A desistência da candidatura de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos vem causando uma certa esperança na esquerda pequeno burguesa brasileira, com a expectativa de derrotar o que eles consideram como o maior fascista dos últimos tempos, Donald Trump.
A confusão é tamanha que, a cada dia, surgem mais e mais análises procurando justificar um apoio envergonhado aos genocidas do Partido Democrata. Com a renúncia de Biden e o anúncio da candidatura de Kamala Harris, parece que agora o candidato republicano terá um oponente à altura, que possa manter o que a esquerda considera como um “regime democrático”.
O articulista Valerio Arcary, do portal Esquerda Online, é um desses que considera como tarefa urgente da esquerda derrotar Trump nas urnas norte-americanas. Em seu artigo “Donald Trump é um protofascista?”, Arcary considera que para os brasileiros não deveria haver dúvidas de que Trump é um protofascista, pela experiência que tivemos com Bolsonaro.
“As trajetórias de Jair Bolsonaro e Donald Trump são diferentes, mas ambos estão alinhados com o mesmo projeto político. São dois monstros, e têm que ser derrotados, não podem ser perdoados”, disse o articulista.
A declaração de Arcary demonstra um total desespero com a possível vitória de Donald Trump. Uma preocupação que não deveria vir da esquerda, pois nossa luta política não deveria se resumir às eleições, muito menos à norte-americana. A esquerda não deve ter como obrigação derrotar o candidato supostamente mais perigoso. Numa disputa entre dois setores da direita imperialista, não faz sentido apoiar nenhum dos lados. Faz menos sentido ainda se desesperar com o possível resultado eleitoral. Em ambos os casos, os trabalhadores continuarão na lama.
Sobre o Partido Republicano, Arcary considera que está tomado pela extrema-direita:
“Não há uma extrema direita que se estrutura como corrente, estritamente, eleitoral e respeita os limites dos regimes em que lutam para chegar ao poder, e uma corrente neofascista de combate com um pé na legalidade e um pé na contrarrevolução insurrecional. (..) Mas todos abraçam a mesma estratégia. São um mesmo e único movimento com duas alas no seu interior, mas quem dirige são os neofascistas”
E no caso de vitória de Trump, Arcary prevê um apocalipse:
“Se Donald Trump vencer em novembro, a ultradireita mundial ganhará um impulso formidável, talvez imparável em alguns países. Resumo da ópera: Donald Trump fortalece Jair Bolsonaro.”
Esse pavor de Trump esconde um sentimento enraizado na esquerda de apoiar o dito “mal menor”, mesmo que esse “mal” seja o Partido Democrata, que é responsável por financiar diretamente o genocídio na Faixa de Gaza. Um pavor que não condiz com a realidade de que Biden é um terror muito maior para os países oprimidos.
Valerio Arcary utiliza até de índices econômicos para tentar mostrar que o governo Biden teria sido melhor que o Trump. Além disso, elogia Kamala Harris como uma “mulher negra enérgica”, mas que talvez não tenha disposição para “enfrentar o protofascismo como a gravidade do perigo exige”.
Por fim, Arcary reconhece todas as posições pró-imperialistas de Harris como o apoio à ofensiva sionista e a Zelensky. Mesmo assim, a conclusão do articulista é de que a “derrota de Donald Trump seria o melhor desenlace, em especial, para a esquerda brasileira que ainda está ameaçada pelo bolsonarismo”.
Aqui é preciso deixar muito claro: torcer para a derrota de Trump, é torcer pela vitória de Harris, pela vitória dos democratas. Arcary e várias outras figuras da esquerda utilizam do método de criticar Kamala Harris e no final dizer que é melhor que Trump perca.
É um golpe! E é um truque rasteiro, uma justificativa absurda para apoiar o absurdo. Apoiar o “mal menor” é apoiar o sionismo, é apoiar aqueles que injetam bilhões de dólares diretamente para bombardear palestinos. É uma justificativa para as cerca de 15 mil crianças assassinadas pelo regime sionista.
Quem é mais ou menos fascista? Donald Trump ou Kamala Harris?
A resposta para essa pergunta não tem importância alguma do ponto de vista prático. Os marxistas e as organizações de trabalhadores não poderiam, em hipótese alguma, apoiar alguém por ser “menos fascista”. Finalmente, continua sendo um fascista.
Ou será que Arcary não considera a limpeza étnica praticada por “Israel” contra os palestinos como um preciso exemplo de fascismo? É o verdadeiro nazismo dos dias de hoje!
Valerio Arcary mais uma vez bate ponto com o imperialismo. O articulista, que ainda ousa se dizer trotskista, tem preferência por defender o maior representante do imperialismo do mundo, o Partido Democrata.
É necessário discutir a fundo essas barbaridades que vem de um setor da esquerda que acaba confundindo o movimento dos trabalhadores. Não devemos, de forma nenhuma, apoiar um candidato da direita, seja em qual circunstância for.