa denúncia não resultou em mudanças significativas, e a relação entre a unidade e a imprensa burguesa continua firme.