No artigo Rodrigo Pacheco deve um pedido de desculpas ao presidente Lula, o articulista Aquiles Lins pede ao presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que se retrate por ter pedido ao presidente Lula para se retratar após ter comparado os crimes de “Israel” aos da Alemanha Nazista. Na ocasião, Pacheco afirmou que “estamos certos de que essa fala equivocada não representa o verdadeiro propósito do presidente Lula, que é um líder global conhecido por estabelecer diálogos e pontes entre as nações, motivo pelo qual entendemos que uma retratação dessa fala seria adequada”.
Segundo Aquiles Lins, agora, após “Israel” ter assassinado mais de 100 palestinos em uma fila para receber comida, Rodrigo Pacheco teria todas as provas de que o que acontece hoje na Faixa de Gaza é, de fato, um genocídio. E, por isso, Pacheco deveria desculpas ao presidente da República. Assim fala o articulista:
“Assim, diante das imagens absolutamente chocantes do exército de Israel abrindo fogo e matando civis indiscriminadamente, o presidente do Senado brasileiro se vê na incômoda posição de ter assumido o lado opressor da história. E agora tem que lidar com suas implicações políticas, éticas e humanitárias. Mas o político que ocupa a cadeira de presidente do Congresso Nacional, que busca em Lula seu avalista para uma eventual disputa ao governo de Minas Gerais nas eleições de 2026, produz um silêncio ensurdecedor. Pacheco não pode se apequenar diante da História. O ataque contra civis famintos em Gaza confirma o genocídio denunciado por Lula e exige do presidente do Senado uma postura à altura do cargo. Pacheco precisa reconhecer que a posição equivocada foi a sua própria, ao brigar com os fatos, e não a do presidente Lula, que teve a coragem de dizer o que nenhum chefe de estado do ocidente disse. E em seguida Pacheco deve fazer a retratação que ele reivindicou de Lula.”
É óbvio que o que ocorre em Gaza é um genocídio, assim como é óbvio que o massacre na fila de alimentos é uma demonstração irrefutável de que “Israel” comete crimes de guerra. O que chama a atenção no artigo de Aquiles Lins, contudo, é o seu esforço em tentar convencer Rodrigo Pacheco de que ele estava errado ao criticar o presidente da República.
Da forma como o articulista se coloca, seríamos então obrigados a concluir que, em quatro meses de guerra, Pacheco não teve acesso às informações necessárias para caracterizar o que ocorre em Gaza como um genocídio. Só agora, com assassinato de 100 pessoas, o presidente do Senado entenderia que o que “Israel” faz é criminoso. Fato é, no entanto, que qualquer pessoa minimamente informada, como é alguém que vive da política, como Pacheco, já sabia muito antes do 7 de outubro que “Israel” promove um genocídio em Gaza.
A forma como Aquiles Lins apresenta o problema nos leva a crer que Pacheco apenas cometeu um “deslize”. Ele criticou o presidente Lula por ignorância. Agora, munido das novas informações do diário de massacres do povo palestino, Pacheco irá se comover.
Não dá para levar tal coisa a sério. E nem o próprio Aquiles Lins leva a sério. Não sabe ele que Rodrigo Pacheco é um cacique do PSD, partido de Gilberto Kassab, que fazia parte do governo Dilma Rousseff até poucas semanas antes da votação do impeachment, quando abandonou o governo, apoiou o golpe de Estado e tornou-se ministro de Michel Temer? E que o próprio Pacheco votou pelo impeachment da presidenta, quando era deputado federal pelo MDB? E que o atual presidente do Senado chegou pela primeira vez ao posto com o apoio de Jair Bolsonaro?
A posição de Pacheco está muito longe de ser um “deslize”. É uma posição de classe. Assim como os representantes da burguesia brasileira se juntaram para apoiar a derrubada de Dilma Rousseff, eles hoje estão todos juntos no apoio ao genocídio na Faixa de Gaza. Afinal, o sionismo é um braço do imperialismo. Pacheco, ao criticar Lula, apenas reforçou o fato de que faz parte do bloco de empresários, políticos e banqueiros que sustentam o morticínio.
Mas se Aquiles sabe disso, por que pede para que Pacheco não se “apequene”? Porque, no desespero diante do bolsonarismo, um setor da esquerda passou a apoiar os mesmos setores que organizaram o golpe de 2016.
O genocídio em Gaza, no entanto, deve servir de lição de que, no fundamental, não há diferença entre o bolsonarismo e a direita que se diga “antibolsonarista”. São todos cúmplices do genocídio e devem ser combatidos pela esquerda e o conjunto do movimento operário.