As chuvas devastadoras na Espanha já deixaram pelo menos 211 mortos, com dezenas de desaparecidos, e os funcionários do governo seguem em busca de sobreviventes, enquanto alertas meteorológicos continuam ativos. O desastre, considerado a pior inundação em gerações, destruiu pontes, cobriu cidades com lama e deixou comunidades inteiras sem água, comida ou eletricidade. Na região de Valência, que concentra o maior número de vítimas, a situação se agravou pelo atraso nos alertas de emergência e pela ausência de uma infraestrutura adequada para lidar com desastres naturais dessa magnitude.
Diante da crise, o primeiro-ministro Pedro Sánchez ordenou o envio de 5.000 soldados, além de 5.000 policiais e guardas civis, compondo a maior mobilização em tempos de paz na história do país. Sánchez reconheceu as deficiências na resposta, admitindo que “a ajuda não está sendo suficiente” e que “ainda há pessoas desesperadas em busca de familiares, sem acesso às suas casas, que foram destruídas e enterradas pela lama”. Muitos moradores denunciam que a resposta do governo chegou tarde demais, a falta de preparação é expressão da política neoliberal, que há anos corta recursos em infraestrutura e prevenção, deixando a população desprotegida em situações de emergência. O mesmo que ocorreu no Rio Grande do Sul.
Esse desastre não só evidencia a falência do sistema capitalista, mas também expõe a incapacidade dos países mais frágeis da União Europeia, como a própria Espanha, de lidar com esse tipo de situação. Sob a orientação de países como Alemanha e França, as economias mais vulneráveis do bloco são forçadas a adotar políticas de austeridade, que reduzem investimentos essenciais. A falta de recursos para um sistema robusto de proteção civil e infraestrutura adequada contribuiu diretamente para o tamanho da tragédia. Amparo Andres, uma comerciante de Valência que quase morreu com a água chegando ao pescoço, desabafou: “pelo menos estou viva, mas perdi tudo. E o governo não está fazendo nada; só os jovens estão nos ajudando”.
Em cidades como Aldaia, moradores expressam indignação com a falta de preparo das autoridades. Juan González, residente de uma área sujeita a enchentes, criticou o governo local: “é revoltante que não tenham feito nada, sabendo que isso estava por vir”. Além disso, as autoridades recusaram uma oferta de ajuda de 200 bombeiros do governo francês, aumentando a sensação de abandono entre os afetados.
O impacto das chuvas foi devastador: ruas estão bloqueadas por lama e escombros, e bombeiros continuam bombeando água de túneis e estacionamentos subterrâneos onde pessoas podem estar presas. A cidade de Cartaya, em Huelva, recebeu em 10 horas o equivalente a dois meses de chuva, e em Jerez, centenas de famílias tiveram que ser evacuadas. Na cidade de Paiporta, onde mais de 60 mortes foram registradas, moradores relatam lentidão no auxílio. “Não sabemos se é seguro voltar para casa”, disse Amparo Esteve, comparando a situação a uma zona de guerra.
A situação piora com a ameaça de mais chuvas e deslizamentos de terra, especialmente na estrada A3, que liga Valência a Madri. Deslizamentos bloqueiam a passagem de veículos de emergência, impedindo o acesso de socorristas às áreas afetadas. Diana Whitwell, uma turista britânica que se viu isolada em sua casa de férias, descreveu a enchente como “um tsunami descendo a montanha”. Sem acesso a eletricidade ou água encanada, sua família teve que atravessar uma estrada destruída e descer a montanha para obter água de uma nascente.
Em meio ao caos, centenas de voluntários – muitos jovens organizados pelas redes sociais – se mobilizaram para ajudar nas operações de limpeza e resgate. No sábado, pelo menos 15.000 voluntários se reuniram em Valência para prestar auxílio. Pedro Francisco, de 16 anos, esperou quatro horas na fila para ajudar: “temos que fazer o que for possível. É horrível ver o que aconteceu”. A solidariedade da população contrasta com a lentidão da resposta do governo.