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Inglaterra

‘É um golpe!’, diz jornalista sobre ascensão de Keir Starmer

Proximidade com os EUA, traição contra Corbyn e uma intensa perseguição contra Assange. Não há nada de positivo em Starmer, diz investigação conduzida por jornalistas independentes

Há quase um ano, em 2 de agosto de 2023, o sítio Mintpress publicou uma reportagem tratando o então líder do Partido Trabalhista britânico Keir Starmer como “o favorito de muitas casas de apostas para se tornar o próximo primeiro-ministro do Reino Unido”. Mintpress, no entanto, demonstrou quão longe da verdade estão os que acreditam na “imagem branda e limpa do político”. Como demonstrado pelo órgão, “um indivíduo incansavelmente obcecado pelo poder e por como alcançá-lo” (“Power obsessions: the shadowy path of UK Labour’s Keir Starmer, with Matt Kennard”).

O sítio lembra a história da relação entre o atual primeiro-ministro e o ex-líder do partido, Jeremy Corbyn, de quem Starmer foi aliado até 2019, até a guinada à direita que sua liderança provocou na agremiação, “em uma tentativa de retornar à sua posição como a ala vermelha da oligarquia britânica”, informa o sítio. As declarações foram dadas no podcast do Mintpress, “The Watchdog”, que contou com a participação de Matt Kennard, jornalista do sítio investigativo britânico Declassified UK.

“Recentemente”, informou Mintpress na apresentação do entrevistado, “ele publicou uma série de artigos em cinco partes sobre o passado de Starmer e suas conexões com o poder estatal britânico e americano. Seu último livro é ‘Silent Coup [Golpe silencioso, em português]: Como as Corporações Derrubaram a Democracia”.

Do podcast, um artigo foi produzido, traçando um perfil mais apurado do atual primeiro-ministro, começando pela atuação de Starmer ainda como promotor do Ministério Público da Coroa (CPS, na sigla em inglês). “Seu tempo no CPS”, informa o entrevistado, “é marcado pelo seu reacionarismo e pela sua preferência pelo establishment“, disse Kennard.

Para tornar concreta sua caracterização, Kennard destaca sua investigação sobre a participação de Starmer na chamada Comissão Trilateral, “uma organização obscura”, descreve Mintpress, “com profundas conexões com o estado de segurança nacional dos EUA. “Starmer não contou ao seu chefe, o líder trabalhista Jeremy Corbyn, pois este certamente teria vetado a nomeação”, continua Kennard, “especialmente porque Starmer trabalhou em estreita colaboração com dois ex-chefes da CIA na Comissão Trilateral. Enquanto isso, o chefe da CIA, Mike Pompeo, declarou que os EUA fariam todo o possível para impedir que Corbyn chegasse ao poder”, acrescenta o entrevistando, já indicando que a ascensão do atual primeiro-ministro foi um golpe orquestrado pelo serviço secreto norte-americano.

Ainda durante seus serviços ao imperialismo no comando da CPS, Starmer perseguiu implacavelmente o jornalista australiano Julian Assange. Kennard destaca que “o caso britânico de Assange foi repleto de irregularidades”:

“Os e-mails mostram que o CPS implorou a seus colegas suecos que não ficassem ‘com medo’ de Assange, o que significava retirar as alegações de agressão sexual contra ele. Eles também pediram aos investigadores suecos que não entrevistassem Assange em Londres, temendo que essa ação inocentasse o cofundador do WikiLeaks.” 

À época da publicação da matéria, Mintpress estranha o fato de as pesquisas de Kennard não terem sido divulgadas “pelos meios de comunicação liberais mais tradicionais, que parecem ter ungido Starmer como o candidato perfeito para o Partido Trabalhista: alguém que pode parecer superficialmente progressista, mas também um indivíduo em quem o establishment tem total confiança”, conclui.

