No dia 24 de janeiro, o jornal paranaense Gazeta do Povo, um dos principais porta-vozes da extrema direita na imprensa brasileira, publicou o artigo Partido de esquerda comemora ataque do Hamas que matou soldados israelenses: “Belo feito”. Assinado por Diógenes Freire Feitosa, o texto é curto e procura apresentar a notícia de um ponto de vista mais factual:
“O Partido da Causa Operária (PCO) publicou um artigo em seu site em que comemora ataques dos terroristas do Hamas que mataram 24 soldados israelenses em um dia. Pelo menos, 21 soldados teriam sido mortos em uma única explosão provocada por uma granada e os outros três em combate com os terroristas. O partido, que diz estar 1000% alinhado com o Hamas, chamou os ataques de ‘belo feito’.”
Embora não tenha emitido nenhuma opinião, o objetivo do texto é claro. É uma tentativa de “chocar” os seus leitores, de apresentar o PCO como um grupo violento, repugnante. O artigo continua afirmando que “para o PCO, os ataques do Hamas contra Israel são legítimos e fazem parte de uma suposta luta contra o fascismo” e que “em uma de suas manifestações pró-terrorismo, em frente ao Consulado de Israel, em novembro do ano passado, o PCO vendeu camisetas e acessórios com apologia ao Hamas”.
Ora, se há uma guerra em curso e um partido apoia um dos lados da guerra, não deveria comemorar quando o lado que apoia tem uma vitória militar? Na guerra entre o povo palestino e “Israel”, o PCO apoia o povo palestino, martirizado por mais de um século como resultado do plano colonialista e imperialista que resultou na criação de “Israel”. Quem apoia os palestinos e não vibra quando esse povo miserável, largado à própria sorte, consegue impor baixas a um dos exércitos mais bem equipados do planeta, está completamente perdido.
É ridículo apresentar a comemoração do PCO como se fosse uma coisa horrenda. Mas ela não é por acaso.
Parte dos leitores do Gazeta do Povo têm uma simpatia pelo PCO por causa de sua defesa das liberdades democráticas e de suas posições anti-imperialistas. A tentativa de apresentar o PCO como “mau” é, portanto, um esforço dos setores da direita bolsonarista que veem com preocupação a influência do PCO sobre sua base. Em um trecho da matéria, o autor cita homenagens do PCO a revolucionários do movimento operário internacional que são constantemente caluniados e apresentados pela direita como “sanguinários”:
“As camisetas, broches, adesivos e cartazes ilustrados com a bandeira do Hamas fazem par com outros materiais que fazem referência a militantes como Che Guevara e Karl Marx.”
Acusar o PCO de ser “violento”, nesta altura do campeonato, não serve apenas a uma campanha de calúnias contra a esquerda. Serve também para a repressão, uma vez que quem apoia a resistência palestina vem sendo chamada de “terrorista”. O próprio artigo menciona que “o partido já foi denunciado por apologia ao terrorismo. A denúncia diz respeito a imagens de um ato público em que João Pimenta, filho do presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, brada ao microfone ao pedir ‘uma salva de palmas para todos os grupos armados, para o Hamas, para a Jihad islâmica e para todos os grupos que lutam pela Palestina’“.
O artigo é, assim, também uma tentativa de incriminar o Partido. Para um órgão que já criticou tanto as arbitrariedades de Alexandre de Moraes, chama a atenção querer que um adversário político seja reprimido pelo que fala em sua imprensa.
