Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Coluna

Dois pesos e duas medidas

Esquerda pequeno-burguesa culpa a vítima e defende o agressor

O debate dos candidatos à Prefeitura de São Paulo do último domingo, na TV Cultura, tinha tudo para ser mais do mesmo, não fosse um deles perder a linha e agredir outro com uma cadeira. A imprensa como um todo e, particularmente, a da esquerda pequeno-burguesa saíram em defesa do agressor e pedem que o agredido seja cassado da disputa. Parece estranho? A coisa toda se explica quando se atribuem nomes aos bois.

O agressor é José Luiz Datena, novo ícone da esquerda cor-de-rosa. Sim, ele mesmo, o repórter amigo da polícia, perseguidor de bandidos e defensor dos “cidadãos de bem”, típicos eleitores de Jair Bolsonaro. O agredido é Pablo Marçal, o ex-coach de direita, de biografia duvidosa, que não poupa os adversários e livra o espectador da modorra dos debates cheios de regras.

Marçal provocou Datena, principalmente por ter trazido à tona – aliás, em boa hora – um caso de assédio sexual do apresentador, que a imprensa revelou nos rodapés de páginas, sem destaque, em 2019. Diga-se que as matérias agora estão fáceis de encontrar e mostram, em detalhes, as acusações da jornalista que teria sido assediada por ele e que, à época, retirou as queixas, orientada por advogados, mas recorreu às redes sociais para contar a história. A ex-repórter Bruna Drews, diferentemente de Anielle Franco, deu a conhecer as suas queixas e não se abrigou sob as asas de nenhuma ONG.

Chama a atenção o fato de a esquerda pequeno-burguesa, que não demorou cinco minutos para condenar Sílvio Almeida, o ex-ícone do “povo preto”, não se deixar afetar pelas denúncias de igual teor – ou piores – feitas contra o truculento Datena. Ninguém ficou horrorizado. Alex Solnik, no Portal 247, pede a cassação de Marçal depois do episódio da “cadeirada” – afinal, Marçal foi culpado por ser agredido.

Marçal é candidato por um pequeno partido, o PRTB, ao qual se filou para entrar na disputa. Já denunciou várias vezes que outras legendas chegaram a lhe cobrar R$ 20 milhões para abrigar sua candidatura. Datena, por sua vez, que já posou de amigo de Boulos, é candidato pelo claudicante PSDB, o partido da burguesia paulistana. Datena, aliás, apresenta-se no debate como tendo sido filiado ao PT por 23 anos. Alguém já viu o Datena defendendo os trabalhadores ou militando no PT?

A propósito, na folha corrida de Ricardo Nunes, também consta agressão à mulher, retirada por ela quando ele foi escolhido vice na chapa de Bruno Covas para a Prefeitura de São Paulo, que foi o que lhe propiciou ter chegado ao posto, com a morte do titular.

Enfim, a mesma esquerda pequeno-burguesa que condenou Silvio Almeida mesmo sem saber o que, de fato, aconteceu passa pano para José Luiz Datena, que, além de ter no currículo acusação de assédio recheada de detalhes, partiu para a agressão física de um oponente diante das câmeras de TV. São dois pesos e duas medidas. Infelizmente, esse também tem sido um critério usado por juízes: primeiro a decisão, baseada em afinidades, depois a busca de argumentos.

De resto, a Rede TV promoveu outro debate entre os candidatos, mas tomou o cuidado de aparafusar as cadeiras no chão. Afinal, depois do sucesso que está fazendo na esquerda do amor, Datena poderia sentir-se tentado a repetir o feito, na impossibilidade de responder ao outro com palavras. E segue o jogo.

 

 

 

 

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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