Enquanto o Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi a legenda que conquistou o maior número de prefeituras no Brasil, a esquerda não tem absolutamente nada para comemorar diante do resultado nas eleições municipais deste ano. Mas, como o oportunismo vive justamente da eterna pregação de que tudo vai muito bem, não faltaram “analistas” para apresentar “o lado positivo” do pleito.
Entre as desculpas apresentadas para mostrar o resultado como positivo, está a de que o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), foi reeleito.Paes recebeu o apoio de Lula e, portanto, seria um aliado da esquerda.
Antes de entrar nesse mérito, é preciso destacar o recuo total da esquerda na luta política. A defensiva é tanta que a esquerda é incapaz de apresentar uma única vitória sua, de tal modo que precisa se contentar com a vitória de um suposto aliado. Isso mostra apenas que a esquerda institucional está a caminho de sua dissolução – afinal, se a sua política daqui para frente será torcer para candidatos de direita, qual a necessidade de haver partidos de esquerda?
Além disso, é preciso questionar: Eduardo Paes é de fato um aliado? Essa aliança servirá de alguma coisa?
Para responder essa pergunta, basta ver o que disse o próprio Eduardo Paes logo após ter sido eleito: “chegou a hora de a gente parar com essa polarização, essa dualidade, uma briga de um com o outro como se nós fossemos inimigos”.
Ora, mas que “dualidade” seria essa? A extrema direita versus a esquerda. Ao dizer que é contra a polarização, o que Paes está deixando claro é que não irá apoiar a esquerda. Que, enquanto a extrema direita cresce, ele próprio não considera que a esquerda, para reagir, deva crescer. Tanto é assim que, mesmo o presidente da República declarando apoio a ele, Paes não quis que o PT ou o PCdoB participasse da chapa com o cargo de vice-prefeito.
Os otimistas, no entanto, dirão que a vitória de Paes, ao menos, impediu a vitória do candidato bolsonarista no Rio de Janeiro. A questão é: diante do crescimento da extrema direita, que fará Paes? Utilizará sua prefeitura para mobilizar o povo contra a extrema direita ou fará como o seu partido fez em 2016 e abraçará a extrema direita no momento em que ela partir para cima da esquerda?
Como qualquer político burguês, Paes não é inimigo do bolsonarismo. É apenas um político da direita tradicional que, por circunstâncias efêmeras, não apoia a extrema direita. Circunstâncias que logo mudarão, na medida em que a situação política mudar.