Nesta semana que passou, a alta do dólar vem batendo recordes, sendo negociado a R$ 6,0012 o dólar à vista, o que corresponde ao maior valor nominal da história, ultrapassando pela primeira vez os R$ 6,00. Na semana, o dólar acumulou alta de 3,21%.
O que o “mercado” fez, diante de expectativa do pacote de “corte de gastos” do governo, foi lhe colocar uma faca no pescoço e dizer que não vai aceitar isenções no imposto de renda sobre os salários. Na verdade, o governo não colocou nenhuma isenção no Pacote, jogou para frente essa questão. Isso dependerá de aprovação do Congresso, o que equivale a dizer que não será aprovado.
A “reação” do mercado financeiro, esse ataque especulativo, foi feito diante de um rumor de que haveria isenções e que o Pacote não estaria concentrado apenas no corte de gastos sociais. Deixando claro que serão feitos ataques muito piores quando o governo tentar qualquer medida que beneficie minimante os trabalhadores.
O governo Lula tem se mostrado impotente diante dos ataques dos bancos e do mercado financeiro, pois apesar do anúncio de cortes muito duros dos direitos da população, a burguesia promoveu um ataque especulativo para forçar o governo, e para dizer que ainda é pouco, pois querem mais.
O pobre na mira
Quem são as pessoas afetadas pelas medidas? Justamente as pessoas mais pobres, aquelas que dependem do Bolsa Família ou Benefício Continuado, aqueles que recebem salário-mínimo. Um cálculo aproximado, demonstra que o governo vai retirar da população mais pobre algo em torno de R$ 300 bilhões.
Embora R$ 300 bilhões possam parecer uma “boa economia”, essa quantia será rapidamente devorada pelos bancos. O simples aumento de 1% na taxa de juros faz com que o governo pague R$ 60 bilhões para os bancos para pagar a dívida. Ou seja, em 5 anos, ou menos, toda essa “economia” poderá ir direto para os bolsos dos banqueiros.
O que os bancos estão exigindo é que o governo corte os gastos sociais e repasse para eles. Foi por isso que o Banco Central foi tornado “independente”, para que as taxas de juros ficassem sob o controle direto do mercado financeiro.
Existe uma ilusão do governo Lula, a de que, cedendo aos bancos, vão conseguir algum benefício futuramente, mas não vai conseguir, pois toda vez que o mercado sobe o dólar o governo se rende. Se é assim, por que os bancos entregariam algo para um governo que não oferece resistência?
Lula está prometendo um reajuste a partir de 2026, sendo que essa deveria ter sido a sua primeira atitude ao tomar posse, pois Temer e Bolsonaro não mexeram na alíquota do imposto, o que faz com que pessoas que recebem míseros dois salários-mínimos tenham que pagar imposto de renda. Sem falar dos impostos sobre o consumo, que penalizam enormemente a população.
A presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, disse que a elite é egoísta e não se importa em prejudicar o Brasil para atingir Lula. E mais, acrescentou que o “Dizem que o mercado está chiando e aumentando o dólar por isso [a isenção de impostos]. Mentira, mercado chiaria de qualquer jeito, sobre qualquer programa, plano que apresentássemos, a menos que o plano fosse o deles, corte total em cima de programas sociais e dos mais pobres. Mas aí não faria sentido nosso governo”. Exatamente. Porém, se é assim, por que o partido não mobiliza sua base para enfrentar a burguesia?
O PT deveria reunir a sua base, demonstrar que os bancos estão atacando o governo para evitar que o trabalhador seja beneficiado com isenções no imposto de renda. Deveria mostrar que exigem cortes de verbas na Saúde, na Educação, apenas para o pagamento de juros. Mas, não.
Seria uma ótima estratégia do governo questionar a dívida pública, fazer uma auditoria, demonstrar o porquê desses aumentos reiterados das taxas de juros. No entanto, o que estamos vendo são acordos por cima que não têm a menor chance de dar resultado.
Desmobilização
A política adotada pelo governo Lula será catastrófica para a esquerda. O corte de gastos sociais, especialmente com as pessoas mais pobres, vai causar um enorme estrago na base. Muitos trabalhadores vão acabar sendo atraídos pela extrema direita, que seguramente vai usar essas medidas contra o governo. Se Bolsonaro já utilizou o fato de ter aumentado o Bolsa Família para R$ 600, por que não utilizaria a questão do pacote do Haddad?
Os sindicatos estão calados, não se pronunciam e não se mobilizam para preservar o governo petista, mas isso não ajuda, apenas piora o quadro geral, pois a paralisia faz com que os trabalhadores considerem os sindicatos fracos ou mesmo inúteis na defesa de seus interesses. O que será mais um motivo para migrarem para as posições e promessas demagógicas da extrema direita.
A CUT e as organizações sindicais precisam entender que mobilizar os trabalhadores é fortalecer o governo Lula. Não fazer nada, é deixá-lo à mercê dos bancos e do grande capital financeiro, e favorecer o ascenso da extrema direita.