O Brasil 247 publicou um artigo de Alex Solnik intitulado Caindo de maduro, no qual busca demonstrar como Nicolás Maduro, presidente da Venezuela e, na visão de Solnik, um ditador, teria caluniado Celso Amorim, conselheiro para assuntos internacionais do governo Lula.
Segundo o artigo, todos aqueles que não estão “ideologicamente cegos” sabem que Maduro não ganhou as eleições na Venezuela. Tudo, é claro, pela falta das famigeradas atas eleitorais que não teriam sido apresentadas para provar que Maduro foi, de fato, o vencedor das eleições.
É uma tentativa imatura de tentar apagar a guinada do governo de Lula para a direita sob pressão do imperialismo, o que levou não só o Brasil a não reconhecer as eleições na Venezuela, mas também a travar a entrada de nosso país na Nova Rota de Seda chinesa e a praticamente romper relações com a Nicaragua após uma provocação bolsonarista na embaixada do país.
Segundo Solnik, Celso Amorim que antes dizia ser amigo da Venezuela, que não demonstrava se colocar ao lado da contrarrevolução no país e que, assim como Lula, parecia favorável à sua entrada nos BRICS, mas que, após pressão internacional, mudou completamente de posição, contrariando, inclusive, a base que garantiu à vitória de Lula nas urnas em 2022, seria alguém de maior calibre do que Maduro, que teve a coragem de poucos governantes no mundo de hoje ao denunciar a prisão arbitrária de Lula e o golpe contra Dilma.
Para Solnik, a posição correta em relação à Venezuela é a posição de Bolsonaro, que rompeu relações com o país que vem sendo atacado pelo imperialismo. Tudo por causa da falta de entrega das atas eleitorais.
Logo no segundo parágrafo da matéria, Solnik diz: “Contrariado com a posição brasileira de não reconhecer o resultado enquanto as atas não aparecerem, Maduro passou a agir como um ditador, e não um presidente da República legitimamente eleito.”
No entanto, Maduro entregou as atas para a suprema corte de seu país. Como a Venezuela se trata de um país soberano, nem Celso Amorim, nem Solnik, nem Lula deveriam pedir pela comprovação das eleições, já que, até onde sabemos, a constituição venezuelana não diz que o país necessita da tutela brasileira, muito menos da tutela de Solnik, para que o presidente seja oficializado. Não há contrariedade à decisão brasileira por parte de Maduro, pois Maduro não precisa dar satisfações a ninguém, a não ser a seu próprio povo e país.
Ao mesmo tempo, sempre temos de levar em consideração que, a Ucrânia, um país não mais soberano, pois quem o comanda é a OTAN e, em especial, o governo dos Estados Unidos da América, não teve eleições e manteve o governo golpista de Zelenski, responsável por uma guerra que levou o país à falência e ceifou centenas de milhares de vidas. No entanto, Solnik, o homem que enxerga melhor do que todos pois não ficou cego de tanta ideologia, fecha os olhos propositadamente e não pede pelas atas das eleições no leste da Europa.
Em relação à Venezuela, Solnik é como o discípulo Tomé. Precisa ver para crer. No entanto, em relação à Ucrânia, Solnik se basta com a fé. Qual a diferença entre os dois casos? Justamente o apoio do imperialismo à Ucrânia e o ataque à Venezuela.
Só isso deveria provar como o mundo não está dividido entre os democratas de um lado e os ditadores do outro, como a direita tenta fazer parecer atualmente e, infelizmente, consegue convencer uma parte da esquerda. A prova cabal de que a divisão é falsa reside justamente em que os partidários da democracia contra as ditaduras são os primeiros a transformar uma ditadura medonha, com direito a grupos nazistas tocando o terror na população local, na mais bela das democracias, enquanto o país que teve eleições e venceu um dos setores de extrema direita mais conhecidos do continente, é tratado como uma ditadura.
A divisão real na atual etapa da luta política mundial é outra. É a luta do imperialismo, o setor da burguesia dos países que conseguiram completar sua revolução capitalista, contra todos os povos do mundo. A divisão é tão forte que, mesmo os que dizem se guiar pela dicotomia “ditadura x democracia”, na realidade, dividem o mundo da seguinte maneira: imperialismo é o mesmo que a democracia, enquanto o resto se trata de uma imensa ditadura. Mesmo que os “democratas” andem com suásticas no braço, com eleições ou sem, mesmo que queimem pessoas vivas – tanto os nazistas ucranianos, como os fascistas derrotados nas eleições venezuelanas deste ano são conhecidos pela prática que queimar pessoas vivas – não importa.
