Conhecido como prévia da inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou alta nos preços de 0,36% no mês de março. O resultado foi fortemente influenciado pelo aumento de 0,91% no setor de Alimentação e Bebidas, contribuindo com 0,19 ponto percentual para a taxa do mês.
O IPCA medido no último dia 12 de março apontou alta de 4,5% no acumulado desde março de 2023, resultado que fez o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) manter a projeção de inflação do IPCA de 4% até o fim do ano, porém com peso ligeiramente maior na alta dos alimentos (previstos para subir 3,9% em dezembro e 4,1% agora), compensados pelo redução na expectativa da pressão inflacionária nos gastos com educação (7,5% antes, 6,3% agora).
Além do segmento de Alimentação e Bebidas, também ocorreram aumentos significativos nos preços de Transporte (0,43%) e Saúde e Higiene Pessoal (0,61%). As variações restantes variaram entre -0,58% em Artigos de Residência e 0,19% em Habitação. No setor alimentício, os maiores aumentos foram registrados na cebola (16,64%), ovos (6,24%), frutas (5,81%) e leite de longa duração (3,66%).
Quanto aos combustíveis (2,41%), houve aumento nos preços do etanol (4,27%) e gasolina (2,39%). No segmento de Saúde e Higiene (0,61%), o resultado foi influenciado pelo aumento nos planos de saúde (0,77%), produtos farmacêuticos (0,73%) e itens de higiene pessoal (0,39%).
Diante dos novos indicadores, porém, já se projeta uma redução no ritmo de cortes de juros, já demasiadamente devagar. Em ata divulgada na última terça-feira (26), o Banco Central (BC) anunciou que a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 10,75% ao ano, sofrerá um corte tímido, de apenas 0,5 pontos, patamar que a deixa em dois dígitos durante quase todo o primeiro semestre de 2024, pelo menos.
As próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (COPOM, instância responsável por definir a taxa básica de juros) estão marcadas para os dias 7 e 8 de maio, e, depois, 18 e 19 de junho.
Na última quinta-feira(28), o BC publicou seu trimestral Relatório da Inflação, destacando que a “projeção de crescimento da economia brasileira em 2024 foi revisada de 1,7% para 1,9%”, o que está longe de ser considerado um crescimento real. É inferior, por exemplo, à inflação, o que significa que a rapina dos banqueiros cresce mais do que a capacidade da economia de superar o drama do desemprego.
Desde o último trimestre de 2023, o desemprego saiu de 7,4 para 7,8% da força de trabalho no primeiro trimestre deste ano. Isto significa que 8,5 milhões de pessoas procuravam ocupação nos primeiros meses do ano, sem sucesso. Um contingente menor do que durante o mesmo período de 2023, quando a PNAD Contínua apontava que 9,2 milhões de trabalhadores procuravam emprego, mas ainda implicando em uma pressão severa contra as massas operárias.
Também é preciso destacar que o mercado de trabalho brasileiro ainda conta com um contingente enorme de trabalhadores sem carteira assinada (13,3 milhões de pessoas) e trabalhadores por conta própria (25,4 milhões), totalizando em 38,7 milhões o número de pessoas quem não tem um emprego que possa ser considerado regular. Finalmente, o IBGE indica que os chamados “subutilizados” (que trabalham menos horas do que a média dos trabalhadores, ou não trabalham) chegam a 20,6 milhões de trabalhadores, menos do que os 21,6 milhões que a atual gestão herdou do governo Bolsonaro, mas que tampouco serve de parâmetro.
O crescimento vegetativo não tem condições de mudar esse quadro significativamente. É preciso uma guinada brusca na política econômica do governo para a economia crescer de verdade, implicando em reduzir a jornada de trabalho para acomodar os operários hoje fora do mercado de trabalho, e tão ou mais importante do que isso, intervir no BC.
É imprescindível tirar o bolsonarista Roberto Campos Neto do comando da política monetária e derrubar a taxa de juros. O caso brasileiro é um ponto fora da curva justamente porque a política não visa estabilizar os preços, mas fazer a fortuna dos banqueiros, os maiores beneficiados com os juros estratosféricos que o País apresenta.
Uma intervenção na instituição teria o efeito de encerrar a sabotagem aberta contra a economia nacional que Campos Neto tem implementado, ampliar os investimentos necessários para impulsionar um programa de desenvolvimento, capaz de aumentar a produção, e, depois, diminuir os preços de uma maneira sólida, não pela via da restrição na demanda, mas pela expansão da oferta. Com isso, melhorar os níveis de emprego e salários para os trabalhadores, o que tem se revelado o principal problema do governo Lula, eleito, principalmente, para atender demandas como salários e empregos.