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São Paulo

É a luta, não eventos culturais, que trará respeito aos índios

Identitarismo utiliza evento cultural para dizer que essa é a forma de se dar ‘visibilidade’ aos indígenas, o que é falso, A luta política é a única arma que trará dignidade

Venda de artesanato

Neste sábado (7), Txai Suruí assinou um artigo na Folha de São Paulo intitulado “Um manifesto contra a invisibilidade indígena”, onde repete uma tendência do identitarismo, que quer atacar os problemas sociais do ponto de vista da forma ou “estruturas hipotéticas”.

No primeiro parágrafo, diz que “Na metrópole de São Paulo, onde o concreto parece sufocar tradições, aconteceu nesta sexta-feira (6) o evento Beleza Indígena, um verdadeiro ato de resistência e celebração da cultura indígena. Criado na Terra Indígena Jaraguá, o evento não é apenas uma celebração estética, mas um poderoso manifesto contra a invisibilidade e o preconceito que os povos indígenas enfrentam diariamente”.

Somos obrigados a discordar, pois um desfile de moda vão dar visibilidade aos povos indígenas, porque o problema é outro. Os nossos índios precisam ser vistos principalmente como trabalhadores rurais pobres e sem-terra. Enquanto perdurar essa situação, não terão “visibilidade”.

Por que é importante tornar aos índios “invisíveis”? Porque assim é mais fácil lhes roubar as terras, assassiná-los, prendê-los, como fazem aqui no Brasil, especialmente nos dias de hoje no Mato Grosso do Sul, onde o governo, com sua polícia, age a mando do latifúndio e da especulação imobiliária.

Violência contra os índios

No final de novembro, no dia 27, o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), mandou a Tropa de Choque agredir índios da etnia guarani-caiouá que protestavam contra a falta de acesso à água potável, um recurso que não existe nas aldeias. Sem isso, é fácil entender que fica impossível um saneamento elementar, o que acaba gerando uma enormidade de enfermidades.

Cansados de reivindicar, os indígenas resolveram bloquear a rodovia MS-156, no trecho entre Itaporã e Dourados, pois é lutando que se consegue visibilidade. Os índios questionavam o porquê de não terem água se do outro lado da pista, em um condomínio de luxo, esse recurso era abundante. Como resposta a essa reivindicação básica, o governador mandou o Choque.

Contra famílias e pessoas desarmadas, a polícia chegou com bombas de efeito moral, gás lacrimogênio, spray de pimenta, o que deixou diversos feridos. O governador Riedel alegou que a ação da polícia foi acertada, pois o protesto dos índios seria uma tal “iniciativa político-eleitoreira”.

A intenção é boa, mas…

Segundo o artigo, Jacilede Martim, fundadora do movimento, “o evento foi criado principalmente para a divulgação da cultura, devido ao racismo e preconceito que sofremos”. E que seria uma busca pela autoestima da comunidade, pois: “As pessoas se viam como inferiores, como se não fossem bonitas. A beleza indígena não se encaixa nos padrões da sociedade não indígena. Por isso, o desfile é uma celebração da diversidade e da autoafirmação”.

Não somos contra eventos culturais, antes o contrário, no entanto, não se pode ter a ilusão de que isso por si só aumentará a “visibilidade” dos nossos índios, já foram exaltados, já foram alvo de inúmeros documentários, e nada disso impediu que fossem e continuem sendo atacados e caçados como bichos.

Para os latifundiários, e para a direta, os índios não passam de preguiçosos que não fazem nada com a terra, o que é uma justificativa sórdida da pilhagem que promovem contra nossos indígenas.

Txai Suruí diz que o evento da beleza indígena “revela que enquanto alguns ainda veem a cultura indígena como atrasada, ela continua a ser força vital e dinâmica, adaptando-se e resistindo dentro de um contexto urbano hostil como é São Paulo”. E a nossa pergunta é: O que acontece quando os indígenas saem em defesa de seus direitos? Como vimos, são perseguidos. É impossível manter uma cultura com ‘força vital e dinâmica’, quando não se tem acesso à água.

Descaso como política

Sobre a realização do evento, Jacilede diz que “tudo é feito com a ajuda da comunidade e de voluntários. Não temos apoio financeiro do governo, e isso é um reflexo de como a cultura indígena ainda é desvalorizada”. Sim, pois o governo está a serviço de quem, senão da burguesia?

Daniel Lemes, membro do Conselho Nacional dos Povos Indígenas, e militante do Partido da Causa Operária, narrou o cenário de terror da repressão fascista que sofreram no Mato Grosso do Sul: disse que Essa não é a primeira vez que as comunidades indígenas enfrentam repressão violenta no Estado. O bloqueio da MS-156 foi uma medida desesperada para chamar a atenção das autoridades, diante do descaso com uma necessidade vital. A falta de água potável nas aldeias não apenas compromete a saúde da população, mas escancara o descaso criminoso do governo do MS com os índios, que na metade da segunda década do século XXI, vivem em condições medievais.

Chegando perto do final do artigo, Txai Suruí diz que “o Beleza Indígena é um convite à reflexão sobre a importância dos povos originários e um chamado à valorização das tradições que ainda permanecem vivas. Em tempos de crescente polarização e preconceito, iniciativas como essa são cruciais para promover o respeito à diversidade. Ao celebrar a beleza indígena, não apenas reconhecemos a riqueza da cultura como abrimos espaço para diálogos necessários em nossa sociedade”.

Diálogo é bom, sem dúvida, mas a realidade tem mostrado que esse recurso não existe de fato, pois não se pode dialogar com balas de borracha e gás lacrimogênio. Temos visto muito pouco, para não dizer nada, dos identitários que, como a ministra Sônia Guajajara, que não acompanha de perto e combate a violência brutal que os índios vêm sofrendo.

Não adianta ficar viajando para o exterior para ficar falando de mudanças climáticas, povos originários etc., se nossos indígenas estão morrendo de sede mesmo vivendo ao lado de fontes de água. Estas, como a nossa ministra sabe muito bem, estão nas mãos dos latifundiários. Portanto, quem se cala diante disso, está, na verdade, consentindo.

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