Na última sexta-feira (13), o afastamento do professor de direito da Universidade de São Paulo, Alysson Mascaro, após uma denúncia anônima de abuso sexual de estudantes revela o propósito da inquisição identitária. Depois do linchamento que resultou da publicação do The intercept Brasil em 3 de dezembro, foi publicado decreto do governador Tarcísio de Freitas que permite afastar servidor por 180 dias sem qualquer apuração ou abertura de sindicância e agora a universidade decidiu sobre seu afastamento a pedido do Centro Acadêmico.
Alysson Mascaro não foi o primeiro alvo da sanha identitária por “justiça”, mas certamente é o mais estranho entre os casos. Até então, as denúncias contra jogadores de futebol eram os maiores destaques do linchamento identitário, bastava ser acusado para ser considerado culpado. Antes de qualquer julgamento ou apuração, os identitários defenderam o desligamento dos jogadores de sua atividade profissional e sua prisão. O caso envolvendo o professor da USP se difere dos relacionados a jogadores devido às vítimas não serem mulheres.
Esses casos abrem um precedente perigoso, uma vez que a presunção de inocência está sendo totalmente suprimida. No caso envolvendo o Robinho, o ex-jogador do Santos e do Brasil foi afastado de sua atividade profissional em virtude de seu linchamento. Posteriormente, um novo precedente ainda mais perigoso foi aberto em virtude de uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que acatou a condenação da justiça italiana e prendeu Robinho numa clara violação da soberania e dos direitos dos cidadãos brasileiros.
Já Daniel Alves foi preso de forma preventiva na Espanha como se fosse um maníaco compulsivo e oferecesse risco à sociedade.
É flagrante as arbitrariedades cometidas pelo judiciário nacional e internacional nos casos que recebem apelo identitário. Por outro lado, a imprensa também cumpre um papel importante para essa histeria. Um exemplo desse assassinato de reputação é o caso envolvendo Neymar, que já havia sido condenado pela imprensa e pelos identitários, mas foi salvo pelo vídeo divulgado pela suposta vítima que revelou se tratar de uma armação.
Apesar dos problemas que não são menores nos casos envolvendo os jogadores de futebol, as vítimas não eram anônimas e foram abertos processos na justiça contra os acusados. Alysson Mascaro sequer estava respondendo a uma sindicância.
O decreto do governador de São Paulo expressa bem como a histeria identitária está sendo usada pela direita. Não há nenhum motivo para acreditar que Tarcísio de Freitas se preocupa com a população, as matanças na periferia pela polícia sob seu controle e a entrega da Sabesp não deixam qualquer dúvida. Mas, agora os servidores públicos podem ser afastados de suas funções por uma simples denúncia anônima.
Essa política vai sendo adotada pelo judiciário, ao serviço público e logo poderá ser aplicada em todas as esferas sociais. Isso representa um grande perigo a toda sociedade e pode ser utilizada como uma arma pela direita contra seus inimigos políticos. Portanto, precisa ser rechaçada firmemente pelos setores da esquerda. É colocar em marcha uma grande campanha em defesa dos direitos democráticos.