Diante das mais absurdas análises apresentadas pelos veículos do dito campo progressista, faz-se necessário levantar algumas hipóteses e realizar um pequeno exercício sobre possíveis resultados. Segundo estes analistas, Bolsonaro estaria morto politicamente, a manifestação realizada na Avenida Paulista no último 25 de fevereiro teria sido seu último suspiro, supostamente um ato de total desespero. Mas será isso mesmo?
Além disso, os geniais analistas da política também defendem que a esquerda coloque toda sua confiança no maior combatente do fascismo, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Ao invés de mobilizar as massas populares contra o bolsonarismo, a esquerda deveria defender os processos arbitrários movidos pelo STF, bem como, a prisão do líder de extrema-direita sob alegação de golpe de estado.
Em primeiro lugar, apesar deste Diário buscar exaustivamente esclarecer os acontecimentos e explicar o que de fato está em jogo, vale dizer novamente que não houve tentativa de golpe no 8 de janeiro de 2023 e tampouco em julho de 2022.
O Brasil está vivendo um novo período de ataque aos direitos democráticos, defender José Dirceu no Mensalão e de Lula na Lava Jato nunca teve como fundo coincidências ideológicas, era preciso anular os processos contra os políticos da esquerda e da direita contra as arbitrariedades do judiciário, da mesma forma devemos defender a anulação dos processos contra Bolsonaro e anistia para seus apoiadores.
São os direitos democráticos que estão em risco, vozes da esquerda já pediam criminalização do fechamento de rodovias que resultaram da contestação de apoiadores de Bolsonaro sobre resultado das eleições de 2018 para combater um suposto golpe, agora buscam criminalizar também ocupações de prédios do Poder Público, nada interessa mais à burguesia que combater os métodos historicamente desenvolvidos na luta popular.
A adoção da tese de “domínio do fato” e da tortura de delatores pelo Judiciário em conjunto com Ministério Público, nos processos que atingiram principalmente lideranças do Partido dos Trabalhadores, suprimiu a presunção de inocência, a necessidade da materialidade das provas, o direito de ampla defesa. Atualmente, o que está em jogo são as liberdades democráticas: a liberdade de expressão, de manifestação e organização. Direitos sagrados para existência das organizações da esquerda, os quais não devemos abrir mão jamais, pois já sabemos que os canhões nunca estarão apontados para extrema-direita e a luta através via judicial está apontando para um enorme fracasso nos Estados Unidos e no Brasil.
Nos Estados Unidos, mesmo depois de dezenas de processos judiciais, Donald Trump vem impondo uma derrota acachapante nas primárias contra o setor mais importante da burguesia imperialista representado por Joe Biden. Para derrotar o líder de extrema direita norte-americano na última eleição, foi imposto uma censura enorme em todos os meios possíveis, como se viu no YouTube e Twitter. Nada disso adiantou, nem mesmo a acusação de golpe, a crise aumentou e Trump pode ser novamente presidente.
Mas, por que a Justiça permitiu Trump participar da eleição deste ano? Por que não terminou preso? A reposta é: pelos mesmos motivos que não farão com Bolsonaro. Buscarei explicar.
Mesmo quando o presidente Lula era alvo da farsa jurídica comandada pelo agente da CIA Sérgio Moro, a esquerda não conseguiu mobilizar tanta gente quanto Bolsonaro no último ato. Nem o ato convocado para o dia da audiência de Lula em Curitiba e tampouco naqueles por sua liberdade, tivemos um público de pelo menos cem mil pessoas. Evidentemente, não se trata de uma questão de potencial, uma vez que não foi empreendido todos os esforços possíveis na luta.
Já na primeira mobilização contra os processos de Xandão, Bolsonaro botou mais gente na Avenida Paulista que a esquerda no ápice das manifestações por Fora Bolsonaro. Foi uma tremenda demonstração de força, Lula que é uma pessoa que entende muito mais de política que esses analistas de araque demonstrou preocupação com o que viu nas ruas.
Todos os companheiros que presenciaram o movimento de apoiadores de Bolsonaro nas ruas ficaram impressionados. Seja na Avenida Paulista, nos ônibus ou nos metrôs, a descrição era a mesmo: nunca vi tanta gente assim! Outra companheira relatou que testemunhou em seus vizinhos, que organizaram caravanas para comparecer à manifestação, o sentimento de vitória diante do êxito do 25 de fevereiro.
Essas análises como vimos da América Latina, de que os golpes de estado e que governos de extrema-direita haviam sido derrotados, servem somente para confundir. Não explicam do que se trata governos como de Boric no Chile que ataca o venezuelano de Nicolás Maduro e de Luis Arce na Bolívia que rompeu com o líder golpeado do partido Evo Morales, tampouco do que resultou a vitória de Javier Milei na Argentina.
Por isso, deve-se sempre fazer uma análise concreta sobre os acontecimentos. Proponho aqui um exercício, vamos pensar que Alexandre de Moraes receba ordens para realmente convocar Bolsonaro para uma audiência, podem imaginar quantas pessoas se apresentariam como seguranças de Bolsonaro para não deixar prender como propusemos para o presidente Lula na Lava Jato?
Agora um pouco mais além, vamos imaginar que os patrões de Xandão concedam autorização para prender Bolsonaro, conseguiriam imaginar esse mesmo público fazendo o que buscamos fazer com Lula em São Bernardo do Campo quando se entregou no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC? Acreditam mesmo que permitiriam que Bolsonaro fosse preso? Podem imaginar o tamanho da crise que se abriria? A polícia prenderia Bolsonaro? Os manifestantes seriam presos ?
É preciso compreender que a direita golpista busca recuperar o terreno perdido para o bolsonarismo em virtude da radicalização de suas bases e de sua própria decomposição como resultado do golpe de 2016. A burguesia buscará minar a candidatura, mas pode ainda pleitear um acordo com Bolsonaro. Na impossibilidade de emplacar uma terceira via, adivinhem?
Em 2022, o STF fechou os olhos para o pacote de compras de votos de Bolsonaro nas últimas eleições, coações de trabalhadores de fábrica e para os setores impedidos de votar. Por esse motivo que devemos abandonar essa política, ocupar as ruas pela derrota definitiva do golpe e do bolsonarismo.
Devemos colocar em pauta as questões materiais de vida como salário, emprego, moradia e terra, bem como a revogação de todas as reformas e privatizações. Por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo, contra o imperialismo e em defesa do povo palestino!