Nesta sexta-feira (12), os Estados Unidos e o Reino Unido promoveram bombardeios no Iêmen, atacando posições dos Ansar Alá, conhecidos também como Hutis. Os ataques foram, segundo declaração do presidente norte-americano, Joe Biden, “em resposta direta aos ataques Hutis sem precedentes contra navios marítimos internacionais no Mar Vermelho”.
Em resposta aos ataques, o Brigadeiro General Iahia Saree, porta voz das Forças Armadas do Iêmen, disse que essa agressão hedionda não irá impedir que o país continue a apoiar proativamente a luta do povo palestino por sua libertação, conforme noticiou o portal libanês de notícias Al Mayadeen.
Saree ainda denunciou que o ataque resultou na morte de cinco combatentes iemenitas, ferindo outros seis, denunciando que a ação criminosa do imperialismo britânico e do imperialismo norte-americano é uma retaliação ao Iêmen por seu apoio à luta dos palestinos contra “Israel” e o sionismo:
“O inimigo americano-britânico perpetrou um ataque hediondo à República do Iêmen, como uma extensão do seu apoio contínuo aos crimes isralenses em Gaza, com setenta e três ataques aéreos visando a capital Sanaa e as províncias de Hodeidah, Taiz, Hajjah, e Saada.
[…]
Os inimigos americanos e britânicos têm total responsabilidade pela sua agressão criminosa contra o povo iemenita, e esta não escapará sem retaliação e punição. As Forças Armadas do Iêmen não hesitarão em atacar fontes de ameaça e todos os alvos hostis em terra e no mar, defendendo Iémen, sua soberania e independência.”
Nesse sentido, órgãos da imprensa imperialista, como o New York Times e o Wall Street Journal, publicaram matérias citando autoridades do Estado imperialista norte-americano, reconhecendo que os Ansar Alá não se deterão diante desse mais recente ataque do imperialismo.
Tal situação levou alguns a interpretarem que os Estados Unidos, o Reino Unido e o bloco imperialista de conjunto estariam escalando o conflito no Oriente Médio. Da mesma forma que os recentes assassinatos perpetrados por “Israel” – contra líderes do Hamas, do Hesbolá, militares iranianos e o atentado a bomba contra procissão no Irã, em homenagem a Qassem Soleimani – seriam uma tentativa do Estado sionista de arrastar o Irã para uma guerra aberta e, com isto, arrastar os Estados Unidos.
Não é fato. Os Estados Unidos e o restante do bloco imperialista não querem a escalada do conflito no Oriente Médio.
A última coisa que eles querem é que a situação fuja de seu controle. Afinal, a ditadura imperialista sobre os países do Oriente Médio vem se enfraquecendo cada vez mais nos últimos anos. Os EUA têm cada vez menos controle sobre a região. E, quanto mais o genocídio de “Israel” contra os palestinos avança, mais o povo árabe se une para lutar contra os invasores imperialistas e sionistas. Cresce o perigo de uma situação abertamente revolucionária.
Há vários indícios de que os Estados Unidos não querem uma escalada da guerra.
Primeiramente, a escalada estaria em contradição com o recém-iniciado processo contra o Estado de “Israel” na Corte Internacional de Justiça. Tal processo aponta no sentido de ser uma tentativa dos Estado Unidos (que lidera o bloco imperialista) forçar “Israel” a encerrar o genocídio contra Gaza, antes que uma situação revolucionária seja deflagrada, podendo levar à dissolução do Estado sionista.
Nesse sentido, em coletiva de imprensa realizada nesta semana na embaixada norte-americana em Tel Aviv, Anthony Blinken, secretário de estado dos EUA deu declarações esclarecedoras.
