Meu pai, em sua longa vida, jamais se abateu com os ataques que lhe foram dirigidos por aqueles que não aceitavam suas ideias ou propostas, e nunca cedeu à tentação do revide ou do ressentimento. Entretanto, não gostava de elogios e homenagens, pois sabia do poder altamente destrutivo dos aplausos. Nesse aspecto era freudiano; entre suas frases mais famosas, o mestre austríaco deixou esta sobre o tema: “podemos nos defender dos ataques, mas somos indefesos diante de um elogio”.
O elogio penetra em nossa mente pelas frestas criadas pela vaidade. É por ali, e não pela potência dos murros, que se derruba um sujeito. Meu pai bem sabia de suas fragilidades; dizia ele que é preciso ser excepcionalmente forte para receber um elogio e não se deixar contaminar por ele. Freud, quando se dirigia aos médicos, inebriados pelos elogios e juras de amor de suas pacientes, alertava: “Não sejam tolos, estes elogios não são para vocês mas para quem representam no imaginário dessas moças”. O mesmo acontece conosco: muitos elogios que lançamos são, em verdade, autoelogios, que exaltam nossa capacidade de enxergar virtude no outro, esperando que, em contrapartida, as nossas qualidades sejam igualmente notadas. Em verdade, caso queira destruir um sujeito, não é necessário que as investidas venham de fora, seja por ataques físicos ou atingindo a sua moral; basta inflar seu ego e esperar que a ilusão de grandeza o destrua por dentro.
Não há como discordar desta posição do meu pai. Os elogios e as bajulações são perniciosos e destrutivos, e as críticas nossos melhores conselheiros. Aceitar os elogios e rejeitar as reprovações é um passo certeiro para o fracasso de nossos mais altos projetos. Uma postura reservada e comedida impede que a vaidade nos destrua por dentro, através do engano e da ilusão.