Candidata a vereadora pelo PSOL na cidade de São Paulo, Carol Iara anunciou no último dia 26 ter denunciado a campanha de Lucas Pavanato, postulante do PL ao mesmo cargo. O motivo seria o panfleto distribuído pelo candidato bolsonarista, apresentado pela psolista como “transfóbico: “Denunciei Lucas Pavanato por usar um panfleto transfóbico nestas eleições”, disse a candidata em seu perfil oficial no X, acrescentando: “agora ele [Pavanato] quer um debate. Eu aceito, se o debate for em veículos de imprensa. Nasci pronta pra debater [grifo nosso] e tenho propostas pra São Paulo. Você tem o que, Pavanato?”
A frase autoafirmativa, “nasci pronta pra debater”, no entanto, cai no ridículo diante da demonstração prática de que na realidade, Iara não consegue debater qualquer uma das questões colocadas pelo candidato de extrema direita. Isso fica explícito pela ação de denunciar à repressão estatal uma opinião política com a qual a representante do PSOL tem discordância.
A posição de Carol Iara não é um caso isolado, mas sim um reflexo do autoritarismo que permeia o PSOL. O partido, ao longo dos anos, tem sido uma expressão de feições esquerdistas das tendências fascistas do regime político, que visa criminalizar divergências de opinião.
Qualquer posição que contrarie os identitários é rapidamente etiquetado como crime, como no caso das manifestações do candidato bolsonarista. Esse comportamento serve a um propósito claro: encobrir a fragilidade dos seus candidatos, que frequentemente carecem de uma política verdadeiramente popular. O PSOL evita o debate aberto e democrático porque sabe que suas posições, muitas vezes, estão repletas de brechas e contradições que podem ser facilmente exploradas por adversários.
Ao invés de enfrentar essas questões de frente, o partido prefere se esconder atrás de subterfúgios e do uso do aparato repressivo do Estado, denunciando como “criminoso” qualquer um que desafie suas posições. Essa estratégia autoritária é um sinal claro da falta de confiança nas próprias ideias e da incapacidade de construir uma base de apoio genuína entre as massas populares, que são as verdadeiras vítimas dessa manipulação política.
A contradição é gritante. Iara se apresenta como alguém pronta para o debate, mas na prática age pedindo censura ao adversário político. Como pode alguém que se diz favorável ao debate buscar a repressão como primeira resposta?
É a velha tática dos identitários: clamam por liberdade, mas correm para o aparato repressivo do Estado quando confrontados com uma opinião diferente. O pedido de censura é uma admissão clara de incapacidade de enfrentar ideias contrárias no campo da discussão política.
Ao mobilizar a burocracia judicial para silenciar Pavanato, Iara mostra ser uma psolista típica que, ao contrário do que diz, não tem argumentos sólidos o suficiente para convencer a população ou responder às críticas dirigidas a ela e ao seu programa político. A reivindicação pela censura, travestida de luta contra a “transfobia”, nada mais é do que a demonstração de um desespero autoritário que permeia os setores identitários da esquerda, sempre prontos a sacrificar o livre trânsito de ideias em nome de uma suposta proteção a minorias, que finalmente, não se verifica na prática, implicando apenas e tão somente no fortalecimento da repressão política somente.
Além disso, ao condicionar o debate ao ambiente dos “veículos de imprensa”, Iara reforça a própria insegurança em discutir ideias em qualquer lugar, em qualquer contexto. O argumento de que nasceu pronta para o debate se desfaz rapidamente diante da ressalva. Se estivesse verdadeiramente preparada para um confronto de ideias, não imporia restrições desse tipo.
A escolha do meio de comunicação não deveria ser uma questão, a menos que o objetivo real seja um controle maior sobre as condições do debate, o que apenas demonstra a falta de preparo e a fragilidade das suas posições. Fosse realmente preparada, como afirma, a candidata aceitaria debater em qualquer plataforma, em qualquer espaço, confiando na força dos seus argumentos para prevalecer. Essa condição imposta para o debate deixa claro que, no fundo, Carol Iara teme ser desmascarada, o que apresenta grande probabilidade de acontecer fora de um meio controlado.
No entanto, o aspecto mais perigoso desse episódio é o recurso à censura. A censura e a repressão estatal contra opiniões são, em essência, políticas fascistas. Ao pedir que o Estado silencie seu adversário, Iara coloca-se ao lado dos piores elementos da história política, aqueles que buscam calar o dissenso para manter uma aparência de unanimidade.
A censura é uma das primeiras ações de qualquer ditadura, porque sufoca na raiz qualquer tentativa de organização política independente. Ela atinge duramente os setores oprimidos, que dependem da liberdade de expressão para se articular politicamente. Os poderosos, com seus vastos recursos, sempre encontrarão meios para fazer valer seus interesses. É o povo e em especial os trabalhadores, a estrutura social que sofre quando o Estado impõe o silêncio forçado.
Ao recorrer à censura, Carol Iara se alinha com as forças que ela própria diz combater. Se realmente considerasse importante lutar contra a transfobia, a melhor estratégia seria promover um amplo debate, o mais aberto possível, ampliando a discussão e convencendo as massas pela força do argumento.
Ao recorrer à repressão, ela não só falha em convencer, como também reforça a opinião contrária, que já é forte em um país como o Brasil, com uma população conservadora e atrasada, consequência da pobreza e da brutalidade com que normalmente é tratada pelo Estado. Por esse histórico, ao mesmo tempo que vê com maus olhos qualquer tentativa de repressão estatal, os trabalhadores tendem a reagir negativamente às políticas que se choquem contra o sentimento religioso da maioria do povo.
Historicamente, o povo tem uma tendência a resistir contra a opressão, e ao ser colocado em oposição direta aos transexuais por conta de políticas repressivas, o resultado só pode ser mais hostilidade contra essa comunidade. A repressão estatal coloca os transexuais em uma posição de conflito com a maioria, o que é uma estratégia desastrosa.
Em vez de construir pontes e buscar o apoio das massas, Iara faz exatamente o contrário ao recorrer à censura, isolando ainda mais os transexuais e exacerbando as tensões existentes. Essa escolha por um caminho repressivo em vez de um debate paciente e argumentativo apenas serve para piorar a situação dessa comunidade. No final, essa estratégia não pode terminar bem para uma comunidade já marginalizada.