A vergonhosa capitulação de Lula na questão da Venezuela ofuscou um aspecto muito importante da Cúpula dos BRICS em Cazã: a adesão da Turquia ao grupo de países amigos dos BRICS. Um país membro da OTAN está prestes a ingressar na união dos países anti-imperialistas. A Turquia, tradicionalmente uma aliada fiel do imperialismo, cada vez mais se distancia de seus antigos algozes.
A composição dos BRICS é interessante, pois permite uma análise da geopolítica tradicional. O bloco, composto por China, Rússia e Irã — os maiores países que atualmente se opõem à dominação imperialista — tem levado governos de toda a Ásia a se afastarem do imperialismo, até mesmo os mais submissos.
Vale analisar o caso do Paquistão. O país sofreu um golpe de Estado em 2022, com a imposição de uma ditadura militar controlada pelos EUA. Ainda assim, não consegue se opor ao seu principal vizinho, o Irã. Este chegou a realizar operações militares conjuntas em cooperação com o governo golpista do Paquistão, atacando alvos do Jaish ul-Adl, um grupo armado ligado ao sionismo e ao imperialismo.
A Turquia também está inserida nesse contexto, mantendo proximidade com a Rússia e o Irã. Situada no Oriente Médio — região onde o imperialismo rapidamente perde o controle —, mesmo o governo de Erdogan sendo anteriormente um grande apoiador do imperialismo, vem se tornando cada vez mais independente. Curiosamente, no dia em que Erdogan embarcou para a Rússia, ocorreu um atentado na capital turca, supostamente organizado por curdos ligados aos EUA.
Nesse sentido, Erdogan seria o “Lula ao inverso”; mesmo tradicionalmente pró-imperialista, não consegue manter essa posição em meio à conjuntura geral da Ásia. O Brasil, por outro lado, deveria ser moderadamente anti-imperialista sob o governo do PT, mas, estando na América Latina, acaba atuando como um servo dos EUA dentro dos BRICS, barrando a Venezuela. A análise geopolítica, curiosamente, funciona bem para se entender o quadro geral.
Nesse contexto, a Venezuela representa um obstáculo gigantesco para a dominação imperialista. É o único país da América do Sul que destoa dos demais, o que a torna um perigo iminente para os interesses imperialistas. Isso só destaca a importância de uma defesa intransigente da Venezuela, que deve ser feita pela esquerda brasileira. A Venezuela se mostra um verdadeiro pilar anti-imperialista no continente onde o imperialismo pode sofrer sua maior derrota.