Na quinta-feira (8), o portal Brasil 247 publicou uma coluna assinada por Tereza Cruvinel intitulada Foram duas tentativas de golpe, a qual trata da Operação Tempus Veritatis (Hora da Verdade) realizada pela Polícia Federal na última segunda-feira (5) e autorizada por Alexandre de Moraes. Segundo as teses de Cruvinel, o “8 de janeiro foi a farsa do golpe original que não se concretizou”, a primeira tentativa de golpe teria buscado burlar o resultado das eleições e a segunda buscaria impedir a posso do presidente Lula com uso de tropas militares, além da prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal por intervir no resultado das eleições que seriam convocadas novamente.
8 de janeiro
Em primeiro lugar, deve-se esclarecer novamente que a invasão aos prédios dos Três Poderes da República do Brasil, em 8 de janeiro de 2023, se tratou de uma manifestação política legítima de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro contra o resultado e o processo eleitoral controlado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Da mesma forma, setores da esquerda foram para as ruas pedir o “Fora Bolsonaro”, uma vez que o processo que conduziu Jair Bolsonaro à presidência foi uma fraude completa sem a participação de Lula, que foi preso e ilegalmente impedido de concorrer nas eleições de 2018 pelo STF.
O vandalismo empregado pelos bolsonaristas contra os prédios públicos, bem como contra objetos de valores históricos e culturais é utilizado por setores da esquerda para sustentar a tese de golpe. Mas, seria importante ter claro que em ocupações realizadas pela esquerda, é comum acontecer de uma porta ser rompida ou uma vidraça quebrada, setores mais radicalizados já, inclusive, incendiaram prédios e depredaram estruturas, até mesmo obras como a estátua do Borba Gato foi atacada.
Por isso, deve-se ter claro que está em jogo o direito de manifestação política. Desde as manifestações bolsonaristas ao final da eleição presidencial, que terminaram com bloqueio de rodovias, a esquerda tem apoiado a ilegalização dos métodos de luta históricos dos oprimidos. Isso em virtude de uma verdadeira histeria impulsionada pela política do espantalho, do terror sobre um golpe fascista de Bolsonaro.
Em razão da ação de pessoas desarmadas não explicar uma tentativa golpe, buscou-se defender que o mesmo não se concretizou porque dependia de o presidente Lula decretar Garantia de Lei e Ordem (GLO) para que os militares tomassem conta do País. Segundo essa tese absurda, o Brasil está neste momento sob uma ditadura militar, uma vez que tal medida está em vigor.
Isso não significa que os militares não participaram e facilitaram a invasão aos prédios dos Três Poderes, até porque os bolsonaristas se organizaram na frente dos quartéis de todo País. Finalmente, tratou-se de um ato para desmoralizar o governo Lula, o qual é muito fraco do ponto de vista institucional, uma vez que não possui apoio nem do Legislativo e tampouco do Judiciário.
Operação Tempus Veritatis
Uma coisa interessante nas teses apontadas é o modo que buscam preencher as falhas. Por exemplo: se o vandalismo dos bolsonaristas é frágil como para sustentar a tentativa de golpe, apontam a possibilidade de forçar Lula a decretar GLO. Se não é possível vincular Bolsonaro às ações do 8 de janeiro, buscam tal através de uma conversa entre um dos organizadores da manifestação e seu correligionário, Carlos Jordy, que não disse absolutamente nada. Estamos diante de um processo do tipo Mensalão ou Lava Jato, no qual o chamado “domínio do fato” dispensa provas.
Assim, a colunista do 247 considera que “agora [Bolsonaro] est definitivamente comprometido com o crime de golpe de Estado”. Isto porque, segundo Cruvinel, “se em relação ao 8 de janeiro ele [Bolsonaro] pode alegar que nem estava no país, agora existem provas de que ele planejou um golpe que seria dado antes da posse de sucessor eleito”. Mas a presença ou não de Bolsonaro comprovaria o quê diante dos supostos golpes que não ocorreram? É preciso ter claro que mesmo que haja a vontade de impor um golpe, o ato somente pode ser considerado crime se colocado em prática.
Esse tipo de tese absurda normaliza prisões como aconteceu na estação de metrô República, na capital paulista, onde 25 jovens foram acusados de atentado violento contra o Estado Democrático de Direito, não por terem derrubado o governador do poder ou qualquer coisa do tipo, mas por estarem encapuzados e supostamente portando objetos como canivete, martelo, pedra, vinagre e gaze a poucos metros de onde seria realizado um ato contra o aumento da passagem. Não constitui crime algum, segundo a lei, portar tais objetos ou se vestir como se encontravam, os mesmos sequer estavam no ato. Mas é possível qualquer interpretação hoje no País, os direitos democráticos já não existem mais, algo que foi orquestrado com base na perseguição aos coitados do 8 de janeiro.
Segundo a comentarista do 247, o golpe que aconteceria antes da posse do presidente Lula “seria consumado com a intervenção de tropas do Exército, através do batalhão do Comando de operações Terrestres (Coter), localizado em Goiânia e vinculado ao Comando Militar do Planalto”. Tal conclusão foi resultado do general Theófilo Gaspar de Oliveira, ex-comandante da unidade, ser alvo da operação, quem, a partir de mensagens obtidas através do celular do ex-ajudante-de-ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, teria se encontrado com então presidente no dia 9 de dezembro.
As conclusões parecem ter alguma lógica, se o comandante do Coter estava planejando um golpe, evidentemente suas tropas seriam utilizadas para tal. O problema é que ninguém sabe exatamente o conteúdo das conversas, a Polícia Federal e o STF não merecem a mínima confiança. Parece que os setores ditos progressistas se esqueceram do problema de se confiar nessas instituições que inclusive igualmente ganham notoriedade nas manchetes e capas da imprensa golpista.
Diante disso, Tereza mergulha de cabeça na história fantasiosa e afirma que, “não por acaso”, o ministro Alexandre de Moraes teria revelado o plano de prendê-lo e levá-lo para Goiânia. Para aumentar ainda mais tamanho disparate, além do articulador desta operação, outros golpistas de carteirinha seriam presos ainda como o também ministro do STF Gilmar Mendes e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Nada mais longe da realidade, seria inimaginável a crise que resultaria no interior da burguesia.
Enquanto os ditos democráticos apoiam este ato político contra Bolsonaro, fortalecem os interesses do imperialismo representados pelo STF. Tal política é tão arriscada que pode ter efeito contrário como se vê com Trump nos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, tirando Lula do páreo para dar lugar à terceira via, que poderá ser o próprio Alexandre de Moraes, o mesmo que permitiu o “pacotão de Bolsonaro” para compra de votos às vésperas das eleições de 2022 e que se referia ao presidente petista como chefe de organização criminosa que seria o Partido dos Trabalhadores (PT).