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Brasil

É preciso lutar pelo fim da ‘independência’ do Banco Central

Lula se pronunciou sobre a destruição nacional causa pelo bolsonarista Campos Neto, presidente do BC; agora, o presidente tem uma grande oportunidade, pois seu mandato irá acabar 

Um dos principais embates do governo Lula com a direita foi em relação ao Banco Central. O órgão foi tornado “independente” do governo durante a presidência de Bolsonaro. Isso significa que o bolsonarista indicado no governo anterior, Campos Neto, segue atuando com uma política econômica radicalmente oposta à do presidente Lula. O principal embate foi a taxa de juros, que Campos Neto manteve a maior do mundo como uma verdadeira camisa de força na econômica nacional.

Na última semana, o presidente do BC apareceu em um jantar com uma das principais figuras da direita, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Isso abriu margem para Lula se posicionar mais uma vez contra o bolsonarista: “nós só temos uma coisa no Brasil desajustada nesse instante: o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar do que para ajudar o país. Porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”.

Na terça-feira (18), começou a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que, na quarta-feira (19), divulgará o novo patamar da taxa básica de juros, a Selic. Ela está atualmente a 10,5% ao ano, ainda se mantendo uma das mais altas do mundo. Ou seja, o comentário de Lula é, na verdade, uma pressão ao presidente do BC para que ele diminua essa taxa. Algo que dificilmente acontecerá, pois ele se mostrou um grande serviçal dos bancos.

Isso se torna ainda mais importante, pois se aproxima o momento da indicação de um novo presidente para o Banco Central, e, assim, as tensões aumentam. As recentes ações de Campos Neto são um reflexo claro desse cenário. Ele praticamente se declarou um bolsonarista ao se reunir com Tarcísio de Freitas. O presidente Lula percebeu isso como um flanco exposto e, então, decidiu atacar.

A política econômica do governo Lula

O governo Lula está tentando realizar uma política que agrade tanto os trabalhadores quanto os banqueiros, algo impossível. Assim, está se tornando alvo de críticas de ambos. Obviamente, a imprensa burguesa tem a maior voz. A Folha de S.Paulo publicou um editorial afirmando que a “política econômica tem exaustão precoce”. Apesar dos interesses por detrás deste artigo, ele evidencia a falta de aprovação da burguesia à política econômica do governo.

A burguesia vê a atual política como de “meio-termo”, nem nacionalista e nem neoliberal. Mas, para a burguesia, é necessária uma ação totalmente neoliberal no atual estágio de crise do capitalismo.

Os jantares e encontros envolvendo Campos Neto, que claramente mostram sua inclinação política, também revelam uma união crescente contra o governo do PT. A aliança formada por bolsonaristas, a rede Globo e banqueiros coloca o governo do PT em uma situação muito complicada. Nesse sentido, está se formando uma frente ampla contra o governo Lula. Ainda pior, nessa frente, estão os setores que supostamente são a base de apoio do governo petista. A frente ampla de apoio ao PT não existe, já a frente ampla de apoio a Bolsonaro está se formando rapidamente.

A posição ambígua do presidente Lula

Na mesma entrevista citada acima, Lula afirmou:

“A inflação está totalmente controlada. Agora fica se inventando discurso de inflação do futuro, que vai acontecer, vamos trabalhar em cima do real. Realmente o Brasil está vivendo um bom momento. A economia está andando, os empregos estão crescendo, o salário está crescendo, a inflação está caindo. O que mais nós queremos? O que mais nós queremos é atrair mais investimentos para o Brasil e que o Banco Central se comporte na perspectiva de ajudar esse país e não de atrapalhar o crescimento do país.”

Ele ainda destacou:

“Eu trato com muita seriedade [a escolha do próximo presidente do Banco Central]. Eu vou escolher um presidente do Banco Central que seja uma pessoa que tenha compromisso com o desenvolvimento desse país, com o controle da inflação, mas que também tenha na cabeça que a gente não tem que pensar somente no controle da inflação. Nós temos que pensar também numa meta de crescimento. É o crescimento econômico e o crescimento da massa salarial que vai permitir que a gente possa controlar a inflação com certa tranquilidade.

O discurso de Lula mostra que sua política é claramente diferente daquela de Campos Neto. No entanto, fica claro que o presidente ainda está preso na política econômica do “meio-termo”. Ele afirma que irá se preocupar com o controle da inflação e com o crescimento. Acena para os trabalhadores e para os banqueiros. O problema é que os banqueiros têm muito mais força que a classe operária. Ou seja, nessa disputa, os trabalhadores saem perdendo. É o mesmo que o caso das taxas de importações baratas, Lula diz ser contra, mas o projeto será aprovado. Não adianta acenar para os dois lados quando só é possível agir em defesa de um.

A política correta para a escolha do presidente do Banco Central seria escolher o mais nacionalista de todas as possibilidades do PT. Alguém que levantaria uma campanha escandalosa por parte da imprensa burguesa como a que era feita contra Guido Mantega, ministro da Economia no segundo governo Lula e no governo Dilma.

Fato é que a burguesia atacará Lula de qualquer forma. Ele precisa defender a política dos trabalhadores, pois apenas esses lhe darão apoio real.

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