As últimas eleições revelaram um fenômeno inegável: o bolsonarismo teve um ascenso significativo, o que implica num aumento expressivo de apoio popular. O caso de São Paulo mostra isso. Lá, Bolsonaro apoiou o prefeito Ricardo Nunes, e surgiu um candidato “bolsonarista de sangue”, que empatou com os outros dois principais concorrentes. Situação que mostra o sucesso do bolsonarismo diante do povo e como a esquerda, na realidade, apresenta-se como uma nulidade política. E essa nulidade não é apenas eleitoral; é uma nulidade completa.
Um exemplo claro dessa crise na esquerda é Guilherme Boulos. Ele se transformou num candidato de direita, tudo o que ele propôs era alinhado com a política da direita numa tentativa desastrosa de adaptar-se ao eleitorado. Ele olhou para o cenário e pensou: “o eleitorado é de direita, então vou me fantasiar de direitista para ver se consigo votos”.
Essa estratégia não poderia ser mais ineficaz, pois o eleitorado, ao buscar um direitista, preferirá um que seja “mais real” do que uma mera imitação. Afinal, por que alguém de direita votaria em Boulos? É evidente que a esquerda perdeu qualquer vestígio de personalidade política.
A questão central aqui é: o que a esquerda quer, exatamente? Do ponto de vista econômico, apoia a política do governo Lula, que atualmente é uma política neoliberal — com foco em equilíbrio fiscal, cortes de gastos e outras medidas que atendem apenas aos interesses do mercado financeiro. No âmbito político, a postura do governo se alinha cada vez mais com uma política de repressão, justamente o que a direita propõe. Os aliados são todos direitistas; a política externa é submetida aos interesses imperialistas. A esquerda não tem sequer uma identidade própria.
O que observamos é uma aposta do governo e de setores da esquerda na política econômica atual: a esperança de que, com as contas públicas equilibradas e a inflação baixa, o governo se fortaleça e a esquerda possa se recuperar. Mas isso é uma ilusão. Esse cenário de “melhoria” só interessa aos banqueiros, não ao povo. Dizer ao trabalhador que “a inflação está baixa” não surte efeito se ele não sente os benefícios dessa estabilidade. Se o povo não vê uma melhora concreta em suas condições de vida, de nada adianta uma inflação baixa.
Nesse ponto, temos um problema central, algo que os dirigentes do PT deveriam reconhecer. O Bolsa Família, que sempre foi o principal cabo eleitoral do partido, mostra claros sinais de esgotamento. Desde o início do terceiro mandato de Lula, este Diário alertou que era preciso lançar outros programas sociais de impacto, que realmente transformem a vida do povo. Esses programas podem incluir:
- Um grande programa de obras públicas para combater o desemprego: esse tipo de iniciativa seria voltada para a geração direta de empregos e infraestrutura. Investimentos em construção de moradias populares, recuperação de estradas e ampliação de sistemas de transporte público poderiam absorver a massa de desempregados, trazendo um efeito imediato na economia.
- Reestatização da Eletrobrás: a reestatização seria uma resposta à privatização recente, garantindo que o setor elétrico brasileiro esteja sob controle público, o que pode significar tarifas mais justas para a população e menor dependência do setor privado para um serviço essencial. A Eletrobras pública permitiria também o uso estratégico da energia para impulsionar o desenvolvimento econômico.
- Exploração da Margem Equatorial: esta é uma fonte de recursos essencial para o País. Os lucros gerados pela exploração poderiam ser canalizados para investimentos sociais, em vez de beneficiar apenas empresas privadas e acionistas.
- Calote na dívida pública: a dívida pública é o principal entraves ao desenvolvimento social no Brasil, com bilhões sendo drenados para os banqueiros enquanto o povo carece de serviços essenciais. Um calote completo poderia liberar recursos para áreas prioritárias, como saúde, educação e infraestrutura, revertendo o papel do Estado como pagador dos ricos.
- Reforma tributária para eliminar impostos sobre consumo: é preciso acabar com a política tributária que pesa sobre os mais pobres. Eliminar impostos sobre consumo e criar uma taxação progressiva sobre grandes fortunas e lucros exorbitantes seria uma maneira de reduzir a desigualdade e financiar os programas sociais.
- Duplicação do salário mínimo: aumentar o salário mínimo é uma medida direta e eficaz para melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Um aumento substancial do mínimo fortaleceria o poder de compra das famílias, impulsionando a economia.
O que funcionou no passado não é suficiente hoje.
Não estamos apenas discutindo uma eleição, que pode ser perdida sem grandes consequências. O que está em jogo é a relação de forças no País, a luta de classes. Nessa arena, a derrota da esquerda é muito mais significativa.
Quem está realmente satisfeito com a política econômica do governo são os bancos. Recentemente, o presidente do Bradesco deu uma entrevista onde, sem apoiar Lula diretamente, aprovou a condução econômica adotada pelo governo. Ele afirmou que a chegada de Gabriel Galípolo ao Banco Central não mudaria nada, reforçando que o governo deve seguir com o corte de gastos. Os banqueiros, especuladores e privatizadores estão muito contentes, mas o povo, claramente, não está.
A “maleta de truques” do PT esgotou-se completamente.