Na parte 1 deste texto, “A favor do genocídio no Donbas? – parte 1”, iniciamos a discussão de uma série de pontos apresentados por um artigo publicado no sítio Esquerda Online a respeito da situação na Rússia, de título “Guerra, fascismo e resistência: perspectivas sobre o imperialismo russo”. Abordamos então o suposto alvejamento de civis, a caracterização de que a Rússia seria o agressor no conflito e um país imperialista, a suposta repressão interna e supostos interesses imperialistas russos no Donbas, uma série de falsificações. A matéria de base, no entanto, foi muito além, e aqui retomamos o debate com outros argumentos apresentados.
Imperialismo: 3a Guerra Mundial ou expansionismo russo?
Abertamente na defesa do imperialismo, o Esquerda Online passa a defender a OTAN, contra a suposta extrema direita representada por Vladimir Putin:
“Putin está apostando na ascensão da extrema-direita nos EUA e na OTAN para minar a oposição ao seu expansionismo imperialista.”
“Citou especificamente o conflito entre os Republicanos e a administração Biden em relação ao pacote de ajuda proposto para o país. Putin deixou evidente que poderia saudar uma vitória republicana, especialmente de Trump, na eleição presidencial dos EUA, já que a nova administração provavelmente reduziria, se não interrompesse, todo o apoio à Ucrânia e até mesmo sair da OTAN.”
Ou seja, no lugar de favorecer a crise no interior do imperialismo, e se colocar mais receptivo a uma vitória de Donald Trump nos EUA, representante de um setor mais fraco e menos belicoso da burguesia imperialista, o correto seria apoiar Joe Biden, que vem provocando o que se aproxima de uma 3ª Guerra Mundial. Para o Esquerda Online, o financiamento imperialista de guerras, golpes e regimes fantoches pelo mundo seria algo melhor que uma dita extrema direita. Mais que isso, o desmantelamento da OTAN também não deveria, de acordo com o artigo, ser buscado pelos trabalhadores do mundo. E segue:
“Também está cortejando a extrema-direita dos demais países da OTAN. […] Ele está fazendo isso para provocar uma crise na atual política dominante, proporcionando o crescimento da política anti-imigração da extrema-direita na Finlândia e na União Europeia em geral. Espera que seu crescimento e sucesso enfraqueçam a OTAN a partir de dentro.”
Em outras palavras, mais vale fortalecer a política global de dominação imperialista, que ocorre em torno da OTAN, e provoca movimentos de refugiados em todo o planeta, do que impulsionar uma crise “na atual política dominante”, como se denuncia o Esquerda Online, novamente mostrando o jogo.
Próximo ao Hamas e a favor de “Israel”?
“Por último, Putin está tentando explorar a brutal guerra de Israel em Gaza em seu proveito contra os EUA e seus aliados da OTAN, que têm armado e dado suporte a Israel. Oficialmente, a Rússia apela para uma solução entre os dois Estados, apoia um cessar-fogo e a ajuda humanitária da ONU.”
“De fato, tudo isso é hipócrita. A Rússia está engajada exatamente no mesmo movimento de guerra de anexação na Ucrânia que Israel faz com Gaza. E, por trás dos apelos, Putin mantém relações políticas, diplomáticas e econômicas com Israel.”
Como demonstrado, a guerra na Ucrânia é uma guerra de libertação da Rússia, uma guerra contra uma agressão imperialista. Já “Israel” é um representante dos interesses do imperialismo no Oriente Médio. A Operação Militar Especial da Rússia, se qualquer coisa, é comparável à Operação Dilúvio de Al-Aqsa, das forças de resistência palestinas. Agora, vejamos sobre a relação dos russos com o Estado sionista:
“Os laços entre os dois países estão absolutamente em seu ponto mais baixo desde a queda da União Soviética”, é o que afirmou em dezembro de 2023 Nikolay Kozhanov, um ex-diplomata russo em Teerã.
Putin, popular no mundo, impopular na Rússia?
O artigo, então, se lança a uma série de especulações sobre o efetivo militar russo, política de recrutamento, próximas ofensivas e política salarial. A iniciativa busca introduzir outro ponto: Vladimir Putin, um dos líderes mundiais mais populares, especialmente a partir da operação militar na Ucrânia, seria impopular em seu próprio país, a Rússia.
“Apesar disso, a eleição é importante para dar ao seu governo um ar de legitimidade e demonstrar apoio popular a ele e à sua guerra. A mídia do Kremlin já prevê os melhores resultados de sua carreira política.”
“Todo o processo se baseia na retirada da genuína oposição e na exclusão e prisão de dissidentes como Alexey Navalny. É claro que haverá candidatos cuidadosamente controlados e autorizados a concorrer para dar uma aparência de democracia.”
Vejamos quem é essa legítima oposição. Alexei Navalni é uma figura da política russa que se opôs à guerra contra a ofensiva da OTAN na Ucrânia. Por si, não quer dizer tanta coisa, porém, um documentário sobre o mesmo chegou a receber o Oscar, e a premiação foi condenada por representantes do governo ucraniano — Zelenski tinha pedido para fazer uma declaração na apresentação. Navalni foi ainda condenado pela atuação de sua Fundação Anti-Corrupção, política a qual, após a Lava Jato, é evidente a que interesses serve, e recebeu uma série de outras condenações. Continua a campanha imperialista do Esquerda Online:
“A votação propriamente dita acontecerá durante três dias, presencial e eletronicamente. Essas duas formas serão fortemente policiadas pelo Estado, sem qualquer controle de observadores independentes.
“Todas as redes de monitoramento eleitoral foram destruídas. Por exemplo, neste verão, a maior rede chamada Voice foi proibida e um dos seus principais organizadores preso.”
Ora, eleições, tipicamente, obedecem à soberania do Estado em que se dão apenas. O que seriam os observadores internacionais independentes referidos? A Voice (Golos), citada, é uma ONG condenada já em 2013 como agente estrangeira, algo pouco estranho a quem acompanha a política no Brasil e pode ver a influência de ONGs e personalidades ligadas à Fundação Ford, à Open Society e ao NED. O chamado do Esquerda Online à “independência” é, na realidade, um chamado à intervenção imperialista no interior da Rússia de maneira livre e desimpedida. O texto segue com uma série de especulações a respeito do processo eleitoral na Rússia. É visível, apesar da galhofa toda, que a Rússia não passa por uma crise interna, nem por protestos ou manifestações contra o governo, que supostamente seria completamente impopular.
“Nessas condições, a tarefa da esquerda internacional permanece a oposição ao imperialismo russo, a solidariedade com a resistência ucraniana, oposição ao imperialismo ocidental e o apoio à luta que vem do povo na Rússia contra o regime neofascista de Putin.”
Conclui o Esquerda Online que, contudo, só demonstrou um total alinhamento ao imperialismo contra a Rússia, um país atrasado e agredido, apoiado pelos povos do mundo em sua guerra contra a OTAN, como demonstrado na libertação dos países africanos como o Níger, e tal qual a Palestina, hoje maior representante da mesma luta, contra o imperialismo.