Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Coluna

Educação é um direito; não deveria ser um negócio

Política identitária em escola da burguesia acabou em tragédia

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Recentemente, um estudante bolsista do Colégio Bandeirantes, escola frequentada pelos filhos da burguesia paulistana, cometeu o suicídio. O menino de 14 anos era filho de uma faxineira e só cursava a “escola de elite” graças a um programa de inclusão, fruto de convênio com uma ONG. Pobre, negro e homossexual, o jovem era alvo constante de bullying.

A imprensa burguesa relata esse tipo de acontecimento com muito cuidado para não ofender os jovens da burguesia, filhos de gente poderosa. Mesmo assim, o Colégio Bandeirantes queixou-se da cobertura da Folha e, particularmente, do relato feito pela revista Piauí. O motivo é a possibilidade de associação entre o ato extremo de tirar a própria vida e a gozação dos coleguinhas, que o colégio considerou “sensacionalismo”.

Suicídio é um tema tabu na sociedade e, convenientemente, na imprensa. Como não se pode responsabilizar ninguém pelo ato que, afinal, foi perpetrado pela própria vítima, as discussões enveredam para meios de proteger os que poderiam, supostamente, sentir-se culpados. O caso em questão, no entanto, envolve alguns aspectos que não podem ser escamoteados.

Um deles é a política de inclusão ou “política de cotas”. Ainda que sejam bem-intencionadas, ações desse tipo partem do pressuposto de que os poderosos farão o favor de abrir uma pequena brecha para alguns poucos seres humanos vindos da pobreza que, por alguma excepcionalidade, se mostrem merecedores de uma vaga no ambiente de quem já nasceu “vencedor” e nunca precisou fazer força para nada.

Sim, uma vaga de cotista no Bandeirantes e nos outros colégios da “elite” depende de passar em uma série de provas e entrevistas para que se tenha certeza de que o elemento estranho não perturbará o ambiente. Uma reportagem da Folha, realizada depois do evento trágico, mostrou como é a vida dos alunos cotistas em escolas de ricos. Há colégios que segregam os bolsistas em turnos diferentes (caso do São Luiz) ou em prédios distantes (caso do Porto Seguro), evitando de todo modo o contato entre pessoas de estratos sociais diferentes.

Não nos enganemos. O defeito de origem desses jovens jamais é superado. No caso do Bandeirantes, em que não há segregação oficial, os coleguinhas se incumbiram de criar um ambiente inóspito para o filho da faxineira. Uma psicóloga colunista da Folha explicou muito bem que essas escolas são centros de networking, lugares onde o filho do empresário “X” vai conhecer o filho do empresário “Y”, onde se travam amizades, namoros e, quem sabe, futuros casamentos. Resumindo, são escolas-clube.

A lógica do clube é a exclusão, não a inclusão. Muitas dessas escolas se viram na obrigação moral de fazer algum tipo de ação afirmativa para mostrar que, afinal, “despertaram” etc. O problema da cultura woke, porém, é que ela funciona só na camada ultrassuperficial das relações humanas. Não por acaso, seus defensores gastam energia em derrubar estátuas, borrar quadros em museus, fazer dicionários de palavras proibidas, inventar sufixos de gênero para pessoas LGBT, coisas que não interferem na estruturação da sociedade.

Um pobre no meio dos ricos pode até assistir às aulas, mas jamais terá acesso à vida social com aquelas pessoas. Adolescentes ainda não têm a malícia de fingir; em geral, acabam mostrando claramente o pensamento de sua família. Essa constatação, no entanto, em vez de levar a um questionamento do modelo de educação do país, faz surgirem defensores da segregação explícita, que já advogam até mesmo que professores percam o direito de matricular seus filhos gratuitamente nas escolas onde lecionam. Sim, filhos de professores, que só estão ali por causa da bolsa de estudos, também são alvo de bullying.

A educação tornou-se um negócio como outro qualquer. Se toda a educação fosse pública, com oportunidades iguais para todos, certamente seria mais fácil promover o amadurecimento e a evolução intelectual dos jovens. Infelizmente, um adolescente perdeu a vida como consequência de um grande sofrimento, que, ao que tudo indica, ninguém percebeu num ambiente em que ele era só um número no programa de cotas. Quando não acontecem tragédias, políticas desse tipo camuflam a selvageria da burguesia, que, paradoxalmente, vê como solução o aumento da exclusão.

 

 

•⁠ ⁠A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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