O pacote de medidas proposto pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, é um desastre político de proporções graves. Sob a justificativa de “salvar a economia”, o governo Lula coloca-se em uma posição que pode acarretar profundo desgaste diante dos trabalhadores, já que as medidas atingem diretamente os poucos benefícios sociais existentes. Na prática, trata-se de aliviar os cofres dos banqueiros às custas da população mais vulnerável.
Os defensores do pacote afirmam que não há cortes nos gastos sociais. Essa declaração, no entanto, é uma mentira descarada, e justamente por isso demonstra o quão indefensável é o plano.
Fosse uma política favorável à população, seus defensores não precisariam recorrer a subterfúgios. Quando se vê a necessidade de encobrir a verdade com argumentos enganosos, fica evidente que as medidas são, no mínimo, vergonhosas.
Um dos primeiros artifícios para justificar o pacote foi associá-lo a uma reforma do Imposto de Renda (IR), que, segundo o governo, seria a maior já feita no Brasil. A reforma do IR, contudo, não faz parte do pacote e sequer tem garantias de aprovação no Congresso. O argumento caiu por terra rapidamente, sendo substituído pela alegação de que não haveria cortes em benefícios sociais.
Mais recentemente, surgiu a narrativa de que revisar o Benefício de Prestação Continuada (BPC) não seria um corte, mas um “ajuste”. A defesa é feita sob o pretexto de combater supostas fraudes no programa. Trata-se de uma justificativa abjeta. Se alguém tenta acessar um benefício maior do que lhe cabe por lei, isso apenas revela o desespero causado pela miséria, mas não é motivo para excluir pessoas de programas sociais. Não é aceitável sacrificar os mais pobres para resolver problemas burocráticos.
A realidade é que o BPC, um benefício miserável, já impõe condições humilhantes para ser concedido. Revisá-lo para excluir pessoas ou reduzir valores é uma política criminosa. Quem apela para esses recursos não busca enriquecer, mas sobreviver. Essa lógica também se aplica ao Bolsa Família, que é um dos maiores responsáveis pelo crescimento econômico recente do País. Injetar dinheiro nos mais pobres não só garante sua subsistência, como estimula a economia como um todo.
A tentativa de economizar às custas dos setores mais explorados é absurda, especialmente quando outros privilégios, como as pensões exorbitantes de filhas de militares, continuam intocados. O gasto previdenciário com militares é um dos maiores do País, mas o governo não ousa enfrentá-lo. Isso escancara a submissão do governo às pressões da burguesia, que impõe cortes sobre os trabalhadores enquanto preserva seus próprios interesses.
Pior ainda, o pacote propõe que, caso uma família receba tanto o BPC quanto o Bolsa Família, um dos dois benefícios seja cortado. Essa medida atinge diretamente os lares mais pobres, onde cada real é essencial para a sobrevivência.
No final, o dinheiro economizado será direcionado para o pagamento da dívida pública, um mecanismo de agiotagem institucionalizada que transfere a riqueza nacional para os banqueiros. Enquanto isso, o governo tenta pintar um cenário de normalidade, escondendo a real profundidade da crise. A solução é simples: a dívida pública deve ser repudiada. Um País não pode ser administrado como uma empresa, onde o lucro dos credores é mais importante do que a vida do povo.
Se o governo Lula não quer se desmoralizar de maneira fatal diante de sua base social, os trabalhadores, precisa mudar de rumo. Não há caminho para salvar a economia sem enfrentar os verdadeiros parasitas: os banqueiros. Mais do que uma questão de justiça ou moralidade; é uma questão de sobrevivência para milhões de brasileiros.
Por isso, momento exige uma ampla campanha nacional pelo fim do pagamento da dívida pública – quitada a cada 30 meses, mas que só cresce -, que não é apenas um erro político, mas um verdadeiro crime contra o povo brasileiro. Enquanto milhões passam fome, o Brasil transfere trilhões para os cofres de banqueiros, alimentando uma agiotagem institucionalizada que destrói o futuro do País.
É hora de a esquerda mobilizar trabalhadores, sindicatos e movimentos populares para exigir o rompimento com essa política criminosa. Não é possível aceitar que a economia real seja sacrificada para sustentar os verdadeiros parasitas, enquanto o povo é esmagado. O pagamento da dívida é a ferramenta mais brutal de exploração contra a população, e sua abolição é um passo indispensável para qualquer governo defensor dos interesses dos trabalhadores.