Cultura popular

Direita quer Vai-Vai fora do Carnaval por críticas à Polícia

Sindicato de Delegados de Polícia, deputados de direita e governador do Estado de São Paulo atacam e buscam acabar com escola de samba

A escola de samba Vai-Vai, está sendo duramente atacada por representantes da repressão e pela direita devido à forma como retratou a Polícia em seu desfile de carnaval deste ano. O enredo da escola homenageava, entre outras coisas, o hip-hop e, particularmente, o álbum da banda Racionais, lançado em 1997, chamado Sobrevivendo no Inferno. Como o disco trata da questão da repressão policial, lembrando o criminoso massacre do Carandiru, onde morreram, oficialmente, 111 pessoas nas mãos do Batalhão de Choque da Polícia Militar.

Para expressar o caráter assassino dos policiais de São Paulo, a Vai-Vai, retratou-os com uma fantasia que remetia ao próprio demônio. A fantasia colocada nos foliões tinha a farda escura do Choque, o tradicional escudo, o capacete, do qual saíam dois chifres, além de asas com estilo demoníaco, numa coloração semelhante à do fogo, e outros elementos semelhantes. Os fantasiados também portavam um cassetete igual ao utilizado pelos policiais para espancar a população negra e pobre brasileira.

Essa crítica, muito bem colocada e muito oportuna, gerou todo tipo de reações por parte dos criticados. Em meio ao clima de censura e perseguição política que se instaurou ao longo dos últimos anos no país, é evidente que algo desse tipo jamais seria aceito pela direita nacional, que defende que a Polícia possa cometer todo tipo de atrocidades contra a população sem que ninguém possa reagir a isso. O caso do Carandiru é, inclusive, sintomático. Ocorrido há 30 anos, foram assassinadas centenas de pessoas desarmadas dentro da prisão, sem ter para onde correr, numa ação verdadeiramente “demoníaca” e, até hoje, nenhum dos responsáveis foi punido. Muitos foram até inocentados.

Uma das entidades defensoras do genocídio no Brasil que criticou a Vai-Vai foi o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp). A organização emitiu uma nota em que afirma que “demonizaram a Polícia”, o que foi, para eles, “motivo de extrema indignação”. Em uma demonstração de cinismo, eles afirmam que: “o samba enredo afronta as forças de segurança pública, desrespeita e trata, de forma vil e covarde, profissionais abnegados que se dedicam, dia e noite, à proteção da sociedade e ao combate ao crime, muitas vezes, sob condições precárias e adversas, ao custo de suas próprias vidas e famílias”.

A afirmação é ridícula, não se trata, de forma alguma, de pessoas dedicadas à proteção da sociedade. A polícia e os aparatos de repressão nacional são apenas jagunços da burguesia nacional, sua função é perseguir, reprimir e assassinar a população pobre do país. Se há uma abnegação por parte desses profissionais é apenas a de empreender todo o esforço que podem para se submeterem aos interesses da burguesia nacional e martirizar a classe trabalhadora de todo o país. Não são poucos os exemplos de chacinas e massacres promovidos pela Polícia em solo brasileiro.

A nota do sindicato também coloca que “É de se lamentar que o Carnaval seja utilizado para levar ao público mensagem carregada de total inversão de valores e que chega a humilhar os agentes da lei”. É interessante ver que os policiais têm capacidade tão grande de se fazerem de vítimas. Humilhado é o povo pobre brasileiro que, nas mãos de uma das polícias mais assassinas do planeta, é perseguido e atacado a todo momento, vivendo sempre com medo de serem a próxima vítima desse verdadeiro esquadrão da morte oficial que são as polícias brasileiras.

Por fim, como que numa espécie de piada macabra, o Sindicato afirma que os policiais seriam “verdadeiros heróis, que merecem homenagens, reconhecimento e mais respeito por parte da agremiação, para dizer o mínimo”.

O tom de ameaça da nota é inegável e não foi apenas essa instituição que atacou a Escola. Deputados do PL enviaram um ofício ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e ao prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), pedindo que a Vai-Vai não recebesse mais recursos públicos no próximo ano. O próprio Tarcísio afirmou que, se fosse jurado, teria dado “nota zero” para a Vai-Vai.

O deputado Sargento Portugal (Podemos-RJ) também se manifestou, dizendo “Lamentavelmente, vivemos uma sociedade na qual a polícia é desvalorizada e humilhada diariamente. Ao invés de fazerem um desfile mostrando os agentes de segurança pública como heróis, fazem esse escárnio com esses heróis anônimos da sociedade”. Ele completou, afirmando torcer para que a Escola fosse “rebaixada”.

Esse acontecimento só mostra a importância da luta pela liberdade de expressão no país. Com apoio de um setor confuso da esquerda nacional, a censura se estabeleceu em todos os setores. Havendo uma possibilidade real da maior campeã de todas as escolas de samba de São Paulo ficar de fora do próximo Carnaval ou ter sua verba cortada, o que colocaria a existência da própria agremiação em risco.

Nesse sentido, se vê a Vai-Vai e o Carnaval acossados pelos dois lados. Os identitários, infiltrados na própria escola de samba, colocaram uma ridícula crítica ao Borba Gato, atacando a história e a cultura nacional. Além de atacarem duramente o carnaval de rua, afirmando ser um ambiente para o estupro e assédio de mulheres e também julgando e atacando as fantasias utilizadas pela população. Enquanto, por outro lado, a direita reprime as pessoas que pulam o carnaval nas ruas e procuram atacar a própria existência das escolas de samba através da perseguição à Vai-Vai.

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