O leitor, no entanto, pode pensar que se trata de um exagero dizer que o que de fato Solnik está defendendo é o imperialismo norte-americano. Voltemos então ao texto de Solnik. Um de seus parágrafos é o seguinte: “E (Maduro) subiu o tom ainda mais depois que o Brasil vetou seu ingresso no BRICS, a convite da Rússia, que tem interesses graúdos no setor petrolífero da Venezuela e está pouco se lixando para quem ganhou as eleições, contanto que suas joint-ventures com a PVDSA não sejam canceladas.”.
Segundo Solnik, a motivação para que a Rússia aceitasse a Venezuela no BRICS e reconhecesse seu governo é a questão do petróleo venezuelano. A Rússia, portanto, estaria interessada em rapinar o país caribenho e, por isso, não se importaria com o tipo de regime político presente no país.
Porém, toda a população mundial que tem a capacidade de enxergar e que não fecha os olhos na presença do ser de luz que é o imperialismo, sabe que o imperialismo é quem tenta roubar o petróleo e não só venezuelano. Os EUA estão roubando o petróleo palestino em pleno genocídio; tomaram as bases de petróleo sírias; impedem o Brasil de explorar o petróleo na margem equatorial, enquanto permitem que a Exxon esvazie as reservas brasileiras através de postos nas guianas, ao mesmo tempo que drenam o petróleo venezuelano com a mesma empresa e no mesmo lugar.
No entanto, Solnik nunca criticou as pretensões norte-americanas de roubar o petróleo venezuelano, mas acusa a Rússia de o fazer justamente no mesmo momento em que os EUA obrigaram o Brasil a não reconhecer as eleições do país.
Por fim, a resposta venezuelana ao Brasil não é nada caluniadora. De fato, o Brasil obedeceu ao imperialismo, contrariou a posição histórica do país e a posição história do próprio PT e de Lula, que sempre foram aliados do chavismo. Maduro poderia ter dado uma resposta ainda mais contundente, mas provavelmente sabe da realidade do governo brasileiro e não busca um rompimento completo e precipitado.
Em tempo: Solnik termina seu texto com o seguinte:
“”Cair de maduro” é uma expressão coloquial que significa levar um tombo sem que alguém ou algo tenha intervindo. Por exemplo, “não tropeçou em nada, simplesmente caiu de maduro”.
A expressão parece ter sido criada sob medida para Nicolás Maduro.”
No entanto, a tentativa de trocadilho não faz sentido algum, já que o governo de Maduro não parece ser uma fruta podre prestes a cair sozinha, mas sim, é um governo muito pressionado pelo imperialismo, que ativamente colocou embargos sobre o país, roubou empresas e reservas de ouro venezuelanas em outros países, tentou inúmeros golpes de estado, proclamou dois presidentes – o primeiro sem ao menos participar das eleições, o segundo, que também teria as mesmas atas que Solnik pede para Maduro, também não as apresentou – promoveu golpes contra todos os países da América Latina e colocou os governos golpistas em rota de colisão com a Venezuela e promove uma larga campanha de mentiras contra os venezuelanos em todo o planeta através da imprensa capitalista. Definitivamente, se Maduro cair, será através de um golpe de estado contra o povo venezuelano, não por conta de características próprias, muito menos por conta de seu nome.
“Maduro”, segundo o dicionário Michaelis, pode ter também a seguinte acepção: “Relativo a ação ou dito prudente, resultado de muita ponderação e reflexão.”, características mais pertinentes ao presidente venezuelano, sobretudo diante da pressão imperialista durante o golpe no Brasil, quando Maduro se colocou ao lado dos brasileiros, e durante o governo Bolsonaro, principalmente em momentos como o de quando o então presidente não se importava com as pessoas morrendo por falta de oxigênio em Manaus e, ao contrário do presidente brasileiro, Maduro enviou o pouco que tinha para nos ajudar.