Nessa segunda-feira (1º de julho), aconteceu a libertação do diretor do hospital Al-Shifa, Dr. Mohammed Abu Salmiya, que foi sequestrado durante a operação do exército israelense contra a unidade em novembro. Dezenas de outros prisioneiros palestinos foram libertados com Abu Salmiyah.
O que causou certa estranheza foi que autoridades israelenses ficaram indignadas com a libertação do diretor do hospital. Após a libertação, o diretor do hospital deu testemunhos assustadores sobre o que vivenciou enquanto estava preso em “Israel”. Ele afirmou que as condições nas prisões israelenses são “trágicas, sem precedentes na história palestina, com grave escassez de alimentos e humilhação física”.
O diretor do hospital também disse que “até os médicos israelenses lá [nas prisões] tratam os prisioneiros com crueldade e os espancam… Esta ocupação abandonou todos os valores humanos”, destacando que os palestinos “são submetidos a humilhações físicas e psicológicas diárias”. “A situação prisional é trágica e muito difícil, e deve haver uma palavra decisiva da resistência e dos povos árabes pela liberdade dos prisioneiros”, concluiu.
A libertação do diretor do hospital abriu certa crise entre o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netaniahu e o Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir. “o procedimento para encarcerar prisioneiros de segurança e sua libertação está sob o Shin Bet e o Serviço Prisional de Israel, e não está sujeito à aprovação do ministro da defesa”, disse o gabinete do ministro da Defesa Yoav Gallant na segunda-feira (1º).
“A decisão de libertá-los ocorreu após discussões no Tribunal Superior sobre uma petição contra a detenção de prisioneiros no centro de detenção de Sde Teiman”, disse o gabinete de Benjamin Netaniahu, referindo-se a um centro de detenção israelense a 18 milhas da fronteira com Gaza, que foi descrito como “Guantánamo de Israel”. “A identidade dos prisioneiros libertados é determinada de forma independente por autoridades de segurança com base em suas considerações profissionais”, continuou o gabinete do primeiro-ministro apontando que será aberta uma investigação sobre o caso.
“Está na hora de o primeiro-ministro impedir [o Ministro da Defesa Yoav] Gallant e o chefe do Shin Bet de políticas independentes que contradizem as posições do gabinete”, disse Ben Gvir. A libertação do diretor do Hospital Al-Shifa “junto com dezenas de terroristas” é “imprudência de segurança”, ele acrescentou. A situação mostra claramente diferenças internas, desespero e confusão dentro do próprio governo do Estado de “Israel”.
Outras autoridades israelenses também mostraram indignação sobre o ocorrido. “É impensável fazer tal coisa sem uma reunião de gabinete. Estou perguntando seriamente, sob qual autoridade [isso foi feito]?”, disse a Ministra dos Assentamentos Orit Strock, uma das ministras do grupo. O Ministro das Comunicações Shlomo Karhi apelou em resposta a uma “nova liderança de segurança”. Os líderes da oposição Yair Lapid e Avigdor Lieberman também condenaram a libertação do diretor.
Durante sua declaração, Abul Salmiya disse que foi levado ao tribunal três vezes sem nenhuma acusação formal e que foi trocado de prisão para prisão quando esteve sequestrado. O ataque mais brutal ao hospital Al-Shifa aconteceu em 18 de março. A operação durou até o início do mês seguinte, matando centenas de palestinos e devastando a unidade médica. Dezenas de palestinos, entre eles crianças, foram executadas pelas forças israelenses ao redor do hospital. Sem fornecer provas alguma, “Israel” alega que o local era utilizado pela resistência armada Palestina.