Apesar de dizer que o processo iniciado pela África do Sul (em que acusa “Israel” de genocídio) é “sem mérito”, também “expressou preocupação contínua com o aumento do número de mortos em Gaza” e “reiterou a preocupação do governo Biden com a propagação de um conflito mais amplo no Oriente Médio”, segundo reportagem da Forbes. Declarou ainda que “Israel deve parar de tomar medidas que minam a capacidade dos palestinos de se governarem de forma eficaz” e que “[…] deve ser um parceiro dos líderes palestinos que estão dispostos a liderar o seu povo e a viver lado a lado em paz com Israel”.
Em suma, não parece que o governo dos Estados Unidos planeja escalar a guerra no Oriente Médio.
No mesmo sentido, basta ver a reação da imprensa imperialista.
Inúmeras matérias estão sendo publicadas para explicar quem são os Hutis e por que os Estados Unidos e o Reino Unido atacaram suas posições. Em outras palavras, os países mais poderosos do mundo estão tendo de se explicar por que atacaram um país pobre no Oriente Médio, de 555 mil km², de apenas 33 milhões de habitantes. Por exemplo, “Quem são os Hutis e por que os EUA os atacam?” é o título da matéria do New York Times.
Então, se os EUA não querem a escalada da guerra, qual o sentido do ataque? Bem, desde o dia 19 de outubro, os Hutis vêm provendo um bloqueio parcial do Mar Vermelho, em especial do estreio de Bab-el-Mandeb. O bloqueio é para impedir o trânsito de todas as embarcações israelenses e aquelas destinadas, de “Israel” ou de alguma maneira vinculadas ao Estado sionista.
Um país pobre, alvo de uma Guerra Civil causada pelo imperialismo desde 2014, que resultou mais de 1 milhão de mortos vem, então, conseguindo bloquear cerca de 20% do comércio mundial, resultando no aumento do preço do frete marítimo, do petróleo, derivados e inúmeras outras mercadorias.
Apesar de os Estados Unidos terem criado uma coalização de 20 países, no dia 18 de dezembro (com o nome pomposo de Operação Guardião da Prosperidade), até agora não conseguiram subjugar os Hutis.
Assim, o sentido do ataque os Estados Unidos e do Reino Unido, realizado nesse dia 12, é para evitar uma desmoralização do imperialismo. É preciso mostrar que algo está sendo feito contra os Hutis.
Sendo assim seria uma ação desesperada. Já foi dito acima a tentativa de explicá-la, através da imprensa imperialista.
Outro indício de que se tratou de uma situação desesperada, não planejada, e imposta pela necessidade de se fazer algo para que o imperialismo não ficasse tão desmoralizado, é o resultado da ação: a situação não mudou.
Conforme exposto no começo dessa matéria, os Hutis disse que não irão recuar, e oficias dos EUA reconheceram isto.
Ademais, de imediato os preços do petróleo subiram. Afinal, mesmo que o ataque não seja realmente uma tentativa de escalar a guerra, pode produzir esse resultado. O que deixaria a situação ainda pior para as embarcações que transitam pelo mar vermelho. E ainda mais insustentável para as seguradoras que garantem as embarcações e mercadorias.
Outro resultado foi que a Tesla, monopólio imperialista de Elon Musk, paralisou sua produção na Alemanha logo após o ataque dos EUA e Reino Unido contra o Iêmen, devido ao atraso na entrega de materiais necessários à produção.
Ainda, em razão do ataque imperialista, os trabalhadores do Iêmen saíram às ruas de seus países, às centenas de milhares, para protestar contra agressão, e reiterar seu apoio à Palestina, conforme noticiado pelo Al Mayadeen.
Por fim, vale frisar ainda que que o ataque não foi feito contra navios Iemenitas ou algo assim.
Foi feito contra o território do Iêmen.
Em outras palavras, com esse ataque, os Estados Unidos podem muito bem ter reconhecido, tacitamente, que os Ansar Alá (Hutis) são os governantes legítimos do Iêmen. Os representantes legítimos do povo iemenita. Isto após uma década apoiando a guerra da Arábia Saudita contra os Hutis.