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Palestina

Dois Estados, a farsa para calar os palestinos – Parte 1

Funcionários da ONU, sob o manto da neutralidade, visam a impor a colonização ao povo palestino, apresentando uma farsa para que abaixem suas armas

Na última quinta-feira, o portal esquerdista Brasil 247 publicou uma coluna de Jeffrey Sachs, alto funcionário da ONU, escrita conjuntamente com Sybil Fares, funcionária de uma agência da organização, intitulada “Alcançando a solução de dois Estados no rescaldo da guerra de Gaza”. A proposta do artigo é resolver o conflito pela formação de dois Estados nacionais, um palestino e um sionista e, mais que isso, os autores tentam apontar a “solução de dois Estados” como a única possível para resolver o problema de fato. Vamos aos argumentos:

“A solução de dois Estados está consagrada no Direito Internacional e é o único caminho viável para uma paz duradoura.”

De início, temos uma mentira grotesca. A “solução de dois Estados” foi uma formulação que legitimou, nas Nações Unidas, em 1947, o estabelecimento do Estado de “Israel”, fundado pela força em 1948, e oficialmente em 1949, sem, no entanto, qualquer consulta à população local, ou qualquer consideração à posição dos países vizinhos à Palestina, ou aos demais países da região como um todo. Na prática, foi um marco no projeto sionista, que conseguiu legalmente (segundo a lei internacional) validar sua colonização da região. O plano dos supremacistas era colocar um pé na Palestina, no sentido de um Estado, e então gradualmente expandir seu projeto, que já vinha em andamento. Surpreende, ou não, que membros da ONU reproduzam sem qualquer crítica tal farsa, e a utilizem ainda hoje para legitimar a colonização da Palestina. A continuidade dos argumentos, ao invés de elevar, reduz o nível da discussão:

“Todas as outras soluções — uma continuação do regime de apartheid de Israel, um Estado binacional ou um Estado unitário — garantiriam a continuação da guerra por um lado ou por outro, ou por ambos.”

A existência de “Israel”, em si, é uma guerra contra o povo da região, ou seja, o primeiro ponto está correto. Agora, por que um Estado binacional garantiria a continuidade da guerra? Ou um Estado unitário? Seria preciso demonstrar a questão. O Líbano, por exemplo, tem sua máquina estatal dividida entre três grupos religiosos, e vive em paz. Já a “solução de dois Estados”, caso fosse implementada, representaria logicamente a continuidade da guerra: ora, seriam dois Estados vizinhos disputando recursos em uma mesma região, sendo um deles abertamente supremacista e expansionista, que é o projeto sionista. Mas existe ainda outro problema.

A “solução de dois Estados”, como a história demonstra, nunca se propôs realmente como forma de efetivar dois Estados na região. O fato de não existir um Estado Palestino até hoje é uma prova cabal do problema. A apresentação em si da “solução de dois Estados” é outra prova do problema. Só se apresenta o problema dos dois Estados quando a situação esquenta, ou seja, quando os palestinos perdem a paciência e resistem à sua opressão. A ONU, em termos de trabalho para esse fim, é uma nulidade, outra evidência de nosso argumento. Aqui, a honestidade dos articulistas já merece ser posta em questão. Porém, sigamos:

“No entanto, a solução de dois estados parece estar bloqueada de forma irremediável. Não está. Aqui está um caminho.

O governo israelense se opõe fortemente a uma solução de dois Estados, assim como uma proporção significativa da população israelense, alguns por motivos religiosos (‘Deus nos deu a terra’) e outros por motivos de segurança (‘Nunca poderemos estar seguros com um Estado da Palestina’). Uma proporção significativa dos palestinos considera Israel uma entidade colonial de colonos [sic] ilegítima e, de qualquer forma, desconfia de qualquer processo de paz” (grifo nosso).

O governo israelense nunca aceitou a criação de um Estado Palestino. Enquanto base militar do imperialismo, jamais poderia aceitar um recuo em sua dominação da região, ainda mais pelo fato de ser artificial: sua população não é nativa, e não tem relação com os povos da região, incluindo aqui os judeus nativos, não sionistas, cujas manifestações contra o projeto nazista-sionista são rotineiras em “Israel”, sendo, em razão disto, reprimidos inclusive pelas forças sionistas. A questão religiosa aqui é outra fachada. O sionismo nunca foi um movimento de caráter religioso, seus fundadores terem considerado outros locais para o estabelecimento de seu Estado supremacista é prova disso, e a afirmação de vários deles como ateus também.

Aqui, na argumentação sobre a posição dos palestinos, vemos a posição real dos articulistas, no trecho grifado. Os palestinos, despojados de suas terras, com os recursos hídricos restritos e desviados por “Israel”, cercados por um muro na Faixa de Gaza, num verdadeiro cerco nazista; e também sob ocupação militar na Cisjordânia, consideram “Israel”, país artificial e supremacista, na prática uma base militar do imperialismo no Oriente Médio, como uma entidade colonial ilegítima e desconfiam do processo de paz, que, por parte do sionismo e do imperialismo, jamais avançou em 100 anos.

Como são irrazoáveis estes palestinos, duvidando da boa vontade da ONU e do sionismo. Esperaram apenas um século, mas as negociações estão logo ali. Não é porque tentaram outras vezes (e em todas elas os acordos foram desrespeitados) que dessa vez não ocorrerá o mesmo. Mais que isso, considerar “Israel” como uma entidade colonial é apresentada como “proporção dos palestinos considera”, o que é uma farsa. Afinal, tal caracterização de “Israel” como entidade colonial é consenso internacional, bloqueado apenas pelos EUA (incluindo os países que coloniza) e seu punhado de colegas do imperialismo europeu nas Assembleias Gerais da ONU.

Paramos por aqui, pela extensão que toma este artigo, numa parte um. Amanhã, os leitores podem esperar pela segunda parte, quando continuaremos a polêmica com a farsa dos dois Estados apresentado pelo artigo publicado no portal Brasil 247.

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