Ato contínuo, Starmer atuou como membro do gabinete paralelo de Corbyn para o Brexit, uma campanha em que a atuação dos trabalhistas fora desastrosa. “Talvez [Starmer] tenha sido o principal responsável pela decisão polêmica dos trabalhistas de não aceitar os resultados do primeiro referendo do Brexit”, continua Kennard ao Mintpress.

Na ocasião, os trabalhistas insistiram em outra votação sobre o Brexit, decisão que para Kennard, “provavelmente custou a Corbyn seu lugar na história”. O manifesto dos trabalhistas para 2019 foi essencialmente o mesmo que o de 2017, com o qual fizeram campanha e se saíram excepcionalmente bem, porém, sob a impressão da derrota no Brexit, os trabalhistas foram derrotados, levando ao fim do comando de Corbyn.

Starmer foi eleito, prometendo ser uma versão moderada do antigo líder, porém, uma vez na liderança do Partido Trabalhista, dá início a um expurgo do corbynismo, removendo qualquer vestígio de política progressista na agremiação. Ao Mintpress, Kennard é enfático ao comentar a obra de Starmer nesse ponto: “é um golpe! Definitivamente um golpe.”

“É realmente surpreendente o que ele fez com o Partido Trabalhista. É um golpe! Não estou usando essa palavra em um sentido hiperbólico; é definitivamente um golpe. Se você é eleito com base em uma plataforma que é, na verdade, uma versão mais apresentável do corbynismo, e depois você cancela tudo e, além disso, diz que o líder anterior não pode se candidatar como membro do Parlamento… é uma loucura!”

Antes de Kennard, no entanto, a estranha ascensão de Starmer fora alvo da investigação de outro jornalista, Oliver Eagleton, o que resultou no livro “The Starmer Project: a Journey to the Right”, de 2022 (inédito no Brasil). Falando sobre sua obra em 30 de março de 2023 também ao Mintpress (“The shady past of Keir Starmer, with Oliver Eagleton”), Eagleton fez uma “dissecação forense”, segundo os dizeres do sítio, do “histórico de Starmer e sua rápida ascensão ao topo do partido”, acrescentando ainda que a obra “detalha a mudança ideológica do Partido Trabalhista da social-democracia para o neoliberalismo” durante o processo.

“Starmer desenvolveu um relacionamento próximo com o governo Obama… ele foi a Washington e teve uma série de reuniões com Eric Holder, chefe do Departamento de Justiça [DOJ, na sigla em inglês] que, na época, era o cara mais famoso por desenvolver a infraestrutura jurídica em torno do programa de drones do governo Obama”.

Como consequência dessa ligação, o atual primeiro-ministro trabalhista, “desempenhou um papel fundamental na acusação do cofundador do Wikileaks, Julian Assange”, informa Mintpress. “Como chefe do CPS”, continua Mintpress, “ele usou todas as armas de seu arsenal para manter o editor australiano no país e sob constante vigilância, chegando a ameaçar os promotores suecos que desejavam retirar as acusações contra ele – toda a pretensão que sustenta a detenção de Assange.”

“Mais uma vez, o CPS intervém e diz ‘não, não, não, vocês devem manter o caso em andamento’”, disse Eagleton ao entrevistador, concluindo que: “a forma exata das palavras que eles usaram foi: ‘não se atreva a ficar com medo'”.

Finalmente, Eagleton apresenta uma distinção entre Starmer e outro notório direitista infiltrado no Partido Trabalhista: Tony Blair. A comparação entre ambos, no entanto, “é no mínimo injusta com Blair”, diz Eagleton, para quem a política de Blair tinha um otimismo, ao passo que “Starmer é algo muito diferente”, diz.

“Toda a verve do blairismo, a vitalidade se foi e, em vez disso, temos essa sensação sombria de estarmos regredindo ao ponto anterior a década de 2010, quando esses diferentes desafios populistas surgiram”, conclui.

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